os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse
8.3.07
Uma ideia perigosa.
"A petição contra a criação do Museu de Salazar em Santa Comba Dão, que começou a circular no passado sábado, reuniu já 3.500 assinaturas na Internet, segundo a União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses (URAP)."
Nunca vivi em ditadura. Direi mesmo que as únicas pessoas que exerceram verdadeira autoridade sobre mim em determinada fase da vida foram os meus pais, mas duvido que ser obrigado a comer a sopa até ao fim e ir para a cama depois do vitinho se possa comparar a viver num regime de opressão.
Admito por isso que me falte tarimba, experiência, quem sabe até maturidade e consciência política para opinar correctamente sobre este tema, mas isso é não só completamente irrelevante como constitui mesmo a beleza singular de viver em democracia. Mais do que a revolução do proletariado ou as conquistas dos trabalhadores, parece-me que o direito à opinião livre é a grande vitória de Abril. E esse direito, mesmo não sendo absoluto, não deve estar sujeito à visão das maiorias e muito menos a condicionalismos legais.
Consequentemente, aceito embora sem concordar que Salazar ou Cunhal possam ganhar um qualquer concurso televisivo e aceito embora sem perceber que haja indivíduos que insistem em endeusar os méritos de um regime que assegurava ordem a troco da liberdade individual de cada um. Tudo isto implica que também aceito com naturalidade que uma organização como a URAP sirva, 30 anos depois, para algo mais que jantares comemorativos onde se matam as saudades e se exibem as comendas. Que a URAP esteja contra a ideia de um museu de suposta glorificação de Salazar não é mais que uma atitude coerente. O que já me custa um pouco mais a perceber é que essa luta passe por uma tentativa de proibir por lei que isso possa acontecer. Aceito, mesmo sem compreender, que alguém goste de Salazar ou que preferisse até viver numa sociedade como a de então.
O perigo é que não aceitar agora este museu é estar a abrir a porta para que no futuro alguém se ache no direito de nos impor as opiniões e os gostos pessoais da maioria da altura.
Liberdade implica sempre o direito à subjectividade de apreciação, tanto do presente como do futuro.
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1 comentário:
caro dr. bunsen,
tal como disse no post não acho que o direito à opinião seja absoluto.
Ou seja, até posso compreender que na Alemanha seja proibido negar o holocausto (por razões históricas, por sentimentos de culpa e como forma de não deixar morrer o que se passou). Mas, por exemplo, terá alguma lógica que os franceses tenham recentemente votado uma LEI que criminaliza a negação do genocídio dos arménios pelos turcos no início do século passado?
É um jogo perigoso esta vontade de verter na lei limites ad hoc à liberdade de opinião. Que se proíbam discursos de inicitamento à violência é uma coisa, mas não acho que um museu Salazar (mesmo com o intuito idiota de glorificar o homem) caia dentro desse conceito.
Achas que o estado não pode promover este tipo de museu, mas a petição da URAP não se limita a pedir isso. Pede sim que o estado pura e simplesmente proíba por LEI a existência do tal museu. Porque é que a URAP não opta por insistir na legítima e lógica pretensão de que o estado use todo o espólio e os arquivos desse tempo e faça finalmente um museu sobre o antigo regime? Porque é que é tão importante calar legalmente alguns saudosistas do fascismo? A mim parece-me um claro paradoxo que um regime democrático enverede por este tipo de imposição fascisóide.
É no mínimo um precedente perigoso.
p.s.- e já agora, iria jogar direitinho nas mãos dos promotores do museu, dando-lhes ou publicidade gratuita ou o estatuto de "vítimas"...
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