os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

20.7.06

Sem outros temas e sem inspiração, volto a um dos meus assuntos favoritos: eu!

Ao longo da minha vida fui acusado várias vezes de ser um gajo exagerado. Fui também repetidamente acusado de ser um gajo que lida mal com a mudança, uma criatura de hábitos, e pior ainda, um gajo com tendência para a acomodação. Com o sentido de auto-crítica que tenho, que diga-se foi nascendo pela calada com o passar dos anos, venho por este meio afirmar que era tudo verdade e disponho-me até a corroborar esta afirmação com alguns exemplos.
Exagerava sempre que dizia, ao comer mais uma francesinha acompanhada pelo indispensável fininho, que no mundo e arredores não havia nada melhor e que era capaz de comer aquilo todos os dias, durante toda a vida.
Quando o Público mudou de grafismo, na fase em que o lia diariamente sem falta, amuei e chamei-lhe nomes como um reles amante traído, até ter conseguido pouco a pouco superar o trauma.
Quando entrava no café onde fiz o curso, pelo menos nos 4 primeiros anos até aquilo virar churrasqueira, dava-me um gozo supremo, uma fútil sensação de superioridade sobre os clientes de ocasião, virar-me para o Sr. António (um porreiraço como poucos conheci na vida) e dizer "o costume" do alto das minhas tamanquinhas. Ainda hoje aliás, tenho uma pouco saudável dificuldade em estar num café e não pedir "uma torrada e uma meia de leite directa".
No dia em que comuniquei aos meus melhores amigos que ia dar o nó passados 2 ou 3 meses , saiu-me um "em princípio vou-me casar", lapsus linguae que me irá ser merecidamente atirado à cara para o resto da vida.

"Todo o mundo é composto de mudança" e eu, não fugindo à regra, também mudei. Analisando todas as cambiantes, acho que nos últimos 15 anos mudei mais que os ideais do Partido Comunista Português e menos que o Michael Jackson. Continuo a ver futebol com uma paixão irracional, mas diminuí francamente o número de asneiras que digo. Continuo a ter orgulho em ser tripeiro, mas já não moro no Porto, já não sou bairrista e acho que já não troco os b's pelos v's (ou seriam os v's pelos b's?). Continuo a detestar acordar de manhã e ter que num estado de meia vigília passar uma lâmina afiada junto às carótidas, mas já não me dou ao luxo burguês de andar com aspecto de arrumador. Continuo a não gostar de farinha de pau, mas devoro com um prazer quase pecaminoso bróculos, cebola e grelos (tudo coisas que antes me suscitavam apenas um ar levemente enjoado).
Continuo, como se pode comprovar, a gostar de me ouvir e de me ler, continuo com a convicção que tenho coisas válidas a dizer, a acrescentar ao ruído geral. E continuo a ter uma estranha tendência para me desviar dum objectivo inicial, que no caso deste post era tão somente dar-vos conta que me rendi totalmente aos encantos da cozinha japonesa (empurrado pela A, pelo cM e pela S.).
Para um gajo que há 4 anos, e após a 1ª experiência com sushi, acabou a noite a cear 3 bifes em casa da mãe, isto é uma grande mudança.
Fica a sugestão, fica o nome do restaurante (Terra, na Foz) que a S. e o cM descobriram e fica também um conselho de amigo: provem de tudo, porque é tudo óptimo. Bom, tudo menos aquela mistela verde com propriedades explosivas e o gengibre que, com um pedido de perdão ao requintado paladar do cM, sabe a pétalas de rosa.
Ah, e continuo ainda e sempre a falar de mais.

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