Confesso que não tenho grande paciência para com Manuel Alegre. Respeito o seu passado de lutador anti-fascista e admiro a sua independência mas isso não impede que avalie negativamente parte do seu trajecto político nos últimos tempos.O meu desconforto começa na altura da candidatura presidencial em que Alegre acabou por cavalgar demagogicamente a onda de descontentamento contra os partidos que grassa na sociedade. Isto vindo de alguém que é militante do PS desde sempre e deputado da República há mais de 30 anos é uma atitude não só incoerente mas também perigosa. Desde então, surgiu a curiosidade de ver o que Alegre iria fazer com o milhão e pico de votos que recebeu. Salvo melhor e mais informada opinião, parece-me que fez muito pouco ou nada, tirando um apoio mesmo assim não tão claro quanto se poderia esperar à candidatura autárquica da sua companheira de route Helena Roseta (outro momento em que também se procurou surfar um pouco a onda anti-partidos).
A sensação com que fico é que Alegre se vai limitando a episodicamente fazer uma ou outra intervenção, sempre sem concretização em termos de apresentação de propostas ou iniciativas legislativas, mas em que a sua notoriedade e a utilização frequente de referências ao espírito de Abril lhe garantem tempo de antena. O único problema é que nos entretantos se vai sentando calmamente nos jantares e eventos do partido ao lado e consequentemente em apoio a Sócrates e continua ainda (e sempre?) a ser militante de um partido com o qual parece presentemente, por inerência das suas próprias palavras, ter pouca ou nenhuma afinidade.
"Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.", a frase com que termina o seu artigo de hoje no Público vive um pouco desta capitalização, talvez mesmo apropriação, que Alegre vai fazendo
da revolução dos cravos. O assunto é pertinente mas a terminologia usada é quanto a mim propositadamente exagerada para garantir o sound bite e alimentar o "mito Alegre", porque convenhamos que se o deputado poeta de facto sentisse a 100% aquilo que diz então o seu caminho só poderia ser deixar o partido ou pelo menos suspender a sua militância.
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