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27.5.07

Calcanhar de Madjer foi há 20 anos...


Há 20 atrás, 27 de Maio foi uma 4ª feira. Uma 4ª feira que nunca mais esquecerei e que é sem dúvida alguma um dos dias mais felizes da minha vida. Tinha então 11 anos e por os nossos pais serem amigos, acabei por ir parar a casa dos pais do JB em frente da Xai-Xai a partir das 19h45 até não sei que horas porque, sinceramente, não me lembro bem do que se passou depois do apito final do árbitro Alexis Ponnet... Estava eu, o meu falecido pai, a minha mãe, a minha irmã, mais os pais e irmãos do JB e ainda se não me engano a família vizinha com quem o JB se dava bem (o P., a J. e respectivos pais) todos na sala onde muitas vezes jogamos ZX Spectrum.

Depois de termos derrotado na meia-final o mais que favorito Dínamo de Kiev que na altura representava quase 100% da selecção da antiga URSS, o sonho era grande, mas os alemães do Bayern de Munique cedo acalmaram as nossas expectativas marcando o primeiro golo antes das meia hora.

Mas a minha juventude, fazia-me acreditar na reviravolta fosse qual fosse o adversário. Na 1ª parte, jogamos pouquinho, parecendo que a equipa estava mais interessada em perder por poucos. Mas a 2ª parte trouxe um FCP totalmente diferente para muito melhor. As oportunidades sucediam-se mas a bola teimava em não entrar na baliza do Jean Marie Pfaff... Os minutos passavam, o Futre tem uma jogada inesquecível que foi uma pena não ter resultado em golo porque seria o melhor golo das finais...O 1-0 teimava em se manter, até que, por volta do minuto 75... Num assalto de superstição, resolvo dizer "Vou para o quarto ver na outra televisão para dar sorte" e lá fui. Ao minuto 77, Madjer marca o célebre golo de calcanhar que mudaria a história do futebol português além fronteiras. Senti uma alegria indescritível e recordo-me de ter vindo à sala onde estavam todos aos saltos e abraçados. Recordo-me de rodopiar deitado no chão da entrada da casa dos pais do JB e só por sorte não me magoei nas pernas de uma mesa ou armário que para lá tinha. (Na altura pensei no meio daquela excitação descontrolada se algum dia iria esquecer aquele festejo... Pelo vistos não!).
Com o jogo a recomeçar com a bola a meio campo e as pessoas na sala a dizerem-me "deste sorte!" eu resolvi voltar para o quarto porque a minha missão ainda não estava cumprida e um verdadeiro supersticioso mantém a receita! Voltei então para o quarto para "ver se dou outra vez sorte" e ali chegado dá-se a outra jogada genial do Madjer que culmina com o golo do Juary que nos veio a dar a 1ª Taça dos Clubes Campeões Europeus. Claro está que acabei nos Aliados onde já tinha estado a festejar a passagem à final.

Na altura, os meus pais tinham um vídeo-gravador de cassetes de sistema BETA e eu resolvi deixar a gravar a final na mesma cassete em que tinha gravado a 2ªmão da meia-final em Kiev. Como não estávamos em casa, gravou intervalo e tudo e por esse motivo a fita acabou a 1 minuto do fim não tendo gravado os célebres festejos do João Pinto.

Durante meses, revi o vídeo vezes sem conta, mas mesmo assim, ainda hoje, ao rever os lances dos golos, sinto um arrepio pelo corpo todo!

Na altura, como é óbvio, reclamei para mim uma ajudinha ao FCP ao ter feito aquela mudança táctica que deu sorte. O nosso amigo JB que, à época, era um menino invejoso e que tinha a mania que era mais inteligente, até numa altura destas, retorquiu "Não, não deste sorte! Estavas era a dar azar na sala..."

Como nota final, aquando da nossa chegada à final de Gelsenkirschen há 3 anos, a RTPN repetiu jogos dessa célebre caminhada de 1987. Confesso-vos que ao rever a 1ªmão da meia final no estádio das Antas contra o Dínamo de Kiev - eu estive lá - me desiludi pois não tinha ideia que jogávamos um futebolzinho tão aos "repelões" e à espera de uma iniciativa individual que à 10ª tentativa lá tivesse êxito. O Dínamo de Kiev jogava um futebol espectacular onde cada jogador sabia bem o que tinha que fazer, com triangulações "a régua e esquadro"... O nosso era um futebol operário salpicado por alguns génios como o Futre e o Madjer... Outros tempos! Hoje percebo ainda melhor a importância daquele feito e tenho perfeita noção que foi realmente uma vitória de David contra Golias...

1 comentário:

corto maltese disse...

...e eu que andei iludido estes anos todos. OBRIGADO, Spider.

não sei bem porquê mas de repente, lembrei-me de vocês com aquela idade.

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