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4.1.07

Uma praga dos tempos modernos

Fiel a uma estratégia gizada há uns anos, neste Natal e passagem de ano voltei a não responder a nenhum dos sms que recebi e voltei a não ter a iniciativa de os enviar.
Sem surpresa, e confesso até que com alguma alegria, verifiquei que lentamente, quase de forma imperceptível, os frutos deste não labor, desta estudada indiferença vão aparecendo e se há uns anos via o meu telemóvel apitar irritante e incessantemente com dezenas de mensagens pré-formatadas e pretensamente engraçadas, este ano recebi apenas 4.

Nas palavras de um tipo com o qual muitas vezes discordo:
"...as pessoas deixaram de conversar porque a conversa, no sentido mais elevado do termo, implica disponibilidade, gentileza e imaginação. Por isso se enviam estes farrapos de conversa, que significam nada porque nada é o que as pessoas têm cada vez mais para dizer umas às outras..."
João Pereira Coutinho, Expresso 30.12.2006

6 comentários:

Spider-man disse...

Até ao ano passado, costumava telefonar aos meus amigos e familiares mais chegados. Normalmente aproveito uma campanha que a operadora da qual sou cliente lança no mês de Dezembro em que me devolve a massa gasta em chamadas para a "minha rede" e rede fixa. Abuso da rede fixa para depois rentabilizar o "saldo engordado" de Janeiro durante vários meses. Normalmente enviava sms apenas a quem me enviava.
Só que, no ano passado dei comigo, em vez de conviver com os meus familiares, a estar de olhos no dito telemóvel tal como eles...
Eu já estou cada vez menos vezes com os meus primos e tios de quem muito gosto e ainda por cima estar com eles "apenas fisicamente" levou-me a tomar a mesma decisão que tu, curiosamente (nunca falamos sobre isto)!
Este ano resolvi então conviver muito mais com quem estava e chateei-os com a mesma ideia senão ficava eu a vê-los. É que, para agravar as coisas, estes "cotas" agora já enviam sms (!), sendo, no entanto, lentos a fazê-lo e a lê-los por problemas de hipermetropia.
Ainda assim acabei por receber uns 15 sms e no dia seguinte por uma questão de delicadeza, respondi-lhes, mas com uns sms da tanga do tipo: "sabes qual é a diferença entre um boneco de neve e uma boneca de neve?" ou o do "presépio do estádio do Dragão".
Para terminar, que a conversa já vai longa, há ainda duas merdas que me chateiam:
1 - Pessoas com quem falamos e desejamos boas festas que mesmo assim nos enviam sms. Nota-se mesmo que foi "vou enviar para os meus contactos"! A essas sms nem respondi!
2 - Pessoas que não "dão cavaco" o ano inteiro, neste dia lembram-se! Também parece "vou enviar para os meus contactos"!

joana disse...

Por acaso, nunca fui grande adepta das mensagens.
Este ano resolvi telefonar, falar com as pessoas, mesmo com aquelas que me enviaram mensagens.
A mensagem acaba por ser uma coisa mais ou menos mecanica, só porque se quer responder, para não ficar em falta...

Nómada Global disse...

Admito que durante uns anos também enviei mensagens de "plástico", e para todos "os meus contactos".

Admito que não me tinha apercebido da enormidade que isso é: nunca, quando enviava postais de correio, enviava todos iguais, qual fotocópia. Por que motivo fazê-lo agora?

Este ano não respondi a nenhuma mensagem plástica. Apenas às que me eram dirigidas, e só a mim (e verifiquei que este ano já houve mais preocupação das pessoas em fazê-lo). Do mesmo modo, enviei algumas, pessoais todas. Com conteúdo (ou assim espero).

Wolverine: não, as pessoas já não conversam. Ou algumas pessoas. Porque o que eu vejo aqui, por exemplo, no teu blog, é para mim o paradigma do novo modelo de conversação, e um que traz resultados. Lemos, pensamos, reflectimos, escrevemos. Um diálogo sem a pressão do tempo, ou da oratória. Se isto não é conversar (con-versar, literalmente), não sei o que será.

Há esperança.

wolverine disse...

Cas,
de acordo, mas repara que sendo algo maldoso também é fácil argumentar que quem só te manda uma mensagem provavelmente não tinha grande interesse em conversar de viva voz.

Nómada,
a blogosfera tem de facto esse enorme potencial para a "conversa", sem as vantagens e desvantagens inerentes ao diálogo olhos nos olhos.

joana disse...

Wolverine,

Eu sou uma pessoa extremamente simpática (:)) e muito pouco maldosa... dou sempre um voto de confiança até à primeira vez. E os meus amigos são poucos mas bons.
A verdade é que recebo poucas mensagens no telemóvel. Já emails, vou-te contar: da treta (julgo) tenho cerca de 250 por abrir (e não são spam!).

JB disse...

Nem consigo explicar porquê... simplesmente também não encontrei vontade para enviar ou responder a qualquer mensagem de Natal... todavia, ainda tenciono responder a alguns emails e a um simpático cartão de boas festas recebidos... relativamente aos SMS, ficarei com a fama de indelicado...
A citação do JPC parece-me deveras interessante e parece-me que merecedora de discussão mais aprofundada - note-se referências â referida citação por parte de outros comentadores...

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