os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

30.12.06

Dilema moral


Ser contra a pena de morte e mesmo assim achar que foi feita justiça.

29.12.06

A mais sexy do ano

































A tenista russa Maria Sharapova foi eleita a atleta mais sexy de 2006 pela revista norte-americana Sports Ilustrated... Esta dá "aulas" de ténis à sua colega Kournikova!

23.12.06

A mulher do ano.



Pode até parecer a algumas almas mais sensíveis que há um certo exagero no epíteto atribuído à personagem, mas a realidade é que “Carolina” como agora lhe chamam os portugueses teve um impacto na vida mediática lusitana só comparável ao de um elefante numa loja de porcelana. Façamos, como se impõe, uma curta retrospectiva para melhor contextualizarmos a situação: andava a dita cuja algo perdida entre as danças nos colos e nos varões quando Pinto da Costa, inebriado pelos calores nocturnos e provavelmente sob os efeitos secundários do comprimidinho azul (o melhor amigo do homem a seguir ao cão), se convenceu que aquela gata borralheira trabalhadora e boazinha era a mulher da vida dele, digna inclusivamente de ser apresentada a sua excelentíssima e soleníssima santidade il Papa.
Como sempre acontece nos contos de fadas, tudo correu na santa paz do senhor até que os efeitos do encantamento terminaram e a realidade, nada incomodada com a crueldade que às vezes a caracteriza, interrompeu o idílio amoroso dos improváveis pombinhos. Com direito a capa nas revistas cor-de-rosa e a entrevistas televisivas, veio Carolina com olhinhos de sabujo alemão gritar aqui d’el rei que tinha sido maltratada e mostrar, com estudada pose de mulher indefesa, as nódoas que provavam a negra e vil agressão. Estão as coisas mais ou menos neste pé quando sai do prelo o famoso “Eu, Carolina”, abrindo literalmente a caixa de Pandora. Por entre relatos das liberdades gasosas a que o seu Giorgio se prestava, ficamos também a saber acerca do café e dos chocolatinhos para os árbitros e do rocambolesco episódio do ataque ao vereador Bexiga. Findemos então a retrospectiva, aliás por demais conhecida e assim sendo quiçá desnecessária, e passemos a analisar os dados em questão.

Diz a apostólica e católica Igreja Romana que para um indivíduo alcançar o famigerado estatuto de Santo é forçoso que as competentes entidades especializadas na difícil tarefa da certificação de milagres declarem que tal indivíduo realizou pelo menos 3 destes mais pios dos actos e, dictum e factum, teremos Santo na costa.Pois bem, eu, vil ateu ignorante nos caminhos e desígnios do Senhor e dos seus autorizados representantes, alvitro destemido, deixando à consideração da vossa superior análise que a dita Carolina já fez méritos mais que suficientes para cumprir tão apertado critério. Senão vejamos:
- é ou não um portentoso milagre mudar do estatuto de alternadeira, a gata borralheira, a namorada, a companheira, a noiva, passando novamente a reles rameira e finalmente a dilecta discípula de S. Jorge, matador de dragões?
- é ou não um portentoso milagre transformar em leitores compulsivos milhares de pessoas que anteriormente só exerciam essa capacidade nas legendas de filmes ou rodapé de telejornais?
- é ou não um portentoso milagre devolver, tão de acordo com o espírito da natalícia quadra, a alegria e a esperança a 6 milhões de portugueses?
- é ou não um portentoso milagre conseguir, no meio dos nebulosos meandros da justiça à portuguesa, ressuscitar de uma penada um processo que parecia moribundo?
- e finalmente, é ou não um assombro milagroso digno de divino registo fazer com que o indivíduo que reconheceu ter mandado agredir a apontasse como exemplo da atitude cívica?

Conclua-se à já longa epístola dizendo que Pinto da Costa ignorou sugestivos exemplos como os de Eva, Medeia, Dalila ou Lucrécia Bórgia, avaliou muito mal o perigo do errado manuseamento da dita Carolina e corre agora o sério risco de pagar por esse tão primário dos pecados, curiosamente às mãos de outra mulher.
Esperemos pois, com paciência de Jó, pelas cenas dos próximos capítulos.

21.12.06

Importa-se de repetir?

Paulo Bento a assumir "divórcio" com Carlos Martins:

"Os que querem vir à "guerra", montam-se nas minhas costas... Os que não quiserem, ficam de fora!"

12.12.06

O Pai Natal

Não bastava o pobre do homem morar na Lapónia, que como toda a gente sabe faz fronteira com o cú de judas. Não bastava o frio que por lá se deve rapar. Não bastava a porra da barba sempre suja de molho de rabanadas e com pedaços de filhoses. Não bastava ter como única companhia uma mulher obesa e vestida de encarnado como prenda todos os dias do ano. Não bastava ter 8 renas alcóolicas como animais de estimação e ter como único meio de locomoção um treno velho como a putaça sem cobertura ou aquecimento. Não bastava ter que descer pelas chámines como um ladrão e ter que enfiar a merda das prendas em meias a cheirar a mofo do ano anterior. Não. Tudo isto não bastava.O espírito natalício dos tugas descobriu uma nova e dolorosa forma de castigar o pobre do velho. A moda agora é deixá-lo pendurado nas fachadas dos prédios, preso às varandas e a trepar uma escadinha, sujeito ao frio, à chuva e à neve todo o mês de Dezembro e quiçá até aos Reis.
Olha Pai Natal, aceita o meu conselho e manda-os todos à merda...Não há patrocínio da Coca-Cola que valha tanto sofrimento.

P.S.- isto foi escrito em 16.12.2005, mas como a moda se manteve...

5.12.06

Camarate.

Diga-se que já lá vão 26 anos, 7 ou 8 comissões de inquérito, mais de 10 Governos e 3 Presidentes da República. Diga-se que quer o Ministério Público quer os diferentes tribunais que se pronunciaram sobre o caso concluiram que as provas existentes nem sequer justificavam a realização de um julgamento e que o alegado acto entretanto já prescreveu.
Pouco interessa. Alguns dos nossos políticos, sempre prontos a encher a boca de generalidades como o respeito pela separação de poderes e pela autonomia dos tribunais quando a coisa não lhes toca a eles, não concordam e como acham que se tratou de um crime preparam-se para engendrar uma qualquer solução ad hoc que permita que este caso chegue a julgamento.
Que a genial dupla Marques Mendes - Marques Guedes se saia com esta ideia não é de espantar. Que aquele pavão arrogante chamado Marcelo Rebelo de Sousa não perceba (ou finja não perceber) o perigo desta linha de acção já é mais surpreendente.
Que o PS se prepare para alinhar no jogo torna o assunto um caso bem sério porque dá pernas para andar a esta noção idiota do Parlamento como o verdadeiro Supremo Tribunal.
Assim sendo só resta esperar que Cavaco Silva esteja atento e não deixe passar em claro esta irresponsabilidade. Não será preciso muito esforço, afinal basta uma palavrinha rápida num qualquer discurso.

4.12.06

Sugestões


Um grande livro, daqueles que se tornam difíceis de pousar.
Obrigado J. pelo empréstimo e pela sugestão.




Um bom filme, à lá Scorsese e com um Jack Nicholson fabuloso (a piscar o olho a um novo Óscar?)

30.11.06

Ron Mueck


Pregnant Woman - 1997 - 2.52 alt. - "Beleza da Maternidade"


Big Man - 1998 - 1.83 alt. - "Solidão Humana"

Escultor Australiano hiper-realista - 1958 - que trabalha sobretudo com fibra de vidro. Excelente ao nível da escolha temática, do detalhe - não fosse ele um "hiper"- , e do controlo de escala.

26.11.06

Rejeição.

Fechou a porta com estrondo e encostou-se a ela como quem procura um abraço ou um ombro amigo. Dentro do peito o coração batia forte e rápido, como se pretendesse escapar daquela prisão, daquela dor, rompendo violento por costelas, esterno, derme e epiderme. Depois de ter cumprido um longo trajecto desde o canto do olho chegou-lhe à boca uma lágrima, solitária e triste, nem doce nem amarga mas sim com um leve travo a salgado. Inevitavelmente lembrou-se do gosto dos lábios dela, uma improvável mistura de limão, canela e maçã. Por mais que pensasse não encontrava resposta para as perguntas que sem descanso lhe martelavam a cabeça: porquê? o que correu mal? onde falhei? porra, será que falhei?
Que não era culpa dele, tinha-lhe dito ela. Que lá bem no fundinho não era culpa de ninguém, que era óbvio que a relação não tinha rumo, não tinha futuro, vivia apenas do passado e estava imóvel, parada no tempo do presente como um velho sentado à beira da estrada a pensar no que já foi, mero espectador da vida dos outros. Que tinha por ele muito carinho, disserá ela sem se aperceber da mais que absoluta crueldade da expressão. Não conseguiu evitar um sorriso, no fundo um esgar de cinismo. Ele que durante anos sempre se fechara em copas, evitando ir a jogo, evitando o terreno minado das relações, tinha atirado o cuidado às urtigas e dado finalmente tudo de si, arrastado num torpor dormente, metade dor metade prazer, enfeitiçado por aqueles enormes olhos de preto azeitona, ao mesmo tempo límpidos e enigmáticos. Incoerências, contrasensos, irracionalidades várias. Os sinais estavam lá, pensava agora enquanto olhava para trás. Como era possível ter sido vaidoso ao ponto de presumir que poderia conter numa redoma toda aquela alegria, aquele sentido de humor e sorriso imparáveis, cheios de promessas, cheios de calor? Tinha-se resumido tudo a uma luta inglória com um final tão previsível que nem sequer se podia dizer surpreendido. Quantas vezes tinha assistido a situações destas, confortavelmente instalado no seu habitual posto de atento observador, seguríssimo no seu papel de ombro amigo para as horas más, fiel porto de abrigo. Onde estava agora toda a confiança, a calma que demonstrava quando arrogantemente aconselhava os outros? Idiota.
As frases feitas, os muitos peixes do mar, o tempo que tudo cura, de que lhe serviam agora, no meio da baba e do ranho? Idiota.
Como um autómato serviu-se de um copo generoso de whisky que tragou com um gole. Bebeu outro e ainda mais outro, numa patética tentativa de conquistar um estado de ausência, um não estado onde tudo aquilo não existisse pelo menos durante um par de horas. Onde ela não existisse. Nem os olhos, nem o sorriso, nem as mamas, nem aquela boca e aquela língua. Deu consigo a masturbar-se, de raiva e de despeito. Só quando se veio, mecanicamente, cansado e banhado em lágrimas, é que constatou que o lhe doía não era estar novamente sozinho. O que lhe doía ao ponto de o queimar por dentro era a profunda certeza de que iria sempre gostar dela.

24.11.06

Notas soltas

1- Uma vantagem competitiva da pátria.
2- Uma estratégia hard-core.
3- Um ataque a um nicho de mercado tradicionalmente reservado às coelhinhas da Playboy.

15.11.06

No meio das pedras e dos chicotes...

De tempos a tempos, contrariando uma visão da mulher que parece comum a grande parte do mundo islâmico (como um mero instrumento de posse, sem direito a escolher com quem casar, o que vestir, onde ou como trabalhar, etc...), lá aparecem umas notícias que, enfim, lançam uma pequena esperança de que o estado actual das coisas não é uma fatalidade inalterável. Será uma mera luz ao fundo do túnel, eventualmente até uma vitoria de Pirro se tivermos em conta as reacções dos partidos religiosos, mas mesmo assim esta iniciativa merece ser saudada.

8.11.06

Perdedores.


O dia de ontem foi marcado pelas eleições americanas, cuja influência é tal que há quem sugira meio a sério meio a brincar que o assunto é importante demais para ser decidido só por eles.
Desta vez não houve milagres de última hora para contrariar as sondagens e os republicanos perderam mesmo a Câmara dos Representantes e provavelmente o Senado.
Não lhes valeu a roda viva em que Bush passou os últimos dias, nem a gafe de John Kerry ou a sentença de Saddam. Não lhes valeu usar o medo como arma eleitoral, nem o recurso a truques pouco edificantes como os negative adds ou até insinuar o suposto anti-patriotismo de alguns democratas (por se atreverem a discordar do rumo seguido no Iraque ou do uso de tortura nos interrogatórios de suspeitos). Não houve voto evangélico salvador.
Visto de fora, nem sequer se pode dizer que o mérito é inteiramente dos democratas mas sim da conjugação entre o crescente número de baixas americanas no Iraque (agravado pela percepção cada vez mais clara de que não há uma estratégia para resolver o futuro do país, quanto mais torná-lo num exemplo de democracia...) e o acumular de escândalos comprometedores envolvendo alguns dos principais elementos do Partido Republicano.

Dá-me vontade de rir as teorias que começam a circular por aí (nos blogues do costume) de que quem está contente com este resultado só pode ser o povo de esquerda que festeja as vitórias de Lula e simpatiza com Castro, Morales ou Chavéz. É tão fácil meter tudo no mesmo saco e brandir a estafada acusação de anti-americanismo primário. Eu, que estou contente porque Bush e a sua doutrina perderam, não aceito esse rótulo.
Pode ser um excesso de optimismo ou até ingenuidade, mas acredito que a partir de 2008 o próximo Presidente (seja ele o republicano McCain ou a democrata Hillary) não cometerá os mesmos erros de Bush, mesmo que a política externa dos EUA se mantenha mais ou menos igual.

7.11.06

Músicas da minha vida (III)

Massive Attack - Teardrop



O videoclip é bom. A música é assombrosa.

2.11.06

À conversa com uma mulher de 70 anos...

A simpática madame, mulher de armas, resistente de muitas batalhas, com uma vida de trabalho de sol a sol no campo e 24 sobre 24 em casa, com uma tolerância à dor de fazer inveja a muito pseudo-macho que por aí anda, afectada por um severo caso de pelosidade malina quer facial quer nos apêndices locomotores, dissertava, daquela forma que só as pessoas verdadeiramente genuínas sabem fazer, sobre a sua relação com o marido.

Contava ela que, mesmo com mais de 50 anos de casamento, ainda se dão muito bem ou melhor sempre se deram bem. Riem-se, ela vai-se metendo com ele porque ele é mais do estilo calado e nunca, mas mesmo nunca discutiram. Nem uma vezinha que fosse. E isto derivado da forma de ser dos dois e da forma como ela foi educada, sendo que teve uma avó que muito lhe ensinou. E deu como exemplo esta pérola que passo a partilhar:
"A minha avó dizia para olhar sempre com atenção para a cara do marido quando ele entrasse em casa. Se vinha chateado, aconselhava-nos a fazer duas coisas: primeiro devíamos encher a boca de água, isto para não correr o risco de dizer algo que o irritasse, e depois devíamos esconder da vista ou pelo menos arrumar para um canto qualquer banquito que houvesse na cozinha, isto para não correr o risco de levar com ele nas costas."

Antes de se ir embora, ainda se ria bem disposta quando disse "ah eu digo estas coisas mas a verdade é que com esta barba tão forte eu podia bem ser homem".

29.10.06

Mais valia terem estado quietinhos...

Gosto do Gato Fedorento. Sketches como o da claque de futebol, o do tipo “o que tu queres sei eu”, o do cunami ou mesmo o rap dos matarruanos são momentos de puro génio e ficarão para a história do humor em Portugal.
Assim sendo, foi com grande expectativa que me preparei para assistir ao 1º episódio da nova série “Diz que é uma espécie de Magazine”.
Bom, num esforço para ser meigo na apreciação diria que foi assim uma espécie de acto falhado ou se preferirem uma espécie de valente trampa, só se salvando os poucos sketches (especialmente o calceteiro lisboeta e o Salazar).
O modelo dos 4 sempre em palco encadeando uma série de piadas mal alinhavadas tipo papagaios ensaiados é um bocejo só e o que dizer então do público ao vivo? Se era para isto mais valia terem ido para o Levanta-te e Ri. Já a participação de figuras convidadas (neste caso os Da Weasel) para servir de introdução a mais sequências de piadas forçadas e obrigatórios risos enlatados da audiência, é uma ideia que remete quase para o programa do Herman, o que como se compreende não é positivo.
Volta Lopes da Silva…?

27.10.06

Seinfeld

"People don't turn down money.
It's what separates us from the animals."

23.10.06

Músicas da minha vida (II)

10 000 Maniacs - these are days




Porque por mais que viva esta música estará sempre associada à minha melhor amiga e a um momento muito feliz.
Como diz o outro, não se ama alguém que não ouve a mesma canção.

20.10.06

Músicas da minha vida (I)

Podia ter selecciondo outras músicas fabulosas, como L.A. Woman, Love Street, Break on Trough, etc... Podia até ter posto a tocar o mítico Roadhouse Blues, mas a verdade é que mesmo no início dos anos 90, quando ouvir Doors era para mim um vício diário quase compulsivo, fiquei algo saturado porque não havia discoteca ou rádio que não a passasse sempre, como que ignorando todas as outras.

19.10.06

Aborto. Ou IVG. Ou desmancho.

Preâmbulo
Hoje, 19 de Outubro do ano da graça de 2006, voltou a discutir-se o aborto na Assembleia da República. Aprovada a proposta do PS, rezam as crónicas que o referendo será lá para finais de Janeiro ou inícios de Fevereiro.

Raramente vi nos últimos anos um qualquer tema ser discutido duma forma tão apaixonada e, talvez por isso, tão repleta de imbecilidades várias como este tem sido.
Desde as mulheres que solenes, altivas e autoritárias entendem mostrar o ventre com um “aqui mando eu” escrito, aos manifestantes ditos pró-vida que as classificam como assassinas e usam para dar maior dramatismo à acusação fotos de fetos com muitos meses como se tivessem algumas semanas. Sem esquecer aqueles que acham que tudo está bem assim, leia-se as ricas vão fazer o “serviço” travestido de viagem de compras a Londres e as pobres e remediadas ficam-se pelos vãos de escada mais próximos.
Movimentos ditos pró-aborto, movimentos ditos pró-vida, no fundo tudo faces do mesmo maniqueísmo primário, cada qual invocando supostos direitos e supostas superioridades ético-morais, numa amálgama mal alinhavada de conceitos científicos, religiosos e sociais.

Desde que o mundo é mundo sempre existiu o aborto. Através do recurso a rezas, responsos, ervas, chás, comprimidos ou actos cirúrgicos, as técnicas de desmanchos foram-se modernizando, a par e passo com os progressos da ciência e os ditames das diferentes sociedades. A verdade é que independentemente da vontade de legislar e de regular a interrupção voluntária da gravidez, esta será sempre um acto profundamente individual (com ou sem apoio do parceiro) mas mesmo assim individual e até solitário. Sendo pragmático, diga-se que não se pode obrigar nenhuma mulher a levar uma gravidez não desejada ao seu termo tal como não se pode obrigar a uma interrupção da mesma.
Dizem alguns que a questão está na (irrespondível) premissa do “onde começa a vida”. No óvulo? No espermatozóide? Às 10 semanas? Às 16? Ou talvez só quando o feto adquire capacidade para ser viável no mundo exterior? Cientificamente falando acho lógica a conclusão de que a vida, tal como a conhecemos e aceitamos, começa com a formação do Sistema Nervoso Central, com uma mesmo que leve noção da existência duma consciência, da percepção do Eu ou até da capacidade de sentir dor. Como dizia outro dia o Albino Aroso, isto é razoável porque é exactamente o raciocínio que aplicamos para decretar a morte em casos duvidosos: há vida enquanto há algum tipo de actividade cerebral.
De qualquer forma não me parece que a questão seja esta, ou muito menos se as mulheres são ou não levadas a julgamento. Chamem-lhe crime, pecado ou direito, um aborto é algo profundamente indesejável tanto para uma só mulher como para a sociedade enquanto um todo. Julgo que a ninguém no seu perfeito juízo pode ocorrer usar a IVG de forma leviana ou como sistema de controlo de natalidade. Dito isto, chegamos aquele que é para mim o cerne da questão. Nem pílulas nem preservativos nem DIU’s nem coitos interrompidos ou métodos de medição de temperaturas garantem 100% de eficácia. Assim sendo, as pílulas do dia seguinte ou mesmo os abortos serão sempre uma realidade independentemente da lei, da religião, da moralidade, consciência social vigente ou até do país em que se viva. Como a decisão será sempre individual, então o drama é que um aborto possa ocorrer de forma clandestina, suja e perigosa, tanto do ponto de vista da saúde física como da saúde psicológica da mulher. Encaremos assim a questão de frente, para que quando uma mulher estiver na dúvida sobre o que fazer possa ter um acompanhamento médico, psicológico e social para apoiar qualquer decisão que ela vier a tomar (IVG, dar o bebé para adopção ou tentar criá-lo). É preferível, ou melhor, é necessário que tudo isto se passe à luz do dia, com profissionalismo, compaixão, informação e segurança.
Se sou a favor da vida? Claro (quem não é?).
Se punha algum dia em hipótese, dependendo do contexto, sugerir à minha parceira um aborto? Posso facilmente escrever um rotundo não, mas é mais real dizer que não sei.
Se acho que um aborto só deve ser encarado como uma solução de último recurso? Sim.

Se vou votar a favor da despenalização do aborto (e contra a clandestinidade e alguma hipocrisia)? Sim.

12.10.06

11.10.06

Lei das Finanças Locais




Qualquer medida que suscite a oposição destes 2 indivíduos merece o meu total acordo. Com direito a ser aplaudida de pé.

9.10.06

Em Lisboa, no dia 7 do 7 de 2007

...serão anunciadas as Novas 7 Maravilhas do Mundo.
A New7Wonders Foundation, criada pelo suíço Bernard Weber em 2001, dedica-se à divulgação e preservação de monumentos mundiais e 2 200 anos depois da eleição das 7 maravilhas do Mundo Antigo, propôs-se organizar uma nova escolha desse género.
A votação é aberta a todos os cidadãos do mundo, podendo ser feita por telefone ou pela net.

Há 21 monumentos seleccionados (desconheço quem os escolheu e os critérios seguidos), incluindo alguns cuja presença é muito discutível, mas a verdade é que não é nada fácil escolher apenas sete.
Fica o desafio e já agora a escolha que fiz (a ordem é aleatória...):
-Grande Muralha da China
-Pirâmides de Gizé
-Coliseu Roma
-Torre Eiffel
-Petra
-Pirâmide Chichén Itza
-Acrópole Atenas

8.10.06

De tanto ouvir acabei por acreditar...

Não sei se tem sido todos os dias assim, mas na passada 6ª feira quando me deslocava bem cedo para terras transmontanas tive que ouvir a TSF anunciar, vezes sem conta, uma contratação de "peso" para as manhãs de 2ª feira às 8h30 para uma rúbrica chamada "Linha da frente"... O que vos digo é que ainda bem que a essa hora nesse dia já estou a trabalhar... Não terei de gramar o chorrilho de "escovas de pêlo macio & graxas" a que esse senhor nos habituou.

Visto de outro ângulo, como ele já perdeu tudo o que havia para perder, agora pode tentar adoptar um estilo mais "escovas de pregos & limas" tipo V.P.V.

Acreditem que estive mesmo para ligar à TSF a perguntar se era eu que andava assim tão desorientado e já estavamos no 1º de Abril...

2.10.06

ADSE.

-Li há algumas semanas na coluna de opinião que Vital Moreira mantém no Público um artigo (sem link) em que este se insurgia contra o enorme buraco nas contas da ADSE, propondo como solução mais justa o fim deste sistema de assistência (ou em alternativa um aumento nas contribuições dos seus beneficiários directos que permitisse tornar a ADSE auto-suficiente).

-O Governo veio há dias anunciar esses mesmos aumentos (de 1 para 1,5% para os funcionários no activo) e a novidade dos trabalhadores já reformados também contribuirem. Parece pouco e provavelmente não evitará que as contas da ADSE continuem no vermelho, mas é um passo justo na mais que lógica harmonização do sector público e privado.

-Depois de anos a levar com a retórica da direita (supostamente mais liberal) acerca do excessivo peso do Estado, acerca da sua autofagia só para se manter a funcionar, confesso que é com alguma incredulidade que ouvi Marques Mendes criticar esta medida. Como se isto não fosse suficiente, ainda tive hoje o duvidoso privilégio de ler Luís Delgado a qualificar esta medida governamental como uma "taxa injusta e inédita em termos de justificação."

Ora meus amigos, se um governo PS e um colunista ex-PCP são o expoente liberal da sociedade e o PSD e um colunista pró-direita, pró-Santana, pró-Bush, etc... ficam do mesmo lado da barricada que Carvalho da Silva ou Bettencour Picanço, então há que dizer que o mundo está mesmo ao contrário.

28.9.06

Quando o tédio ataca...

Hoje ouvi na rádio que a cada segundo que passa nasce um blog novo no mundo.
Pensei que a cada segundo que passa haverá também nascimentos, mortes, casamentos, divórcios, baptizados, bar mitzvahs, agressões, assaltos, beijos e orgasmos.
Talvez um dez enfim cem mosquitos que morrem espalmados num qualquer pára-brisas automóvel.
A cada segundo que passa nasce então um blog novo no mundo, ou num fraseamento talvez mais correcto, um mundo novo num blog. Teremos assim tanto para dizer? Tantas opiniões diferentes sobre as mesmas coisas? Será que, no meio deste infinito mar de gente que acha que tem algo para dizer, haverá ainda alguém verdadeiramente disponível para ouvir?
Será só um entretém, um passatempo, vá lá um hobbie como agora se diz. Servirá como válvula de escape. Talvez enquanto andamos neste corropio de posts, links e comentários, neste círculo vicioso, nestas voltas de 360 graus, não nos sobre tempo para parar e para pensar por exemplo na porra de dia que tivemos, ou na vontade que temos de (nem que seja por breves instantes) ser outra coisa qualquer, desde que diferente, desde que não esta mesma coisa de sempre.
Ser gaja em vez de gajo, velho em vez de novo ou de meia idade, bêbado em vez de sóbrio, sei lá bem, trolha como o ambrósio da areosa.

Ignorem o teor pseudo melancólico-revoltado das linhas anteriores. A realidade, nua e crua como aliás deve ser sempre, é que há dias que não deviam nascer. Dias que têm mais horas que os outros, dias em que os segundos demoram minutos a passar.

A cada segundo que passa nasce um blog novo no mundo.
Bem-vindo.

06.10.02 21.15


Quem me acompanha?


Não se desculpem com: filhos embirrentos, mulheres possessivas, namoradas ciumentas, passeios do cão, trabalhos inadiáveis, problemas gástricos, luas de mel prolongadas, indisposições de última hora, idas ou vindas do dentista, viagens longas, preços dos bilhetes, furos nos pneus, pressões da arbitragem, condições climatéricas, estado do relvado, ah e tal,...

27.9.06

Actualidades.

- A intenção do governo de instituir taxas moderadoras por acto cirúrgico ou dia de internamento é um erro (contrariamente às taxas de acesso às urgências), pois implica pagamentos por actos que não decorrem por inteiro da vontade do paciente mas sim de decisões médicas. Para aqueles de vós que aceitam o princípio do utilizador/pagador como justificação para esta medida, diria que a este ritmo, e sendo fiel à lógica da coisa, tudo o que é tendencialmente gratuito será pago, o que quanto mais não seja me deixa a pensar porque raio pagamos impostos.
- Não votei em Cavaco Silva, mas reconheço sem dificuldade (e já agora sem surpresa) que a sua acção nestes primeiros 6 meses tem sido globalmente positiva. Ontem, na sua primeira visita de estado, e contrariando a prática política instituída de debitar generalidades e fugir a temas polémicos, CS discursou no senado espanhol e protestou contra o evidente proteccionismo económico que grassa daquele lado da fronteira. É duvidoso que sirva de alguma coisa, mas teve o mérito de mostrar que o homem pelo menos tem cojones.

22.9.06

granítico!

a força dos novos Templos pagãos - em construção

21.9.06

Crenças.

Não acredito no destino. Não acredito que a cronologia e sequência dos acontecimentos em que participamos já esteja previamente escrita num qualquer sítio, seja este o paraíso bem lá acima das mais altas das nuvens ou as profundezas malinas dos quintos dos infernos.
Como explicar então tantos acasos e coincidências, tantos encontros e desencontros às vezes tão improváveis que lá surge o destino, inevitável como ele só, como única explicação satisfatória?
Acho que somos exactamente como moléculas num espaço fechado,
orbitamos,
circulamos,
cirandamos,
e de repente zás trás pás
lá batemos uns nos outros.
Demasiado prosaico? Talvez sim.
Talvez já estivesse determinado que eu iria um dia escrever este post.
Talvez seja mesmo verdade que "quem tem de morrer de um tiro não morre de uma facada".

Pois é!


20.9.06

Burka, séc.XXI

Ou uma nova tentativa de aproximar Ocidente e Oriente.

nova Fé ou...

três pequenas reflexões e uma distracção horizontal

Impedimentos.

Intróito.
Outro dia tive o duvidoso privilégio de ver aquele senhor que guarda o seu dinheiro na conta de um sobrinho taxista na Suiça a reagir a uma notícia do novo semanário Sol, que dava conta dos seus continuados problemas com a justiça. Disse o energúmeno que o referido jornal é um pasquim dirigido por amigos do Dr. Marques Mendes, que têm por objectivo transformar este último em Primeiro-Ministro.
Fim do intróito.

Uma das coisas que melhor diferencia uma democracia de um regime anárquico é a existência de regras, de limites que visam impedir/regular determinados comportamentos.
Uma dessas regras estipula que um cidadão só se pode candidatar à Presidência da República depois de atingir os 35 anos de idade. Ora, pensando em Marques Mendes, ocorre-me num cínico acesso de descriminação avulsa que um tipo para ser Primeiro-Ministro devia obrigatoriamente ter mais que 1,70. Na mesma linha de raciocínio, e por uma questão de boa representação do país, devia estar consagrada na lei a obrigação das nossas atletas andarem sempre bem depiladas (tudo para evitar que mais crianças se vejam traumatizadas para todo o sempre com imagens como os sovacos peludíssimos da Rosa Mota ou o viçoso buço alourado da Fernanda Ribeiro).
Continuando, e assim ao correr da pena, sugiro que:
, tipos como o Castelo Branco deviam ser impedidos de sair do país ou de regressar caso já estivessem lá fora
, o Luís Represas seja terminantemente proibido de gravar mais músicas e de cantar novamente "A próxima vez"
, cidadãos com o nome de Armando Vara, Santana Lopes ou Joaquim Pina Moura se vejam impedidos de exercer na função pública
, toda a discografia infantil da Ana Malhoa seja apreendida e queimada, de preferência em conjunto com as suas tangas à leopardo
, indivíduos com bigode não possam comer sopa em público
, seja proibido aos homens a possibilidade de usarem t-shirts caviadas.

19.9.06

La Haine - Mathieu Kassovitz


"C´est une histoire de une societé qui tombe."

É a história de um homem que se atira do 10 º andar.
Durante a descida vai passando pelos diversos andares, e vai dizendo -"até aqui tudo bem, até aqui tudo bem."

O importante não é a queda é a aterragem.

18.9.06

O valor das palavras.

Hoje ouvi um tipo na rádio (um daqueles em que o título académico já quase faz parte do nome próprio) contar uma história em que entre outras coisas se ficou a saber que a sua nora o trata por tio. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. O tio isto, o tio aquilo. Confesso que não compreendo. Aliás da mesma forma que não compreendo que por exemplo alguém possa chamar pai e mãe aos sogros ou até filho/filha a um genro ou nora, por mais que se goste dessa pessoa.
Talvez porque sinto, lá bem no fundinho daquelas células onde se sentem os sentimentos mais profundos, que há palavras que têm muita força, palavras que representam algo ou alguém único e insubstituível. Diz a cantilena que mãe é a maior palavra pequena que o mundo tem. Diz a sabedoria popular que mãe há só uma e que tem uma mãe tem tudo. O mesmo se aplica à utilização da palavra pai ou mesmo da palavra filho/a. Para mim são termos que representam não só ligações biológicas e laços familiares mas fundamentalmente afectos, carinhos, paixões mesmo. Não tem nada de banal ou de corriqueiro e não deviam portanto estar ao sabor dos usos e formalismos do jet-set ou das convenções e contextos sociais. Nem na foz do Porto nem na linha de Cascais.

P.S.- Acabei de reler o que escrevi. Não pretendo armar-me em polícia da linguagem ou fiscal das relações dos outros, mas a verdade é que isto me eriça um bocado os pêlos, a mim, tripeiro criado no hábito do tu (e não do você) e ensinado a chamar os bois pelos nomes.

17.9.06

...




De há uns anos para cá os grandes estúdios de Hollywood re-descobriram o filão das adaptações de comics.
Superman voltou agora mas na realidade já tem umas décadas, tal como Batman. Mais recentemente surgiram os X-Men, o Homem-Aranha, o Quarteto Fantástico e até o menos conhecido Spawn. De todas estes projectos aquele que foi para mim mais surpreendente quer pela qualidade do filme quer pela dificuldade da adaptação foi Sin City, a genial obra de Frank Miller (tal como disse aqui e para quem ainda não conhece, aconselho o filme e especialmente os livros).
Ontem tive oportunidade de ver este V for Vendetta, baseado numa série de banda desenhada (que infelizmente nunca li) criada por um tipo chamado Alan Moore.
A acção tem lugar numa Inglaterra futurista governada por um tirano autoritário, que usa a tecnologia para controlar a população e o medo para a manter submissa. Tudo assumidamente inspirado portanto no 1984 de George Orwell.
É impossível ver a forma como as liberdades individuais estão aqui limitadas em nome da segurança contra o terrorismo e não relacionar com o contexto actual (e futuro...) da nossa própria realidade. Acrescente-se a tudo isto actores como Natalie Portman e Stephen Rea, e uma produção a cargo dos irmãos Wachowski (o nome não me era estranho mas tive que ir pesquisar para confirmar que são mesmo os da trilogia Matrix) e temos um filme a não perder
(cujo único ponto negativo é a ausência de quaisquer extras na versão de aluguer).
Fica a sugestão.

11.9.06

U.S.Open - versão "dáma"



"Faço um sentido apelo para que alguém poste uma foto de gajas." "Testosterona, inteligência e humor" e depois pões o Federer... ...óh balha-nos deus!

Senhoras e Senhores... Maria Sharapova

o elogio da loucura









Avenida dos Aliados - Porto
antes e depois

O desportista do ano...

Há poucas horas...



Bem sei que ainda estamos em Setembro. Bem sei que há outros desportos em que vamos assistindo a desempenhos fabulosos. Sei tudo isso, mas mesmo assim permitam-me voltar a falar de Roger Federer.
Não tenho dúvidas que tal como vemos hoje muita gente a falar de homens como Pélé, Fangio, Wilt Chamberlain, Muhamad Ali, etc..., por terem marcado uma era em cada uma das suas áreas, daqui a muitos anos hão-de estar na berlinda tipos como Maradona, Jordan, Tiger, Schumacher, etc...
Na minha modalidade, eu que cresci de raquete na mão, ainda hoje se fala de Laver e de Borg. Daqui a 50 anos nomes como Sampras e Agassi vão também certamente fazer parte desta lista de nomes míticos, mas ainda assim é preciso deixar bem claro que aquilo a que temos assistido nos últimos 3 anos é algo que ultrapassa tudo o que está para trás.
Com apenas 25 anos, Federer já tem 9 títulos do Grand Slam (4 Wimbledon, 3 US Open, 2 Australian Open). Hoje tornou-se o único homem na história do ténis a ganhar Wimbledon e o US Open 3 anos seguidos. Igualou (para já...) o recorde de Ivan Lendl ao atingir 10 meias-finais consecutivas em grand-slam's e já vai com 6 finais seguidas. Das 10 vezes em que atingiu a final de um destes 4 míticos torneios ganhou nada mais nada menos que 9, só tendo perdido este ano em Roland Garros (o único que lhe escapa...) para Rafael Nadal. Como se isto não fosse suficiente, acrescente-se ainda que já ganhou torneios das Masters series em todas as diferentes superfícies, que é o indiscutível número um dos 3 últimos anos, que já é considerado por quase todos como o melhor tenista de sempre e que fora dos courts é um dos tipos mais simpáticos do circuito profissional.
Tudo isto naquela que é provavelmente a modalidade individual mais competiviva que existe, tão exigente do ponto de vista físico como qualquer outra e talvez acima de todas em termos mentais. Sem ajudas de companheiros para disfarçar um dia mau, nem de decisões arbitrais que possam alterar o vencedor de um qualquer jogo.
Perdoem-me o entusiasmo quase infantil, o talvez dispensável resumo que fiz do curriculum do homem e o exagerado desfiar de elogios, mas isto é (na inimitável expressão inglesa) history in the making.

7.9.06

Crónicas de uma paixão...e demais histórias associadas.

Confesso que tenho alguma dificuldade em lembrar-me da minha primeira vez. Não porque tenha corrido especialmente mal ou já agora especialmente bem, mas sim porque foi há muito tempo. Foi numa altura em que os bigodes, daqueles farfalhudos sempre com restos de sopa a morar nos cantos, ainda estavam na moda, em que o Carlos Cruz era só o apresentador do 1,2,3 com a sua inesquecível bota botilde, em que ainda havia escudos e em que tínhamos de vencer filas de carros à espera dos controlos fronteiriços quando íamos comprar caramelos a Espanha,
daqueles que se colavam de forma malina ao dentes e ao céu da boca.
Julgo que tudo começou em S. Pedro de Moel, rodeado por pais e tios e primos e avós, mas confesso que àparte um incidente que envolveu a minha avó, as minhas partes pudendas e uma panela de sopa a ferver, tudo o resto está envolto em névoa. Mais tarde recordo umas curtas idas a Esmoriz, com o seu belo ringue de futebol e a sua mosquitada mal intencionada, mas fora estes dois casos não tenho memórias muito vivas do início do meu percurso como campista.

Salto, assim sendo, para os meus 16 anos e para a 1ª experiência de férias só com amigos. O local escolhido, porque terá sido?, foi a então pacata vila alentejana da Zambujeira do Mar, à qual só chegávamos depois de uma aparentemente interminável viagem de autocarro Porto-Lisboa-Zambujeira. A bela da camioneta despejáva-nos na praça central e lá zarpávamos nós, estranha e desorganizada caravana de camelos carregados como mulas a arrastar, na marra e na garra próprias da inconsciência e inconstância da tenra idade, malas, tendas e até almofadas (??), nessa curta rota de 1,5 Km de alcatrão que nos separava do el-dorado, que nesta história tomava a forma de um bastante reles parque de campismo. Como se alguém se tivesse sentado um dia à sua secretária e querido acrescentar drama a esta película de série B ou talvez testar de alguma forma as teorias darwinianas, diga-se ainda que a camioneta chegava às 21h45m e a recepção do camping fechava às 22h. Depois da correria, e conseguida a tão almejada admissão no parque, as tendas eram montadas no meio do breu, com pedras a servir de martelos, mas nunca sem que antes nos envolvéssemos na eterna discussão o sol põe-se além logo nasce acolá consequente para ter sombra este local é bom e aquele é mau vê-se logo que tu não percebes bolha desta merda. Invariavelmente tínhamos logo no dia seguinte o duvidoso privilégio de constatar que de facto os adolescentes acneicos percebem muito pouco de pontos cardeais e órbitas solares. Sem colchões de jeito, as noites eram passadas a experimentar cuidada e demoradamente todas as irregularidades e calhaus do solo alentejano. Dessa 1ª experiência guardo a rotina das rondas nocturnas pelos bares da vila e da obrigatória passagem final pelo Clube da Praia. Alcoolizados mas quase sempre felizes, voltávamos às tantas para o parque mas antes do descanso dos guerreiros havia ainda tempo e vontade para jogar umas memoráveis cartadas, quase sempre King, sentados nas estradas do parque sob as ténues mas fiéis luzes de lampiões tristes e sós. Para lá do normal correr atrás de rabos de saias, em que uns privilegiavam a fauna local e outros atacavam as estranjas, à lá Camarinha destemido, (diga-se a talho de foice que a maior parte das caçadas acabava com a fuga inglória da presa), o que mais recordo é a fome que passávamos. Mais dados à bola e demais actividades testosterónicas, praticamente nenhum de nós tinha aproveitado a vontade de ensinar culinária básica à prole que anima todas as mães. Assim sendo, a ementa diária ia de sandes de atum àquelas refeições pré-cozinhadas (por mais que viva não mais esquecerei o esforço sobre-humano que foi engolir o conteúdo de uma latinha de dobrada fria), porque o dinheiro era pouco, à justa para pagar viagens, parque e bebidas. Não posso assegurar em que dia foi, 3º?, 4º?, mas uma tarde em que estávamos estendidos na praia, meio ressacados e literalmente com o estômago colado às costas, o JB e eu decidimos subir aquela longa escadaria, ir à primeira esplanada, mandar a lógica económica às urtigas e investir tudo numa refeição. Sentámo-nos, escolhemos, e preparávamo-nos para fazer a via sacra da espera pela comida, quando o tipo que estava duas mesas ao lado se levantou e foi embora, deixando bem no centro da mesa metade de uma dose de batatas fritas. Mudos mas atentos, tivemos os dois o mesmo instinto, animal, primário, tão velho quanto o Homem, e quando o rapaz passou por nós com o intuito de levar os restos da dose de batatas para dentro, a fome venceu facilmente a vergonha e os pruridos higiénicos. Fosse pelo invulgar da situação ou simplesmente por ter percebido o nosso desespero, a verdade é que ele se limitou a esboçar um largo sorriso e sem dizer nada lá pousou os restos meio comidos daquelas maravilhosas french fries, um manjar como poucos tive desde então.
Lembro-me ainda do meu espanto inicial sempre que alguém com quem entabulava uma conversa me dizia logo ah mas tu és do Porto. De vez em quando, como é próprio destas idades, os bacocos orgulhos regionais vinham ao de cima e lá nos envolvíamos em disputas verbais com malta de Lisboa, que acabavam com um desafinado coro de vozes a cantar ao desafio o Cheira bem, cheira a Lisboa e o Porto Sentido. Para os anais da história ficou também um célebre jantar no Casino da Ursa, julgo que já no 2º ano de acampamentos, passado a ver uma final da supertaça Porto-Benfica. Mesmo com a casa cheia e a deitar por fora, a nossa mesa era a única de portistas, e à medida que o dramatismo do jogo ia subindo as picardias aumentavam de tom, em paralelo com o correr das canecas de vinhaça da casa. Depois de um empate, a 2?, chegou-se aos penalties. Tendo começado a perder, o Pinto da Costa agarrou-se ao crucifixo e à imagem da Santa, ajoelhou-se na relva e por entre rezas de uns e lágrimas de outros lá acabámos por dar a volta à coisa e ganhar o caneco (a algazarra que se seguiu foi de tal ordem que fomos expulsos por um proprietário, com evidente dor de cotovelo).

continua...

4.9.06

o efeito Makelele...


Ora digam lá Raymond Domenech, com água na boca.

???


Não sou especialista de marketing. Aliás, diria mesmo que olho para este assunto como um boi para um palácio, mas há coisas difíceis de entender. Pode ser politicamente incorrecto, mas a verdade é que a contradição é tão grande que se torna complicado ouvir o que o homem tem a dizer.

Estão a matar a bola...

O caos em que vai vivendo o nosso futebol é tão parecido com um circo e os diferentes protagonistas parecem tão obstinados em se comportarem como palhaços que até um gajo como eu, fanático desde o berço pelo chamado desporto-rei, começa a estar saturado e diria mesmo, heresia das heresias, com uma preocupante falta de vontade para prestar atenção ao jogo em si.
Posto isto, e como forma de evitar perder demasiado tempo com isto, limito-me a sugerir aos interessados sobre o Caso Mateus que consultem posts e comentários neste blog amigo .
Quanto ao resto não resisto a linkar este artigo sobre o novo e tantas vezes auto-proclamado campeão da seriedade, moral e bons costumes do nosso futebol, e este outro artigo sobre o velho e aparentemente eterno rosto do sistema, propalado campeão do jogo sujo e da trapaça, enfim responsável-mor pela corrupção no nosso futebol.
Depois de tentar provar que o Porto de Mourinho, vencedor da UEFA e da Champions, necessitava de comprar as arbitragens para levar de vencida adversários como o Estrela e o Beira-Mar, com o campeonato quase matematicamente assegurado, o que resta agora ao Ministério Público? Emitir um comunicado dizendo que não tem dúvidas que o Jorge Nuno é corrupto, mas infelizmente, por estupidez ou incompetência, não é capaz de o provar. É que já não há paciência para ver arrastar durante anos a fio o nome do homem como arguido e depois concluirem não ter matéria para avançar. Para isso, já chegavam os últimos 20 anos de conversas de café por esse país fora.

31.8.06

o (Out)dependente


Não tendo conseguido encontrar um novo investidor, oIndependente sai amanhã pela última vez. O jornal que chegou a ser referência de uma geração, foi lançado pela primeira vez em 1988, sob a direcção de Miguel Esteves Cardoso, e chegou a vender perto de 100 mil exemplares, no início da década de 90.

Embora, este seja o desencadear lógico das leis de mercado, assentes em permissas em que a qualidade é quase sempre relegada para um plano inferior; não posso deixar de fazer notar que O Independente já há muito se encontrava moribundo, quase que a pedir a eutanásia.

Who Killed The Newspaper?

Outro artigo que recomendo do The Economist. É interessante verificar que as dificuldades por que passam alguns títulos nacionais (por exemplo o Público) tem raízes semelhantes às de muitas outras publicações internacionais.

29.8.06



...porque às vezes os líquidos não obedecem às leis da natureza e não se limitam a descer no sentido do plano inclinado. Às vezes, mas só às vezes, outras forças mandam mais.

Por exemplo, a electricidade estática à superfície da epiderme, ou a orientação dos folículos que são o casulo onde moram os pêlos. Pode até, o causador da irregularidade, ser um músculo que se contrai num dado momento mais ou menos inesperado ou até um simples arrepio, mesmo que leve, mesmo que muito breve.

Às vezes, poucas ou nenhumas vezes, os líquidos fartam-se da previsibilidade do seu comportamento, não por causas que a física, a dinâmica ou outras ciências humanas possam explicar mas apenas e só porque sim. Porque até uma gota de água tem direito a ter um simples momento de espontaneidade, mera satisfação de um capricho ou vontade.

28.8.06

m.a.s.L.*


*movimento de apoio à subida do Leixões.

por causa dos ataques elitistas, respostas acéfalas, certezas prepotentes e incontinências verbais entre dois dos clubes envolvidos, parece-me que é o Grande Leixões que, por decreto de lei aprovado em conselho de ministros, deveria jogar entre os maiores. A humildade e a educação dos "senhores dos mares", mostra de facto, quem sabe estar no futebol.

Filosofia de Verão, na praia.

Não há nada mais ridículo que um homem a jogar futebol de tanga.

27.8.06

Rentré...


... após um Verão escaldante e farto!

20.8.06

simplesmente V.B.


É só,... o jogador no activo com mais títulos ganhos, entre os quais se contam a liga dos Campeões, Taça das Taças, Taça UEFA e Taça Intercontinental ( e desde ontem, mais uma super-taça portuguesa). Icôn de uma geração. Jogando sempre ao mais alto nível, nunca se deixou deslumbrar com os títulos, fama ou dinheiro, tendo inclusivamente criado uma fundação com preocupações filantrópicas.

Aos mais diversos ataques que foi sofrendo ao longo da sua Longa carreira, orquestrados, quer por teóricos complexados e invejosos, quer por colegas (e selecionador) eticamente desonestos; respondeu sempre com educação, desportivismo e sobretudo elegância. Atitude que só está ao alcance de um verdadeiro Campeão, dentro e fora dos relvados.

Agora, comparar o Grande VÍTOR BAÍA com um outro guarda-redes português que tem o cognome de "labregas"; parece-me que é estar a confundir a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras.

15.8.06

Wolve Domus Projectum



uns, tentam fugir da Agonia de Nossa Senhora, em terras da filigrana, rendas e bolas (de berlim) do Natário, preparando-se para rumar ao sul e encalhar durante 7 marés vazas numa poética casa de um Capitão;

outros, partem para norte em busca dos inacreditáveis tons da aurora bureal, entre fiordes e cardumes de bacalhaus;

há ainda os que ficam por cá a lamentarem-se de continuar por cá. Mas esses, que também hão de partir para outras latitudes, desejam-vos umas GRANDES FÉRIAS.

- Wolve, esta foto-montagem é só para ficarem com uma ideia. Foi feita ao som da "banda Eva" ?!?! . ABRAÇO.




14.8.06

Nem de propósito...

Lembrando-me de uma frase do post anterior...
Detesto ter razão nestes assuntos... Revolta-me este desperdiçar de valores!...

10.8.06

Sobre o Sucessor...

Continuando no tema Futebol Clube do Porto, hoje já vi nomes como Carlos Queiroz, Pekerman e Camacho serem sugeridos.

Há dois anos atrás eu era já da opinião que sou agora e nada do que se passou me fez mudar a ideia de que, como já é tarde para experiências, o sucessor deve ser português ou então alguém que venha seguindo o nosso campeonato bem de perto e conheça bem os jogadores que integram o plantel azul e branco! Não há tempo para testes. Um treinador estrangeiro conceituado mas que não conheça bem os nossos jogadores vai cometer muitos erros antes de acertar como fez este senhor holandês que acaba de nos deixar. E é um crime fazer o que este senhor fez com o Diego e o Hugo Almeida para não citar outros exemplos. O património do clube foi lesado e não foi pouco!

Posso estar enganado, mas penso que há um treinador que um dia passará pelo FCP e sobre o qual tenho boas expectativas: Carlos Brito.

9.8.06

Só podia!

Afinal a coisa tinha mesmo esturrado!

COMUNICADO

O Senhor Jacobus Adriaanse, principal treinador da equipa sénior, apresentou, nesta quarta–feira de manhã, a sua demissão à F.C. Porto – Futebol, SAD, tendo já se despedido, pessoalmente, de cada um dos jogadores e, em consequência, não ministrou – nem o próprio nem qualquer um dos seus adjuntos – o treino desta manhã, decidindo, igualmente, não acompanhar a equipa na sua deslocação a Inglaterra, onde o F.C. Porto tem agendados diversos treinos e jogos.

Porto, 09 de Agosto de 2006.

A Administração F.C. Porto – Futebol, SAD

Espero não estar a ver o mesmo filme que vi há duas épocas atrás...

Is the world flat?

"...
The big disruption
The argument goes like this: More and more parts of the world are getting the infrastructure that allows them to become part of the always-on world.
China, for example, already has more mobile phones than there are people in the United States and in four years, says Mr Gates, the country will have more broadband connections than there are US households. Combine this connectivity with good transport links and productivity soars in places like India, Brazil and Russia. More importantly, though, one billion people suddenly join the global workforce. BT boss Ben Verwaayen explains the impact: "Something profound has happened over the past three years, as disruptive as the invention of the steam engine." "For the first time", he says, "you don't need physical proximity for a joined up company." Or as Bill Gates puts it: It doesn't matter whether you sit in Boston, Beijing or Bangalore, if you are smart you can now compete directly with the rest of the world "on a level playing field" - in a world that is flat. It obviously works for Microsoft. The Beijing research lab is one of the company's most productive, says Mr Gates. When he recently met his firm's ten best-performing employees, he says half-jokingly, nine of them "had names I couldn't pronounce".

Losing four million jobs
In this flat world, it doesn't matter whether your accountant sits in Marlborough or Mumbai, and whether your customer care centre is based near Sausalito or Soweto. Your factory's supply chain is fully integrated, and stretches from Shenzhen and Chennai to Central Europe.
It makes for lean, efficient companies. It drives down cost, improves profits and keeps inflation low. But it also means that many workers are losing their jobs. "In Europe we could run out of jobs, and those that still have jobs will have to take care of an ageing population, says Stefan Delacher, a director with Thiel Logistics, which specialises in organising global supply chains. David Arkless of Manpower predicts that four million people will see their jobs transferred over the next five years.

Search for solutions
"On a macro level," says BT's Ben Verwaayen, "it is easy to see the win-win." But if your job goes overseas it is difficult to be positive, he warns.
The fate of the victims of globalisation worried many Davos participants.
"How can workers in the West hang on to their jobs?" was a much debated question. Be flexible and don't specialise too much, said Jagdish Bhagwati of Columbia University. Health and pensions systems should not be set up so that workers find it difficult to change employers, he added.
Others said lifelong learning could be the answer. Make your job, your work, your knowledge ever more valuable. But obviously Chinese and Indian workers are doing just the same. It's wrong to tell people that going to university will guarantee them a job, says Adair Turner, the chairman of the UK's low pay and pensions commissions, because the technology sector simply won't offer that many jobs. "Everything that can be automated will be automated," he predicts. "Already we only create jobs that are face-to-face... in hospitality, retail, tourism, healthcare," says Mr Turner. Chris Dedicoat of technology giant Cisco echoes the argument and says: "The stigma of vocational training has to be removed if the economies of Europe want to have jobs for all".

Don't panic
So should we all become nurses, plumbers and hair dressers?
Not really. Some of India's and China's cost advantages are disappearing already. It is now more expensive to employ an engineer in Shanghai than in Slovakia. In Indian call centres, says Jean-Herve Jenn of outsourcing specialist Convergys, wages are rising by 15-20% a year. This is not the time to panic, says Mr Gates. "Change will not be cataclysmic... it will not happen that fast." Remember the 1980s, he says, when everybody was worried about Japan. But it was the United States that made the running in the 1990s.

Two billion new customers
We have to realise that globalisation is both a challenge and an opportunity, says Jean-Herve Jenn. There may be an extra one billion workers, but they come with a new market of 2.3 billion consumers in Brazil, Russia, India and China alone. The biggest surprise, says Mr Gates, is what globalisation has done for poverty reduction in China. Already China's and India's middle classes form a larger market than the population of the United States, argues Mr Jenn.
And the wealth is spreading. In India, says the New York Times' Tom Friedman, there are tech islands in a sea of poverty. "In a two hour drive out of Bangalore, one travels back 12 centuries," he says. But only a few years back, he says, "it took just 15 minutes." The non-flat parts of the world are getting smaller."

Extracted from "Why Bill Gates believes the world is flat" in BBC News

7.8.06

A tradição já não é o que era...

Onde pára o clube onde só havia um discurso???

O treinador vaidoso diz isto... E o patrão diz isto...

O Pintinho de outros tempos não admitia este tipo de coisas... Cheira-me a esturro...

Uma ideia perigosa.

Agosto. Dá ideia que toda a gente ou está de férias ou está em regime de serviços mínimos ansiosamente à espera das ditas. Nesta morrinha leve, no meio do estupor causado pelo calor, rodeado por incêndios e entretido com os dias passados à beira-mar, o país lá vai andando meio anestesiado.
Na blogosfera o cenário repete-se. Escreve-se menos, comenta-se menos, já não há grande pachorra para polémicas ou debates. Mesmo assim, e enquanto não vou de férias, não posso deixar de comentar a recente notícia de que há uma empresa (irlandesa?) que nos seus anúncios de recrutamento avisa explicitamente que os fumadores escusam de responder. Segundo o seu gerente (dono?), fumar constitui um acto idiota revelador da estupidez do praticante, e como ele obviamente não quer empregar pessoas estúpidas, nada mais lógico que excluir à partida os fumadores.
Perante este flagrante caso de discriminação, a sempre atenta e por demais importante comissão europeia, liderada pelo sempre atento e por demais importante José Manuel Barroso, foi chamada a pronunciar-se e declarou que não há na legislação comunitária nada que impeça esta tomada de posição. Se a questão fosse excluir com base em raça, idade, religião, sexo e outras que tais, aí sim, aqui d'el rei que a dita empresa iria sentir a pesada mão da comissão, mas em relação ao acto de fumar a omissão na lei representa na prática uma autorização.
Ora eu, que não fumo e que até concordo com as restrições relativas ao tabaco nos locais de trabalho e nos espaços fechados como medida de promoção da saúde pública, acho que é necessário tomar uma posição forte contra este modus operandi, que até pode ser legal mas que representa uma escandalosa intromissão na esfera pessoal de cada um. O exagero do politicamente correcto, a busca do homem perfeito, liberto de vícios e pecados, não nos pode conduzir a uma sociedade saudável, muito pelo contrário. As tentativas de formatação, de homogeneização dos indíviduos, de selecção de características julgadas ideais por alguns iluminados, tiveram sempre resultados trágicos. Se deixamos passar hoje a questão do tabaco nestes moldes, o que virá a seguir?
Cada vez mais, big brother is watching you...

3.8.06

perspectivas esquinadas


"... uma lei imutável do trabalho: quando há muitas pessoas que querem e são capazes de fazer um trabalho, esse trabalho, geralmente, não é bem pago. Este é um entre quatro factores significativos que determinam o salário. Os outros são as capacidades específicas (as competências) que um trabalho requer, as características desagradáveis do trabalho e a procura a que o trabalho responde.
O equilíbrio delicado entre estes factores ajuda a explicar por que é que, por exemplo, uma prostituta ganha, geralmente, mais que um arquitecto. Pode pensar-se que não devia ser assim. O arquitecto pode ser considerado mais qualificado (tal como a palavra é normalmente definida) e com um grau mais elevado de educação (mais uma vez, como normalmente se define esse atributo). Mas as miúdas pequenas não têm, em geral, o sonho de vir a ser prostitutas; por isso, a oferta de prostitutas potenciais é relativamente baixa. As suas competências, embora não se possa necessariamente dizer que são "especializadas", são postas em prática num contexto muito especializado. O trabalho é desagradável e pouco atractivo, pelo menos sob dois aspectos significativos: a probabilidade de serem vítimas de violência e a oportunidade perdida de ter uma vida familiar estável. E o que é que acontece quanto à procura? Basta dizer que é mais provável um arquitecto contratar uma prostituta do que o contrário."

in Freakonomics - Steven D. Lewis; Stephen J. Dubner

29.7.06

Boas e más notícias...

Boa notícia: o ministro das finanças entregou no parlamento documentos que parecem provar que no 1º semestre deste ano houve uma redução de 4 345 funcionários públicos (e não um aumento de 10 166, como se aventou há dias). Como estou farto de olhar para o copo e vê-lo sempre meio vazio, sinto-me tentado a acreditar.

Má notícia: todo o incrível processo da (do?) Gisberta. Foi espancada, torturada, violada e atirada para um poço do qual nunca veio a sair. Para a nossa justiça o essencial em toda a situação parece ser não traumatizar mais os pobres adolescentes que, coitados, já tiveram que responder em tribunal por isso e que, quais heróis, até colaboraram com o MP e responderam educadamente às perguntas do Juíz. Em Deus querendo hão-de vir a ser cidadãos exemplares...Assim vamos andando, uns inimputáveis, outros irresponsáveis, outros mortos por afogamento.

Boa notícia: a publicação da lista de devedores ao fisco, à qual se seguirá outra relativa à S. Social. A utilidade é algo duvidosa, mas ao menos serve para mudar a inútil conversa generalista "dos que fogem", sem que nunca se conheçam os bois pelos nomes.

Má notícia: a situação no mundo vai de mal a pior. Não bastavam os atoleiros Iraque e Afeganistão, não bastava o Ruanda e a Somália, isto sem mencionar os mísseis da Coreia do Norte e o programa nuclear do Irão. A guerra Israel-Hezbollah-Hamas-Síria-Irão está a resultar não só na destruição do Líbano e na morte de civis, mas também a conduzir o Médio Oriente para um buraco sem saída. O fanatismo extremista (criminoso!) de uns e a estupidez de processos (criminosa!) de outros torna difícil atribuir culpas, mas apesar de toda a revolta que massacres sem sentido como o de Qana fazem sentir, nós ocidentais só podemos torcer para que Israel acabe por conseguir levar a melhor sobre o Hezbollah. Qualquer outro cenário resultaria num pesadelo ainda maior que o actual.

26.7.06

J.

Este post é sobre o meu filho.
Confesso que sinto alguma relutância em falar dele aqui, como se fosse um passo abusivo juntar o mundo real com este país das maravilhas, esta realidade ficcionada que é a blogosfera. Mas ter um blog, alimentá-lo com as nossas ideias e às vezes com a nossa intimidade é sem sombra de dúvida uma forma de exposição. Controlada sim, mas ainda assim uma exposição. E por mais dúvidas que tenha, por maior que seja o desconforto que sinto em expôr também o J., que já tem personalidade própria mas que não pode ter voto na matéria, a verdade é que não poderia deixar de falar sobre o 1º aniversário do meu filho.
Falo de futebol, de política, de religião, falo de mim, falo um pouco de tudo e de nada. Hoje tenho o enorme prazer e chego até a sentir-me quase que obrigado a falar sobre alguém realmente importante, um VIP na verdadeira acepção do termo. Não vou gastar muito latim a babar sobre o J. e prometi a mim próprio que ia fazer um esforço consciente para evitar usar o sufixo inho (riquinho, fofinho, amorzinho,etc...) praga que parece atingir todos os pais e mães que conheço.
Sempre gostei do cheiro dele, do tacto e do contacto. De o ver primeiro a sorrir e depois, mais tarde, a dobrar o riso. Das tentativas de verbalizar, de comunicar. De o ver gatinhar como um GI Joe e agora começar a tentar andar. Olho para ele agora, quando dança ao lado da nossa cama aos domingos de manhã ao som dos amigos do gaspar, sempre ansioso por aprender coisas novas, por abarcar todo este imenso mundo novo que vai aos poucos descobrindo, e digo-vos que o amo desde que ele nasceu, mas que quanto mais o conheço mais gosto dele.



Estive para não pôr a foto, mas não resisti. Utilizando uma expressão que foi dita a brincar mas que não deixa de ser verdadeira: é tão bonito que nem parece filho do pai dele.

24.7.06

...

Fiel a mim próprio (o que diga-se de passagem e agora que penso nisso é uma frase um bocado ridícula, ou não fosse utilizada com frequência por jogadores da bola) eis que chega novamente a altura de voltar a abordar um dos meus ódios de estimação. Como não vou falar de Scolari (sob pena de ser logo classificado de anti-patriota), torna-se fácil concluir para os que me conhecem que o visado será Rui Rio (em consonância com um recente desafio de um ilustre comentador deste blog):

- Quando lhe caiu no colo a Câmara do Porto, devido ao furacão anti-Guterres que assolou o país e porque Fernando Gomes a perdeu (sim, porque nós os portuenses somos orgulhosos e não admitimos que nos tomem por garantidos), Rui Rio não tinha nem equipa nem programa para a cidade.

- A equipa que acabou por escolher à pressa revelou-se desastrosa e de todo o seu 1º mandato ficaram apenas e só 3 notas de maior registo, as únicas que qualquer pessoa mesmo que atenta à cidade pode ainda hoje identificar : 1- a não construção na orla do parque da cidade (ainda falta ver a que custo); 2- a polémica do plano de pormenor das Antas (que só serviu para arrancar 5 milhões de euros ao Grupo Amorim e dá-los à D.Laura) e a “guerra” com o FCP/futebol (que merecerá análise mais detalhada lá para a frente); 3- o grande prémio de automobilismo na Boavista (ideia absolutamente peregrina, típica de um “beto” saudosista de se passear nos paddocks, mas que pelos vistos até dá lucro…).
De resto, não houve nem há uma ideia condutora, um grande projecto que motive a cidade e a faça crescer. Confesso que para meu grande espanto isto foi suficiente para lhe valer a reeleição com maioria absoluta.

- Em tudo o resto, leia-se política cultural, requalificação urbana, afirmação do Porto como pólo aglutinador do Noroeste Peninsular (como os políticos tanto gostam de dizer), combate ao desemprego, promoção de uma cidade com melhor qualidade de vida, etc… Rui Rio falhou. Não há agente cultural da cidade que lhe reconheça algum mérito e, por exemplo, a forma como lidou com a Casa da Música (usada apenas e só para ajustar contas com Burmester) foi vergonhosa. O Rivoli foi primeiro abandonado para agora ser mais facilmente privatizado (o que pode até significar o fim do FANTAS na cidade) e quanto à tão propalada recuperação da Baixa, depois de 5 anos de RR temos como único resultado a ameaça velada que paira no ar de que a UNESCO poderá decidir retirar a classificação de Património da Humanidade, por evidente degradação do estado do parque habitacional. Já estava mal, ficou ainda pior.
Investimentos como o Corte Inglês, que poderiam devolver alguma vitalidade a uma zona tão abandonada, foram quase que empurrados para o outro lado do rio.

- Falando da pessoa em si, ou melhor do comportamento pessoal de RR enquanto Presidente da CMP, o que salta à vista é uma visão paranóica do mundo que o rodeia. Ele vê-se como o único detentor da verdade e junta na cabala para o atingir empresas como o JN, o DN e o Público. Até a Polícia Judiciária já mereceu idêntica apreciação. As recentes notícias vindas a lume acerca da utilização e do site da CMP (que anda a ser usado como veículo de propaganda a RR e de ataque aos seus críticos) são só a última demonstração duma evidente falta de espírito democrático e da flagrante incapacidade de lidar com opiniões divergentes da sua. Querem apoios camarários? Não se atrevam a criticar. Querem falar com os vereadores? Só por escrito e com prévia autorização do manda-chuva. Querem enquanto munícipes assistir às reuniões e colocar os vossos problemas? Mandem postais.
Isto já para não falar do raciocínio, à lá caudilho, que RR faz ligando o ter sido eleito com um qualquer direito de saltar por cima das leis existentes (veja-se o inacreditável caso do túnel de Ceuta e as declarações do Presidente da CMP a seu respeito).

Como justificar então o sucesso eleitoral de RR? Em grande parte porque, e contrariamente à ideia que circula na opinião pública, RR usa e abusa do futebol e conseguiu através deste conflito assegurar uma imagem de seriedade e de luta contra lobbys (ainda para mais sendo o Pinto da Costa uma figura tão amada no País…). Diga-se no entanto que a sua já longa associação política com Valentim Loureiro é estranhamente ignorada pela comunicação social dominante.
Esta sua guerra contra o futebol assegura-lhe outra coisa: garante que os verdadeiros problemas da cidade e da sua (não) gestão não serão discutidos. Fica este exemplo: um dia, num casamento de uma amiga da A., envolvi-me numa conversa sobre RR com um tipo com o qual aliás nunca me entendi muito bem. Falei de tudo, não só do que já leram acima, mas de outras situações que me abstenho de citar para não alargar mais este já extenso lençol. No final, ele virou-se para mim, encolheu os ombros e disse apenas: Oh pá, só dizes isso porque és portista.

A vox populi diz que Rui Rio é sério, o que sendo positivo não deixa de ser o mínimo exigível. O que faz falta é ser-se competente no que se faz e a sensação que tenho ao ver a forma como RR se relaciona com a cidade e os seus agentes (e não, já disse que não estou a falar de futebol) é a de algum incómodo, como se encarasse o cargo na CMP como uma etapa necessária mas algo chata na sua carreira política.
É uma apreciação naturalmente subjectiva, mas atrevo-me a dizer que Rio não morre de amores pelo Porto, ou fraseando a coisa de outra forma, gosta muito pouco de ser o seu presidente.

21.7.06

Porque...


... continuo a achar que o estado natural dos seres humanos é a errância...
... porque se pudesse viajava cada vez mais...
... porque o G. (quem me mostrou o video que se segue) parte na 2ª para Bali ...
... porque os livros de viagens continuam a ser aqueles, que mais prazer me dão a ler, com principal destaque para os do brilhante Bruce Chatwin...
... porque o video que vos mostro, incluindo personagem, música, dança, e locais escolhidos, é realmente muito bom...
... porque simplesmente me apeteceu, sem ter que vos dar grandes satisfações.

Aqui vai http://www.youtube.com/watch?v=bNF_P281Uu4

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