Ele levanta-se e dirige-se à cadeira e pega no casaco. Despede-se com um até daqui a umas semanas e depois como que arrependido olha por cima do ombro e vira-se para mim dizendo que terá de ser da parte da manhã porque de tarde está sempre muito ocupado na escola.
Claro, como quiser, digo eu em tom cordato.
Ele respira fundo como que a tomar balanço para o que aí vem e diz-me que os alunos são impossíveis e baldas e não querem saber de nada.
Humm, murmuro eu em tom cordato.
Ele continua e inevitavelmente acaba por desaguar na ministra que ainda por cima também não ajuda nada. Que felizmente não vai ser avaliado este ano, diz ele, mas que há colegas que sim o vão ser, diz ele, e que veja lá que tem um colega que tem quase 30 anos de serviço e que ao fim de todo este tempo vai ser avaliado e que está naturalmente muito deprimido, diz ele.
Eu ouço com um sorriso cordato porque sou quase sempre um tipo bem educado e porque o acho simpático. Ouço com um sorriso amarelo porque tal como ele também vejo que há aqui um problema. Ouço com um silêncio conveniente porque o problema que ele vê é diametralmente oposto ao problema que eu vejo.