Há quem o faça no trânsito no meio das buzinadelas e dos sons do rádio e há quem opte pela tranquilidade do WC caseiro onde o relaxamento esfinctérico convida à meditação e há quem necessite de andar e quem goste de estar parado e quem o faça melhor com a ajuda de um cigarro. Eu normalmente penso enquanto lavo a louça e hoje imbuído num odor a super pop maça veio-me à memória a recordação da problemática essencial da vivência de qualquer homem enquanto se encontra preso naquele limbo interminável de acne e desolação a que se convencionou chamar adolescência: qual é afinal a melhor estratégia para sacar gajas? E porque é que até aquele idiota de óculos e cabelo rançoso e hálito a cebola consegue e eu, enfim, muito pouco ou nada?
Vai daí e por conseguinte, beneficiando da lucidez de espírito que só os anos de distanciamento de várias experiências traumáticas podem trazer, ficam algumas das minhas noções do que não fazer:
- não andem sempre de fato-de-treino até ao 8º ano. É confortável claro, mas torna mais difícil que alguém vos leve a sério.
- evitem passar os intervalos das aulas a jogar futebol ou basket. O odor a sovaqueira não é algo a que queiram ficar associados.
- tenham cuidado com a quantidade e o tipo de bebidas alcoólicas que ingerem. A cerveja é apropriada à idade e sabe mesmo bem com tremoços mas o hálito resultante é medonho. Por outro lado as bebidas brancas são claramente mais cool mas misturas ambiciosas ou o consumo de grandes quantidades, se bem que capaz de impressionar os elementos femininos, resultará invariavelmente num final de noite pouco digno com o Gregório, risco que não quererão correr. Sendo assim, reservem as grandes bebedeiras para noitadas só de rapazes.
- ainda no campo do álcool, não se deixem arrastar para situações de apoio a amigos necessitados. Enquanto vocês lhe seguram a cabeça e o deixam vomitar em cima dos vossos sapatos novos, outro gajo estará a aproveitar para avançar sobre a miúda. Se se tratar de um grande amigo, assegurem-se que ele está em posição lateral de segurança e num sítio onde não haja grande risco de ser atropelado ou espezinhado. O vosso dever acaba aí.
- tentem estar quase sempre bem dispostos e usem amiúde o vosso sentido de humor mas cuidado para não abusar. A distância entre ser um gajo com piada ou o bobo do grupo é uma linha muito ténue.
- não tenham medo de ser só amigos mas, novamente, esta é outra área em que devem proceder com muito cuidado. É relativamente simples chegar a ser olhado como “um bom amigo”. O diabo é depois conseguir descolar dessa imagem.
- quando finalmente conseguirem entrar na discoteca da moda, convém que não tenham de vir para casa antes da noite começar a aquecer e evitem a todo o custo que a vossa mãe vos vá buscar ou pelo menos que alguém veja esse momento. Por favor apanhem um táxi ou combinem dormir em casa de algum amigo com pais mais liberais.
- em relação à dança procurem não ser demasiado efusivos. Saltar demais é folclórico e para além disso resulta nos tais odores corporais pouco convidativos que já abordámos em cima. O ideal são movimentos curtos, mais à base de ombros e com leve oscilar em vaivém das pernas. Os braços devem preferencialmente manter-se perto do tronco e em todos os momentos tenham sempre muita atenção com as expressões faciais (abrir muito a boca para gritar o refrão pode deitar tudo a perder)
….
Quanto a conselhos mais pró-activos, no campo das coisas a fazer só me ocorrem 2 ideias:
- se forem daqueles gajos com boa pinta, assim a modos que giros e normalmente alvo dos olhares embevecidos das miúdas, dir-vos-ei apenas e só baseado naquilo que fui vendo ao longo dos anos que o ideal é não fazerem absolutamente nada. Falem pouco, adoptem um ar misterioso q.b. e deixem-se estar quietinhos de preferência com um ar pensativo, um cigarro numa mão e uma bebida na outra. A paciência é uma virtude pela qual serão recompensados.
- se por outro lado não cumprirem os requisitos acima definidos, digo-vos não sem um leve sentimento de vergonha que a melhor estratégia é jogarem a cartada do sofredor. Sem abusar, apenas o suficiente para que ela sinta a necessidade de vos consolar no vosso momento de fragilidade emocional. Algures no meio das festinhas no cabelo e dos abraços apertados, estará a altura certa, provavelmente única e irrepetível, para arrancar aquele que é sem dúvida o mais difícil mas talvez o mais compensador dos momentos: o primeiro beijo.
Enfim, que jeito teria dado saber algumas destas coisas há 15 anos atrás…
os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse
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1 comentário:
quer-me parecer que as miudas hoje não são tão exigentes como eram há 15 anos atrás... a oferta vai rareando...
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