os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

10.3.06

Saudades do meu Porto

Há espaços que farão sempre parte da minha pequena história de vida. Na minha cidade, o Porto, sim porque onde quer que viva a minha cidade será sempre essa, o Porto, onde nasci e cresci, onde conheci praticamente todas as pessoas que são mais importantes para a minha vida, salvo poucas e honrosas excepções, há vários locais que nunca poderei esquecer.
O infantário Luzinha na zona da Areosa com os seus setters que uma vez se soltaram criando o pânico nas educadoras e a alegria na miudagem. A escola pública nº 37 em Costa Cabral, com aquela árvore fabulosa, cuja espécie na altura não sabia e agora também não, a comandar todo o recreio e com a Professora Manuela a acabar todos os dias de aulas connosco em fila indiana à espera da réguada da praxe e em que quem tirasse a mão a tentar fugir ao castigo levava a dobrar, e com o meu avô, que tinha as mãos grandes e pêlos a sair do nariz e das orelhas e a quem nós os netos sempre chamámos Moura e nunca avô e de quem eu não me lembro muitas vezes mas quando me lembro sinto uma saudade tão grande que me apetece chorar, a ir-me buscar pela mão ao fim da manhã. A mítica Augusto Gil, onde fiz o ciclo e onde conheci os meus amigos, daqueles que são para toda a vida, e a senhora do quiosque ao lado a vender chicletes e rebuçados, e os gelados Neveiros, do grande portão verde de garagem no caminho de volta à casa no Verão, que se derretiam na boca e não nas mãos. O Vigorosa, onde para além de ténis se jogavam sonhos, com o Zé Rato que nos ensinava mas que tinha aprendido a jogar sozinho contra a parede e para além disso tocava bateria no programa da manhã da RTP, e onde sem eu nunca ter percebido porquê alguns não me tratavam pelo nome próprio como seria apropriado mas sim por ò Moura e Sá. A escola Aurélia de Sousa, o meu liceu, onde entrei ainda miúdo sempre vestido de fato de treino e sapatilhas e saí quase homem daqueles que já têm de fazer a barba e tudo. O Lima 5, o meu café, onde entrava de manhã e sem ser preciso dizer nada, o Sr.Fernando sempre bem disposto ou o Sr.Lemos com o seu bigode farfalhudo a tentar esconder o dente que lhe faltava ou o Sr.Amadeu que não me dava tanta confiança, me traziam a meia de leite directa e bem escura e torrada do costume, e onde nas tardes de estudo em que a meio, para alimentar os neurónios e sacudir a neurose, pedíamos uma francesinha e bebíamos um fininho, o que não ajudava muito o estudo mas porra uma francesinha pede um fininho e não mariquices como sangrias ou coca-colas. O Estádio das Antas, aos domingos à tarde, com o meu pai, o meu irmão, os meus primos e o meu avô que durante o jogo inteiro nos ia dando rebuçados S.Brás, daqueles que sabem bem mas fazem mal aos dentes...

Podia se calhar falar de outros, de mais lugares e de mais pessoas que nada será capaz de apagar, mesmo que agora já não existam como os gelados Neveiros do grande portão verde, ou o lima 5 que virou churrasqueira especializada em frango à guia, ou as Antas que morreram para dar lugar a outro estádio mais novo, mais bonito mas necessariamente mais pobre em histórias e sonhos. Podia falar do Cinema Batalha, cujo anúncio de reabertura me motivou a escrever este post, e onde ainda no início dos anos de adolescente vi pela primeira vez o filme Cinema Paraíso, num domingo de manhã de sessão cineclubista em que as lágrimas me corriam imparáveis pela cara abaixo. Podia falar da Ribeira, da Foz, do Parque da Cidade, de Serralves e da sensação de "quem vem e atravessa o rio, junto à Serra do Pilar...", mas não teria muito mais a acrescentar ao que já disse e ao que sinto pela minha cidade, o Porto.

P.S.- ainda relativamente à reabertura do Cinema Batalha, tencionava falar sobre a inigualável D.Laura, sobre Rui Rio e sobre o milhão de contos que "arrancaram" ao Grupo Amorim aquando da polémica do plano de pormenor das Antas, mas comecei a pensar na minha cidade,o Porto, e no quanto gosto dela, e perdi a vontade de abordar coisas menos importantes.

1 comentário:

Carla disse...

passei por aqui por acaso, e gostei principalmente deste post, porque eu tambem andei no Luzinha e no Augusto Gil... e lembro-me de como era bom ir à senhora da janelinha comprar gomas... tambem ia montes de vezes ao vigorosa, e o nome Zé Rato diz-me alguma coisa mas nao me lembro... parabens plo blog... bjs

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