os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

30.11.06

Ron Mueck


Pregnant Woman - 1997 - 2.52 alt. - "Beleza da Maternidade"


Big Man - 1998 - 1.83 alt. - "Solidão Humana"

Escultor Australiano hiper-realista - 1958 - que trabalha sobretudo com fibra de vidro. Excelente ao nível da escolha temática, do detalhe - não fosse ele um "hiper"- , e do controlo de escala.

26.11.06

Rejeição.

Fechou a porta com estrondo e encostou-se a ela como quem procura um abraço ou um ombro amigo. Dentro do peito o coração batia forte e rápido, como se pretendesse escapar daquela prisão, daquela dor, rompendo violento por costelas, esterno, derme e epiderme. Depois de ter cumprido um longo trajecto desde o canto do olho chegou-lhe à boca uma lágrima, solitária e triste, nem doce nem amarga mas sim com um leve travo a salgado. Inevitavelmente lembrou-se do gosto dos lábios dela, uma improvável mistura de limão, canela e maçã. Por mais que pensasse não encontrava resposta para as perguntas que sem descanso lhe martelavam a cabeça: porquê? o que correu mal? onde falhei? porra, será que falhei?
Que não era culpa dele, tinha-lhe dito ela. Que lá bem no fundinho não era culpa de ninguém, que era óbvio que a relação não tinha rumo, não tinha futuro, vivia apenas do passado e estava imóvel, parada no tempo do presente como um velho sentado à beira da estrada a pensar no que já foi, mero espectador da vida dos outros. Que tinha por ele muito carinho, disserá ela sem se aperceber da mais que absoluta crueldade da expressão. Não conseguiu evitar um sorriso, no fundo um esgar de cinismo. Ele que durante anos sempre se fechara em copas, evitando ir a jogo, evitando o terreno minado das relações, tinha atirado o cuidado às urtigas e dado finalmente tudo de si, arrastado num torpor dormente, metade dor metade prazer, enfeitiçado por aqueles enormes olhos de preto azeitona, ao mesmo tempo límpidos e enigmáticos. Incoerências, contrasensos, irracionalidades várias. Os sinais estavam lá, pensava agora enquanto olhava para trás. Como era possível ter sido vaidoso ao ponto de presumir que poderia conter numa redoma toda aquela alegria, aquele sentido de humor e sorriso imparáveis, cheios de promessas, cheios de calor? Tinha-se resumido tudo a uma luta inglória com um final tão previsível que nem sequer se podia dizer surpreendido. Quantas vezes tinha assistido a situações destas, confortavelmente instalado no seu habitual posto de atento observador, seguríssimo no seu papel de ombro amigo para as horas más, fiel porto de abrigo. Onde estava agora toda a confiança, a calma que demonstrava quando arrogantemente aconselhava os outros? Idiota.
As frases feitas, os muitos peixes do mar, o tempo que tudo cura, de que lhe serviam agora, no meio da baba e do ranho? Idiota.
Como um autómato serviu-se de um copo generoso de whisky que tragou com um gole. Bebeu outro e ainda mais outro, numa patética tentativa de conquistar um estado de ausência, um não estado onde tudo aquilo não existisse pelo menos durante um par de horas. Onde ela não existisse. Nem os olhos, nem o sorriso, nem as mamas, nem aquela boca e aquela língua. Deu consigo a masturbar-se, de raiva e de despeito. Só quando se veio, mecanicamente, cansado e banhado em lágrimas, é que constatou que o lhe doía não era estar novamente sozinho. O que lhe doía ao ponto de o queimar por dentro era a profunda certeza de que iria sempre gostar dela.

24.11.06

Notas soltas

1- Uma vantagem competitiva da pátria.
2- Uma estratégia hard-core.
3- Um ataque a um nicho de mercado tradicionalmente reservado às coelhinhas da Playboy.

15.11.06

No meio das pedras e dos chicotes...

De tempos a tempos, contrariando uma visão da mulher que parece comum a grande parte do mundo islâmico (como um mero instrumento de posse, sem direito a escolher com quem casar, o que vestir, onde ou como trabalhar, etc...), lá aparecem umas notícias que, enfim, lançam uma pequena esperança de que o estado actual das coisas não é uma fatalidade inalterável. Será uma mera luz ao fundo do túnel, eventualmente até uma vitoria de Pirro se tivermos em conta as reacções dos partidos religiosos, mas mesmo assim esta iniciativa merece ser saudada.

8.11.06

Perdedores.


O dia de ontem foi marcado pelas eleições americanas, cuja influência é tal que há quem sugira meio a sério meio a brincar que o assunto é importante demais para ser decidido só por eles.
Desta vez não houve milagres de última hora para contrariar as sondagens e os republicanos perderam mesmo a Câmara dos Representantes e provavelmente o Senado.
Não lhes valeu a roda viva em que Bush passou os últimos dias, nem a gafe de John Kerry ou a sentença de Saddam. Não lhes valeu usar o medo como arma eleitoral, nem o recurso a truques pouco edificantes como os negative adds ou até insinuar o suposto anti-patriotismo de alguns democratas (por se atreverem a discordar do rumo seguido no Iraque ou do uso de tortura nos interrogatórios de suspeitos). Não houve voto evangélico salvador.
Visto de fora, nem sequer se pode dizer que o mérito é inteiramente dos democratas mas sim da conjugação entre o crescente número de baixas americanas no Iraque (agravado pela percepção cada vez mais clara de que não há uma estratégia para resolver o futuro do país, quanto mais torná-lo num exemplo de democracia...) e o acumular de escândalos comprometedores envolvendo alguns dos principais elementos do Partido Republicano.

Dá-me vontade de rir as teorias que começam a circular por aí (nos blogues do costume) de que quem está contente com este resultado só pode ser o povo de esquerda que festeja as vitórias de Lula e simpatiza com Castro, Morales ou Chavéz. É tão fácil meter tudo no mesmo saco e brandir a estafada acusação de anti-americanismo primário. Eu, que estou contente porque Bush e a sua doutrina perderam, não aceito esse rótulo.
Pode ser um excesso de optimismo ou até ingenuidade, mas acredito que a partir de 2008 o próximo Presidente (seja ele o republicano McCain ou a democrata Hillary) não cometerá os mesmos erros de Bush, mesmo que a política externa dos EUA se mantenha mais ou menos igual.

7.11.06

Músicas da minha vida (III)

Massive Attack - Teardrop



O videoclip é bom. A música é assombrosa.

2.11.06

À conversa com uma mulher de 70 anos...

A simpática madame, mulher de armas, resistente de muitas batalhas, com uma vida de trabalho de sol a sol no campo e 24 sobre 24 em casa, com uma tolerância à dor de fazer inveja a muito pseudo-macho que por aí anda, afectada por um severo caso de pelosidade malina quer facial quer nos apêndices locomotores, dissertava, daquela forma que só as pessoas verdadeiramente genuínas sabem fazer, sobre a sua relação com o marido.

Contava ela que, mesmo com mais de 50 anos de casamento, ainda se dão muito bem ou melhor sempre se deram bem. Riem-se, ela vai-se metendo com ele porque ele é mais do estilo calado e nunca, mas mesmo nunca discutiram. Nem uma vezinha que fosse. E isto derivado da forma de ser dos dois e da forma como ela foi educada, sendo que teve uma avó que muito lhe ensinou. E deu como exemplo esta pérola que passo a partilhar:
"A minha avó dizia para olhar sempre com atenção para a cara do marido quando ele entrasse em casa. Se vinha chateado, aconselhava-nos a fazer duas coisas: primeiro devíamos encher a boca de água, isto para não correr o risco de dizer algo que o irritasse, e depois devíamos esconder da vista ou pelo menos arrumar para um canto qualquer banquito que houvesse na cozinha, isto para não correr o risco de levar com ele nas costas."

Antes de se ir embora, ainda se ria bem disposta quando disse "ah eu digo estas coisas mas a verdade é que com esta barba tão forte eu podia bem ser homem".
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