os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

10.5.07

Perplexidades

hoje ao almoço esta com uns colegas de trabalho...

...um dizia que era o Pina Moura era uma vergonha... primeiro por ter ido trabalhar para Iberdrola após ter descaradamente beneficiado essa empresa quando foi ministro... e depois por ter aceite o lugar na Prisa... e que no caso do Balsemão é diferente porque ele foi empresário de Media toda a vida, mesmo antes de ter entrado na política...

... passados uns minutos o mesmo colega dizia que a entrevista ao Sócrates na RTP1 foi uma vergonha... que os jornalistas estavam notoriamente muito mal preparados, deixando o 1º Ministro à vontade durante todo o trabalho... só haveria 2 explicações possíveis para este facto, ou foram incompetentes ou o governo exerceu a sua influência sobre a RTP...

... passado uns minutos expressei a minha estupefacção por todos nos queixarmos da corrupção reinante no nosso país mas não agirmos em conformidade... apontei como exemplo o caso de Isaltino Morais, Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro, que apesar de serem suspeitos de práticas de corrupção durante os seus mandatos (ou no caso de VL no desempenho de outras funções de interesse público), foram reeleitos pelas populações de Oeiras, Felgueiras e Gondomar... responderam-me que no caso do Isaltino Morais, que era o que conheciam melhor, comprendiam o voto da população de Oeiras devido a tudo aquilo que o homem já fez pelo concelho... diziam-me que IM transformou Oeiras no concelho com melhor qualidade de vida em Portugal e que por isso as suas actividades corruptas podem ser relativizadas... que "no fundo receber luvas de empresários não é roubar o erário público", que "eles ganha tão pouco e fez tanto por Oeiras que é comprensivel que queira um pouco para ele", que "ele fez muito por Oeiras e o que ele roubou dá muito pouquinho a cada um de nós", que "ele ganhava muito pouco e é como no caso do Paulo Macedo não há problema que eles ganhem dinheiro quando são tão competentes" [esta mistura de alhos c/ bugalhos deixou-me sem palavras]... perguntei se ele tivesse morto alguém se também podia ser reeleito dado tudo o que fez por Oeiras... senão, considerando tudo o que fez, até quanto é que pode roubar? Como se estabelece o limite?... Perguntei se o Pinto da Costa deveria ser perdoado por todos os portugueses atendendo a tudo o que fez pelo clube, pelo porto, e pelo país?... Acho que acharam que era um extra-terrestre... por mim fiquei a pensar que se pessoas com a elevada educação, posição social e juventude dos meus interlocutores pensam assim, ainda precisamos de aquirir muita maturidade como cidadãos para fazer o nosso país progredir...

5 comentários:

wolverine disse...

Tendo em conta a cidade, o contexto da conversa e a companhia, digo-te que chamares à liça o Pintinho foi um momento de rara inspiração.

Presumo que alguns dos teus colegas andem pelos 20 e picos, o que apesar de não justificar, ajuda a explicar certos comentários.
Generalizando um pouco, acho que a maturidade, entendida aqui como a maneira de encarar a vida, é um conceito dinâmico que se altera consoante as etapas porque cada um passa. Trocando a coisa por miúdos:

-ao entrar na universidade sentes ,naturalmente, que os putos do liceu são quase crianças e olhas a vida de uma forma diferente...
-ao chegares ao último ano do curso sentes, naturalmente, que os caloiros são quase crianças e olhas a vida de uma forma diferente...
-enfim, o mesmo se pode dizer acerca de entrar no mercado de trabalho, sair de casa dos pais, morar com um companheiro/a, ter filhos, etc...
No fundo aquilo que estou a dizer, de uma forma algo confusa mas agora não vou voltar atrás, é que em toda e qualquer uma destas etapas provavelmente cada um de nós se sentia muito maduro para a idade e só mais tarde, depois de ultrapassar uma ou mais das etapas seguintes é que conseguimos realmente entender melhor quem somos e contextualizar bem aquilo que se passa à nossa volta.

wolverine disse...

Dito isto, acrescento que o meu ideal de almoço fora de casa é comer sozinho e poder ler mais ou menos tranquilamente o jornal.

abraço.

corto maltese disse...

Wolve,

para mim, mais que a imaturidade (que como é obvio também é considerável), esta conversa reflete a falta de consciência pública, que continua a marcar o atraso de Portugal em diversas áreas. A relativização/desculpabilização dos problemas mais próximos, e por outro lado "o apontar do dedo" a quem, em diferentes coordenadas geográficas tem comportamentos semelhantes, não podem ser entendidas ou desculpadas pela juventude dos intervinientes. Aliás, acho que devem ser precisamente as pessoas mais novas a mudar este tipo de comportamento. Ainda para mais quando se tratam, como é referido, de pessoas com acesso à informação; social, economica e culturalmente privilegiadas.

wolverine disse...

corto,
concordo que a juventude não desculpa, apenas e só ajuda a perceber.
Novamente generalizando, o que digo é que se qualquer um de nós fosse confrontado com algumas das opiniões que tinha há 10 anos provavelmente não se iria rever nelas, o que longe de representar por si só alguma incoerência releva sim uma evolução natural.

Quanto à mudança de comportamentos que as gerações mais novas devem trazer, acho mais realista pensar que são os trintões como nós que se encontram na melhor posição para ir fazendo esse processo.

Anónimo disse...

JB:
A vida é um jogo! Joga-se com regras! QUEM NÃO CUMPRE AS REGRAS DEVE SER PENALIZADO!
Mas as regras integradas na sociedade (isto é, que a maioria cumpre) não são as mesmas que foram judicialmente estabelecidas.
Ex: Não fumar em estabelecimentos públicos, Cumprir os limites de velocidade, Não fugir aos impostos, Não meter cunhas para os familiares e amigos, Fazer grandes alterações ao projecto de construção entregue na Câmara, Evitar chegar atrasado, Não meter baixa por conveniência, Denunciar as fraudes que identificamos, Não poluir o ar e a água, ...
Como socialmente se permitem muitas destas coisas, outras ficam validadas.!

O modo de estar no mundo mudou tanto nos últimos 30 anos que muitas das coisas que anteriormente eram aceitáveis, agora o não são! Mas 30 anos é pouco tempo para mudar comportamentos sociais!

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