Apesar de ser ateu, se bem que baptizado, sempre tive um interesse particular pela Igreja e pelas suas posições.
Talvez por ser verdade que a longuíssima herança histórica e os chamados valores cristãos difundidos pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) explicam em grande parte aquilo que somos enquanto sociedade, com os defeitos e as virtudes a isso naturalmente inerentes.
Vem isto a propósito do documento Sacramentum Caritatis, onde o Papa Bento XVI se debruçou sobre a eucaristia, deixando recomendações a fiéis e a sacerdotes. Se estes últimos ficam a saber que o celibato continuará a ser obrigatório (tomando como exemplo a "virgindade" (??) de Cristo), os primeiros confirmam sem grande surpresa que os divorciados católicos que voltem a casar continuam a estar proibidos de comungar. São sem dúvida temas interessantes, mas a verdadeira novidade do documento é a sugestão (não será mais instrução?) para que nas eucaristias de maior dimensão se recuperem práticas antigas como o canto gregoriano e as liturgias em latim.
Ora, nas poucas missas a que vou assistindo confesso que uma das coisas que pior impressão me causa é a nítida sensação que muitos dos crentes se limitam a repetir mecanicamente e entredentes o ritual de termos e orações, com evidente prejuízo para a espiritualidade que julgo ser o objectivo pretendido. Sugerir, com o recurso a uma língua morta e enterrada, o regresso a um tempo em que a Igreja cultivava um distanciamento formal entre sacerdote e congregação parece-me claramente um erro. Não duvido que alguns possam ver nisto um misto de coerência, uma tentativa de unificar de alguma forma as celebrações nos diferentes países ou até uma forma de a ICAR não deixar diluir os seus valores, mas se o caminho é esse então qual será o passo seguinte: voltamos a ter o senhor padre de costas para os fiéis?
Pela fé, pelos valores, enfim pelo peso que ainda tem nas mentes e opiniões de muitos, a Igreja continua a ser nos difíceis tempos que correm uma instituição importante. Fechar-se desta forma numa trincheira pode assegurar a sua sobrevivência mas duvido que a longo prazo se revele benéfico tanto para a ICAR como para a sociedade.
De qualquer forma, e para que tenham uma noção daquilo que está em cima da mesa, sai um Pai Nosso para irem decorando:
Pater noster, Qui es in caelis,
sanctificetur nomem tuum. Adveniat regnum tuum.
Fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panen nostrum quotidianum da nobis hodie.
Et dimitte nobis debita nostra, sicut et
nos dimittimus debitoribus nostri.
Et ne nos inducas in tentationem: sed libera nos a malo.
Amen.
os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse
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8 comentários:
A verdade é que a Igreja se vai distanciando cada vez mais dos seus fiéis...
:)
p.s.- contente pelo regresso...
obrigada, Wolverine, também já estava com saudades.
Por o Tema Religião ser muito importante, não quero deixar de comentar a Notícia.
O que se pretende com os Rituais???
Respondo: um traço de União entre as pessoas!
Mas quando o Estar é diverso - que traço é que une?
Um texto, por mais expoado de particularidades, tem sempre uma conotação com uma época ou com os valores de quem quer liderar um movimento.
Talvez esse Traço de União não deva ser um Texto, mas um Espaço e um Som!
Todas as Religiões têm sons rituais em que a música não tem texto, mas ritmos repetidos, que nos fazem abstrair das coisas próximas e nos levam a vaguearpor dentro de nós.
o Batuque em África, as danças do Índios, os rituais dos Aborígenes não têm textos complexos são sons e gestos ritualizados, executados em comum que serviram e servem de união a toda essa gente.
o Cantigo Gregoriano para mim funciona. Não percebo pêva do que eles dizem, mas descansa-me, como me descansa a música dos budistas e dos tais aborígenes que há bem pouco ouvi deliciado na Antena 2, com aquele corno imenso a soprar e uns sons guturais ritmados e uns chocalhos a tempo.
É que eu gosto mais da música da Salvé rainha do que da sua letra Pimba que deprime qualquer mortal!
dr. melífluo,
quer-me parecer que aquilo que gosta tem mais a ver com uma certa espiritualidade e emoção contida em determinadas músicas, e menos com religião.
A eucaristia já tem um ritual próprio, que ao longo do tempo evoluiu lentamente mas de forma a permitir uma ligação mais real entre a igreja e os fiéis. Concordo que o canto gregoriano poderia, se bem feito, produzir um momento muito sereno, enfim, altamente espiritual, mas o latim marca apenas um retrocesso! (se a ideia é unificar e tornar a missa compreensível para diversas nacionalidades o santo papa devia fazer como o resto dos comuns mortais e escolher o inglês...)
Respondo: Como ninguém percebe latim é pouco provável que o Papa queira usar essa língua como internacional.
O homem diz o que lhe é conveniente, uma vez que não pode dizer:
Vamos lá pôr o texto no mínimos e se a coisa soar Uhhmmm, Uhmmmmm, mhaaaammmMMM,UHHmmmm, vai dar certo!
2ªPergunta: quantos haverá na Igreja a ouvir as palavras?
Quantos estão à espera da deixa para reagir com as palavras que lhes disseram certas? e que em vez delas poderiam dizer mnhammmm, mnhammm! numas alturas e rac,raccc,raaccc! noutras, mantendo a mesma intencionalidade
nem mais...
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