O factor que mais contribui para o relativo mau funcionamento do país é a percepção geral e solidamente instalada que as instituições não funcionam, o que acaba por servir como conveniente desculpa ad hoc para os mais diversos comportamentos incorrectos ou até ilegais: há aqueles que se julgam no direito de não pagar os seus impostos simplesmente por terem um vizinho ou conhecido que foge descaradamente e nunca é apanhado, há aqueles que encaram como normal meter ou aceitar cunhas já que toda a gente faz o mesmo, há aqueles que entendem não ser grave conduzir a 180 à hora pelo prosaico motivo de verem ocasionalmente passar outros carros a 200. A mesma linha de raciocínio leva a que comece a ser normal que quando alguém ou algum grupo ou até uma determinada povoação se sente lesada ou ameaçada no que encara como sendo os seus legítimos direitos, acabe por usar como forma ilegítima de pressão o fechar estabelecimentos a cadeado ou bloquear a via pública ou basicamente qualquer outra coisa que garanta que o caso tenha direito a passar no noticiário televisivo do dia. Tudo porque quase ninguém diz ter fé nas vias normais de procedimentos, que ficaram reservadas para os crentes, para os papalvos, para aqueles que contra todas as evidências se recusam a aceitar que não há justificação para a esperteza saloia e para a atitude do salve-se quem puder que grassa por aí a olhos vistos.
A mim, uma das situações que me começa a revoltar é que a facilidade com que estamos prontos a invocar direitos e reivindicar benesses não seja minimamente acompanhada por um grau mínimo de cumprimento de deveres.
Tudo isto, este chorrilho de queixumes mal alinhavados, porque estou verdadeiramente farto de me cruzar com gente assim. Gente a quem a nossa depauperada (estará mesmo?) Segurança Social paga tratamentos médicos privados e que nem se dá ao trabalho de deles usufruir, gente a quem o Ministério da Saúde oferece consultas gratuitas (convencionadas com os privados) para os seus filhos e que é irresponsável ao ponto de não aparecer ou sequer telefonar a marcar consulta, gente que vai literalmente vivendo encostada ao rendimento social de inserção (RSI) e que se limita a fazer com a periodicidade mínima obrigatória um ou outro curso de formação ou requalificação profissional, não com o intuito de arranjar emprego mas sim de assegurar mais uns meses de subsídio estatal.
Há por ai um sem número de pessoas (cada vez mais?) que não só não merece os poucos apoios que o Estado vai dando como acaba por evitar que essas verbas cheguem a gente mais necessitada e infinitamente mais merecedora.
Ao ritmo a que vou ainda acabo daqui a uns meses a falar dos beneficiários do RSI (medida que sempre defendi) como “ciganos”, ou a fugir ao Fisco e à Segurança Social. E não duvido que também eu direi na altura que a culpa não é minha, mas sim do sistema que não funciona…
os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse
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