os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

16.1.08

Pensar.

Há quem o faça no trânsito no meio das buzinadelas e dos sons do rádio e há quem opte pela tranquilidade do WC caseiro onde o relaxamento esfinctérico convida à meditação e há quem necessite de andar e quem goste de estar parado e quem o faça melhor com a ajuda de um cigarro. Eu normalmente penso enquanto lavo a louça e hoje imbuído num odor a super pop maça veio-me à memória a recordação da problemática essencial da vivência de qualquer homem enquanto se encontra preso naquele limbo interminável de acne e desolação a que se convencionou chamar adolescência: qual é afinal a melhor estratégia para sacar gajas? E porque é que até aquele idiota de óculos e cabelo rançoso e hálito a cebola consegue e eu, enfim, muito pouco ou nada?
Vai daí e por conseguinte, beneficiando da lucidez de espírito que só os anos de distanciamento de várias experiências traumáticas podem trazer, ficam algumas das minhas noções do que não fazer:

- não andem sempre de fato-de-treino até ao 8º ano. É confortável claro, mas torna mais difícil que alguém vos leve a sério.
- evitem passar os intervalos das aulas a jogar futebol ou basket. O odor a sovaqueira não é algo a que queiram ficar associados.
- tenham cuidado com a quantidade e o tipo de bebidas alcoólicas que ingerem. A cerveja é apropriada à idade e sabe mesmo bem com tremoços mas o hálito resultante é medonho. Por outro lado as bebidas brancas são claramente mais cool mas misturas ambiciosas ou o consumo de grandes quantidades, se bem que capaz de impressionar os elementos femininos, resultará invariavelmente num final de noite pouco digno com o Gregório, risco que não quererão correr. Sendo assim, reservem as grandes bebedeiras para noitadas só de rapazes.
- ainda no campo do álcool, não se deixem arrastar para situações de apoio a amigos necessitados. Enquanto vocês lhe seguram a cabeça e o deixam vomitar em cima dos vossos sapatos novos, outro gajo estará a aproveitar para avançar sobre a miúda. Se se tratar de um grande amigo, assegurem-se que ele está em posição lateral de segurança e num sítio onde não haja grande risco de ser atropelado ou espezinhado. O vosso dever acaba aí.
- tentem estar quase sempre bem dispostos e usem amiúde o vosso sentido de humor mas cuidado para não abusar. A distância entre ser um gajo com piada ou o bobo do grupo é uma linha muito ténue.
- não tenham medo de ser só amigos mas, novamente, esta é outra área em que devem proceder com muito cuidado. É relativamente simples chegar a ser olhado como “um bom amigo”. O diabo é depois conseguir descolar dessa imagem.
- quando finalmente conseguirem entrar na discoteca da moda, convém que não tenham de vir para casa antes da noite começar a aquecer e evitem a todo o custo que a vossa mãe vos vá buscar ou pelo menos que alguém veja esse momento. Por favor apanhem um táxi ou combinem dormir em casa de algum amigo com pais mais liberais.
- em relação à dança procurem não ser demasiado efusivos. Saltar demais é folclórico e para além disso resulta nos tais odores corporais pouco convidativos que já abordámos em cima. O ideal são movimentos curtos, mais à base de ombros e com leve oscilar em vaivém das pernas. Os braços devem preferencialmente manter-se perto do tronco e em todos os momentos tenham sempre muita atenção com as expressões faciais (abrir muito a boca para gritar o refrão pode deitar tudo a perder)
….

Quanto a conselhos mais pró-activos, no campo das coisas a fazer só me ocorrem 2 ideias:
- se forem daqueles gajos com boa pinta, assim a modos que giros e normalmente alvo dos olhares embevecidos das miúdas, dir-vos-ei apenas e só baseado naquilo que fui vendo ao longo dos anos que o ideal é não fazerem absolutamente nada. Falem pouco, adoptem um ar misterioso q.b. e deixem-se estar quietinhos de preferência com um ar pensativo, um cigarro numa mão e uma bebida na outra. A paciência é uma virtude pela qual serão recompensados.
- se por outro lado não cumprirem os requisitos acima definidos, digo-vos não sem um leve sentimento de vergonha que a melhor estratégia é jogarem a cartada do sofredor. Sem abusar, apenas o suficiente para que ela sinta a necessidade de vos consolar no vosso momento de fragilidade emocional. Algures no meio das festinhas no cabelo e dos abraços apertados, estará a altura certa, provavelmente única e irrepetível, para arrancar aquele que é sem dúvida o mais difícil mas talvez o mais compensador dos momentos: o primeiro beijo.

Enfim, que jeito teria dado saber algumas destas coisas há 15 anos atrás…

1 comentário:

Anónimo disse...

quer-me parecer que as miudas hoje não são tão exigentes como eram há 15 anos atrás... a oferta vai rareando...

Com tecnologia do Blogger.