os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

17.5.06

Cortar o cabelo

Parte I- Onde se explica e contextualiza a coisa, e onde se levanta o véu sobre o que se vai seguir...

Durante grande parte da minha vida cortei o cabelo no Salão Luso, uma barbearia só para machos que ficava lá perto de casa. Desde cedo me comecei a habituar a ir sozinho. Chegava, alapava o cú no sofá, escolhia o desportivo que estivesse disponível e mal abria uma vaga em qualquer um dos 3 tipos que lá trabalhavam lá ia eu. Quando me perguntavam e então jovem como vamos cortar? eu, pequenino e ladino, respondia sempre da mesma maneira: curto mas não demasiado. Durante os anos da adolescência e do acne juvenil tive vontade de rapar o cabelo como os tropas que ia vendo em esporádicas viagens de comboio ou enquanto andavam à cata das melhores prostitutas nas esquinas da zona, mas quando me sentava e abria a boca para dizer ao que ia saia-me o mesmo curto mas não demasiado de sempre.
Já depois de sair da faculdade, homenzinho feito, casado de papel passado e tudo, quis o destino (e a minha mulher) que nos instalássemos noutra cidade, o que inevitavelmente contribuiu para me livrar do hábito/vício que era o Salão Luso. Assim sendo, numa atitude que teve tanto de coragem como de estupidez natural, pedi emprestado ao P. a sua máquina de cortar o cabelo. Confesso que ainda tive vontade de me auto-tosquiar, assinalando devidamente o meu capilar Grito do Ipiranga, mas acabei por ter juízo e pedi à A. que fizesse as honras. Aqui chegados, diga-se eufemisticamente falando que a coisa não correu bem. Inexperientes na difícil arte do manejo da dita roçadoura, nem eu nem a A. nos apercebemos que o corte estava a ser efectuado com a maquineta ao contrário, ou seja, sem as protecções e sem respeitar o tamanho desejado. O facto de imediatamente após o 1º contacto da máquina com o meu cabelo, a A. ter soltado um ai o que é que eu fiz? não augurava nada de bom e de facto, apenas 20 minutos depois e já com a entrada em cena da C., chamada qual 112 para tentar remediar o irremediável, eu tinha à minha frente no espelho da casa de banho um gajo com umas orelhas tipo dumbo e com uma semelhança gritante entre o tamanho da barba e do cabelo. Enfim, um ovo, um melão, um verdadeiro pêssego careca.
A verdade é que me habituei rapidamente ao novo estilo. Nunca estava despenteado, deixei de gastar dinheiro em champô e não havia caspa, piolho ou lêndea que me chegasse. Até que em Fevereiro do ano da graça de 2006 cedi finalmente a pressões de todos os quadrantes para que deixasse de me tosquiar e recorri pela primeira vez em 30 invernos (porque carga de água é que se há de dizer sempre primaveras?) a um cabeleireiro. Unisexo sim, mas cabeleireiro ainda assim. Engolindo em seco e ignorando aquela irritante vozinha, que todos os machos embebidos num espírito testosterónico ouvem, e que me dizia olha que isto é coisa de gajas ou de metrosexuais com dúvidas, olha que por este andar ainda acabas a cagar de esguelha e a levar na real bilha…, lá fui cabisbaixo e de mãos nos bolsos.

(continua…)

3 comentários:

Anónimo disse...

e... e... e acabaste a "cagar de esguelha e a levar na real bilha…" e o que é essa merda "curto mas não demasiado". Andas-me a ficar um "paneleirote"
Deixa mas é crescer um bigodinho.

wolverine disse...

bigode não diria mas já houve umas férias em que deixei crescer pêra. Dava então pelo sugestivo nome de el péron (assim mesmo em espanhol, para melhor acentuar o carácter de macho latino da coisa)

joana disse...

hilariante, no minimo!

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