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O meu desconforto começa na altura da candidatura presidencial em que Alegre acabou por cavalgar demagogicamente a onda de descontentamento contra os partidos que grassa na sociedade. Isto vindo de alguém que é militante do PS desde sempre e deputado da República há mais de 30 anos é uma atitude não só incoerente mas também perigosa. Desde então, surgiu a curiosidade de ver o que Alegre iria fazer com o milhão e pico de votos que recebeu. Salvo melhor e mais informada opinião, parece-me que fez muito pouco ou nada, tirando um apoio mesmo assim não tão claro quanto se poderia esperar à candidatura autárquica da sua companheira de route Helena Roseta (outro momento em que também se procurou surfar um pouco a onda anti-partidos).
A sensação com que fico é que Alegre se vai limitando a episodicamente fazer uma ou outra intervenção, sempre sem concretização em termos de apresentação de propostas ou iniciativas legislativas, mas em que a sua notoriedade e a utilização frequente de referências ao espírito de Abril lhe garantem tempo de antena. O único problema é que nos entretantos se vai sentando calmamente nos jantares e eventos do partido ao lado e consequentemente em apoio a Sócrates e continua ainda (e sempre?) a ser militante de um partido com o qual parece presentemente, por inerência das suas próprias palavras, ter pouca ou nenhuma afinidade.
"Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.", a frase com que termina o seu artigo de hoje no Público vive um pouco desta capitalização, talvez mesmo apropriação, que Alegre vai fazendo
da revolução dos cravos. O assunto é pertinente mas a terminologia usada é quanto a mim propositadamente exagerada para garantir o sound bite e alimentar o "mito Alegre", porque convenhamos que se o deputado poeta de facto sentisse a 100% aquilo que diz então o seu caminho só poderia ser deixar o partido ou pelo menos suspender a sua militância.
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