os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

2.3.07

Verdades inconvenientes. Parte I.

As alterações climáticas estão na moda. Depois de algumas conferências mundiais cheias de boas intenções e retórica que sem surpresa resultaram numa mão cheia de nada, a comunidade internacional lá se entendeu e surgiu o protocolo de Quioto. Mesmo enjeitado por alguns dos países mais poluentes (EUA e Austrália) e tratado como filho bastardo por outros que publicamente o assinaram e prometeram cumprir (veja-se o nosso triste exemplo), Quioto foi um marco importante e representa uma esperança na possibilidade de entendimentos futuros que, como é quase consensual na comunidade científica, terão forçosamente de ser muito mais ambiciosos.
Lenta mas inexoravelmente começam a diluir-se as mais antigas resistências ao papel decisivo do Homem na alteração do clima do planeta e suas respectivas consequências, a par e passo com uma maior incidência e gravidade das catástrofes naturais (secas extremas num lado, chuvas torrenciais noutro, furacões, cheias, etc...). A consciencialização da opinião pública é cada vez mais um facto, ou melhor uma autêntica bola de neve, colocando as pessoas prontas para apoiar políticas (e políticos) amigas do ambiente. As frases bonitas deixaram de ser do estilo temos de salvar o urso polar para que os nossos filhos possam usufruir e passaram, finalmente, a ser temos de salvar o planeta para podermos sobreviver.
Vem isto a propósito de um artigo no Público (de 28.2, no Caderno P2) sobre o degelo do Oceano Polar Árctico. Ao ver o título confesso que pensei que ia ler mais uma série de alertas sobre os perigos inerentes a este cenário, como o aumento do nível do mar e do efeito de estufa por libertação de metano, o fim da forma de vida dos Inuit (esquimós) e até mesmo a extinção do urso polar. Mas se é verdade que os últimos parágrafos alertavam para estas consequências, não deixou de ser um choque constatar que o tema principal do artigo eram as possibilidades económicas que o degelo do Ártico vem abrir. Países como o Canadá, EUA, Rússia, Dinamarca e Noruega já estão a posicionar-se estrategica e politicamente numa "nova corrida ao ouro" tratando de garantir direitos sobre esta nova via de transporte de mercadorias, a "Passagem do Noroeste", potencialmente navegável já em 2040 e capaz de rivalizar com o Canal do Panamá porque diminui a distância entre a Europa e a Ásia em cerca de 8 000 Km.
Lutam também pela promessa de petróleo (supostamente 1/4 !! das reservas mundiais ainda por explorar) e gás natural, por novas explorações de minerais e diamantes e por valiosas zonas pesqueiras de salmão e bacalhau.
É um cenário quase inacreditável e permite perceber melhor os motivos por detrás desta atitude no mínimo dúplice. Sim, sim, estamos cada vez mais preocupados com as alterações climáticas, comprometemo-nos a investir em energias renováveis, diminuindo o recurso ao petróleo, carvão e outras coisas tais, mas não deixamos de estar a esfregar as mãos de contente pelas oportunidades que o início do fim pode trazer.
continua...

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