os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

9.3.06

Liberal?

Numa altura em que se cumpre o 1º ano do governo Sócrates, o que não falta por aí são os tradicionais balanços.
Que tem sido um governo com ímpeto reformista em diversas áreas, que reconquistou a confiança dos empresários, que tem atraído maior investimento estrangeiro, que afrontou lobbys poderosos, são alguns dos méritos apontados no lado positivo da balança.
Que o desemprego continua a subir, que as medidas tomadas são essencialmente operações de marketing, que o estilo é autoritário e confrontacional, que há uma tentativa de controlo dos principais orgãos do Estado e de domesticação da comunicação social, são alguns dos factores apontados como negativos.
O objectivo deste post não é acrescentar nada aos balanços feitos, se bem que me inclino para achar globalmente positiva a actuação governativa nestes primeiros 12 meses. Hoje estou mais virado para comentar o reverso da medalha. Falemos pois da oposição, sob pena de pouco a pouco nos esquecermos que ela existe, e mais concretamente falemos do suposto líder da oposição, o Dr. Marques Mendes. Compreende-se que seja difícil sobressair num cenário de maioria absoluta, ainda para mais com um governo socialista a por em prática políticas que a direita normalmente invoca como suas. Só esta dificuldade pode ajudar a explicar algumas das últimas declarações de MM.
Comecemos pela insólita bravata de dizer que se o seu programa for derrotado no próximo Congresso obviamente não se demite, o que me parece um claro sinal de uma lógica de puro apego ao poder. Passemos à posição anunciada de recusa política do casamento homossexual, o que não combina bem com um partido que proclama aos quatro ventos a sua ideologia liberal de quanto menos interferência do estado na sociedade melhor. Mas a proposta que na minha opinião mais se destaca é a peregrina intenção de discriminar positivamente os ex-toxicodependentes ao nível do acesso ao mercado de trabalho, criando benefícios para as entidades empregadoras. Se à primeira vista a intenção não choca, não me parece que resista minimamente a uma análise mais aprofundada. Imaginem que duas pessoas do mesmo sexo, da mesma idade, com curriculums semelhantes, estão em competição pela mesma oferta de trabalho e a decisão é favorável a um deles só porque já foi um toxicodependente. Ah, mas isso é contribuir para uma plena reintegração na sociedade dirão alguns. Pois é, porreiro, curado e reintegrado parece-me muito bem, mas que raio de mensagem é que estamos a dar ao outro candidato? Olha pá, como nunca te meteste na droga vais continuar desempregado? E já agora, em maré de discriminação positiva de alguns grupos específicos e normalmente prejudicados na sociedade, porque não favorecer os ex-reclusos? E as minorias raciais? E o sexo feminino? Podemos até pensar num cenário em que o candidato mais "beneficiado" pelo estado reúna simultaneamente as seguintes características: mulher, preta, mãe solteira, ex-toxicodependente, ex-reclusa, portadora de SIDA e tuberculose, orfã desde criança, vítima de violência doméstica, etc...
Ah, assim sim, plena reintegração e consciências politicamente correctas 100% tranquilas...Pelo caminho teremos trocado de vez a ideia do primado do mérito e do desempenho pela instituição de um regime de quotas, supostamente concebido para corrigir injustiças.

P.S.- alguém me explica como é possível que um partido que acha que um referendo sobre o aborto não é prioritário, que acha que a reforma do sistema eleitoral não é prioritária, que acha que evitar a não discriminação por motivos de preferências sexuais não é prioritário, decida de um momento para o outro que é prioritário discriminar positivamente os ex-toxicodependentes?

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