os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

29.7.06

Boas e más notícias...

Boa notícia: o ministro das finanças entregou no parlamento documentos que parecem provar que no 1º semestre deste ano houve uma redução de 4 345 funcionários públicos (e não um aumento de 10 166, como se aventou há dias). Como estou farto de olhar para o copo e vê-lo sempre meio vazio, sinto-me tentado a acreditar.

Má notícia: todo o incrível processo da (do?) Gisberta. Foi espancada, torturada, violada e atirada para um poço do qual nunca veio a sair. Para a nossa justiça o essencial em toda a situação parece ser não traumatizar mais os pobres adolescentes que, coitados, já tiveram que responder em tribunal por isso e que, quais heróis, até colaboraram com o MP e responderam educadamente às perguntas do Juíz. Em Deus querendo hão-de vir a ser cidadãos exemplares...Assim vamos andando, uns inimputáveis, outros irresponsáveis, outros mortos por afogamento.

Boa notícia: a publicação da lista de devedores ao fisco, à qual se seguirá outra relativa à S. Social. A utilidade é algo duvidosa, mas ao menos serve para mudar a inútil conversa generalista "dos que fogem", sem que nunca se conheçam os bois pelos nomes.

Má notícia: a situação no mundo vai de mal a pior. Não bastavam os atoleiros Iraque e Afeganistão, não bastava o Ruanda e a Somália, isto sem mencionar os mísseis da Coreia do Norte e o programa nuclear do Irão. A guerra Israel-Hezbollah-Hamas-Síria-Irão está a resultar não só na destruição do Líbano e na morte de civis, mas também a conduzir o Médio Oriente para um buraco sem saída. O fanatismo extremista (criminoso!) de uns e a estupidez de processos (criminosa!) de outros torna difícil atribuir culpas, mas apesar de toda a revolta que massacres sem sentido como o de Qana fazem sentir, nós ocidentais só podemos torcer para que Israel acabe por conseguir levar a melhor sobre o Hezbollah. Qualquer outro cenário resultaria num pesadelo ainda maior que o actual.

26.7.06

J.

Este post é sobre o meu filho.
Confesso que sinto alguma relutância em falar dele aqui, como se fosse um passo abusivo juntar o mundo real com este país das maravilhas, esta realidade ficcionada que é a blogosfera. Mas ter um blog, alimentá-lo com as nossas ideias e às vezes com a nossa intimidade é sem sombra de dúvida uma forma de exposição. Controlada sim, mas ainda assim uma exposição. E por mais dúvidas que tenha, por maior que seja o desconforto que sinto em expôr também o J., que já tem personalidade própria mas que não pode ter voto na matéria, a verdade é que não poderia deixar de falar sobre o 1º aniversário do meu filho.
Falo de futebol, de política, de religião, falo de mim, falo um pouco de tudo e de nada. Hoje tenho o enorme prazer e chego até a sentir-me quase que obrigado a falar sobre alguém realmente importante, um VIP na verdadeira acepção do termo. Não vou gastar muito latim a babar sobre o J. e prometi a mim próprio que ia fazer um esforço consciente para evitar usar o sufixo inho (riquinho, fofinho, amorzinho,etc...) praga que parece atingir todos os pais e mães que conheço.
Sempre gostei do cheiro dele, do tacto e do contacto. De o ver primeiro a sorrir e depois, mais tarde, a dobrar o riso. Das tentativas de verbalizar, de comunicar. De o ver gatinhar como um GI Joe e agora começar a tentar andar. Olho para ele agora, quando dança ao lado da nossa cama aos domingos de manhã ao som dos amigos do gaspar, sempre ansioso por aprender coisas novas, por abarcar todo este imenso mundo novo que vai aos poucos descobrindo, e digo-vos que o amo desde que ele nasceu, mas que quanto mais o conheço mais gosto dele.



Estive para não pôr a foto, mas não resisti. Utilizando uma expressão que foi dita a brincar mas que não deixa de ser verdadeira: é tão bonito que nem parece filho do pai dele.

24.7.06

...

Fiel a mim próprio (o que diga-se de passagem e agora que penso nisso é uma frase um bocado ridícula, ou não fosse utilizada com frequência por jogadores da bola) eis que chega novamente a altura de voltar a abordar um dos meus ódios de estimação. Como não vou falar de Scolari (sob pena de ser logo classificado de anti-patriota), torna-se fácil concluir para os que me conhecem que o visado será Rui Rio (em consonância com um recente desafio de um ilustre comentador deste blog):

- Quando lhe caiu no colo a Câmara do Porto, devido ao furacão anti-Guterres que assolou o país e porque Fernando Gomes a perdeu (sim, porque nós os portuenses somos orgulhosos e não admitimos que nos tomem por garantidos), Rui Rio não tinha nem equipa nem programa para a cidade.

- A equipa que acabou por escolher à pressa revelou-se desastrosa e de todo o seu 1º mandato ficaram apenas e só 3 notas de maior registo, as únicas que qualquer pessoa mesmo que atenta à cidade pode ainda hoje identificar : 1- a não construção na orla do parque da cidade (ainda falta ver a que custo); 2- a polémica do plano de pormenor das Antas (que só serviu para arrancar 5 milhões de euros ao Grupo Amorim e dá-los à D.Laura) e a “guerra” com o FCP/futebol (que merecerá análise mais detalhada lá para a frente); 3- o grande prémio de automobilismo na Boavista (ideia absolutamente peregrina, típica de um “beto” saudosista de se passear nos paddocks, mas que pelos vistos até dá lucro…).
De resto, não houve nem há uma ideia condutora, um grande projecto que motive a cidade e a faça crescer. Confesso que para meu grande espanto isto foi suficiente para lhe valer a reeleição com maioria absoluta.

- Em tudo o resto, leia-se política cultural, requalificação urbana, afirmação do Porto como pólo aglutinador do Noroeste Peninsular (como os políticos tanto gostam de dizer), combate ao desemprego, promoção de uma cidade com melhor qualidade de vida, etc… Rui Rio falhou. Não há agente cultural da cidade que lhe reconheça algum mérito e, por exemplo, a forma como lidou com a Casa da Música (usada apenas e só para ajustar contas com Burmester) foi vergonhosa. O Rivoli foi primeiro abandonado para agora ser mais facilmente privatizado (o que pode até significar o fim do FANTAS na cidade) e quanto à tão propalada recuperação da Baixa, depois de 5 anos de RR temos como único resultado a ameaça velada que paira no ar de que a UNESCO poderá decidir retirar a classificação de Património da Humanidade, por evidente degradação do estado do parque habitacional. Já estava mal, ficou ainda pior.
Investimentos como o Corte Inglês, que poderiam devolver alguma vitalidade a uma zona tão abandonada, foram quase que empurrados para o outro lado do rio.

- Falando da pessoa em si, ou melhor do comportamento pessoal de RR enquanto Presidente da CMP, o que salta à vista é uma visão paranóica do mundo que o rodeia. Ele vê-se como o único detentor da verdade e junta na cabala para o atingir empresas como o JN, o DN e o Público. Até a Polícia Judiciária já mereceu idêntica apreciação. As recentes notícias vindas a lume acerca da utilização e do site da CMP (que anda a ser usado como veículo de propaganda a RR e de ataque aos seus críticos) são só a última demonstração duma evidente falta de espírito democrático e da flagrante incapacidade de lidar com opiniões divergentes da sua. Querem apoios camarários? Não se atrevam a criticar. Querem falar com os vereadores? Só por escrito e com prévia autorização do manda-chuva. Querem enquanto munícipes assistir às reuniões e colocar os vossos problemas? Mandem postais.
Isto já para não falar do raciocínio, à lá caudilho, que RR faz ligando o ter sido eleito com um qualquer direito de saltar por cima das leis existentes (veja-se o inacreditável caso do túnel de Ceuta e as declarações do Presidente da CMP a seu respeito).

Como justificar então o sucesso eleitoral de RR? Em grande parte porque, e contrariamente à ideia que circula na opinião pública, RR usa e abusa do futebol e conseguiu através deste conflito assegurar uma imagem de seriedade e de luta contra lobbys (ainda para mais sendo o Pinto da Costa uma figura tão amada no País…). Diga-se no entanto que a sua já longa associação política com Valentim Loureiro é estranhamente ignorada pela comunicação social dominante.
Esta sua guerra contra o futebol assegura-lhe outra coisa: garante que os verdadeiros problemas da cidade e da sua (não) gestão não serão discutidos. Fica este exemplo: um dia, num casamento de uma amiga da A., envolvi-me numa conversa sobre RR com um tipo com o qual aliás nunca me entendi muito bem. Falei de tudo, não só do que já leram acima, mas de outras situações que me abstenho de citar para não alargar mais este já extenso lençol. No final, ele virou-se para mim, encolheu os ombros e disse apenas: Oh pá, só dizes isso porque és portista.

A vox populi diz que Rui Rio é sério, o que sendo positivo não deixa de ser o mínimo exigível. O que faz falta é ser-se competente no que se faz e a sensação que tenho ao ver a forma como RR se relaciona com a cidade e os seus agentes (e não, já disse que não estou a falar de futebol) é a de algum incómodo, como se encarasse o cargo na CMP como uma etapa necessária mas algo chata na sua carreira política.
É uma apreciação naturalmente subjectiva, mas atrevo-me a dizer que Rio não morre de amores pelo Porto, ou fraseando a coisa de outra forma, gosta muito pouco de ser o seu presidente.

21.7.06

Porque...


... continuo a achar que o estado natural dos seres humanos é a errância...
... porque se pudesse viajava cada vez mais...
... porque o G. (quem me mostrou o video que se segue) parte na 2ª para Bali ...
... porque os livros de viagens continuam a ser aqueles, que mais prazer me dão a ler, com principal destaque para os do brilhante Bruce Chatwin...
... porque o video que vos mostro, incluindo personagem, música, dança, e locais escolhidos, é realmente muito bom...
... porque simplesmente me apeteceu, sem ter que vos dar grandes satisfações.

Aqui vai http://www.youtube.com/watch?v=bNF_P281Uu4

20.7.06

Sem outros temas e sem inspiração, volto a um dos meus assuntos favoritos: eu!

Ao longo da minha vida fui acusado várias vezes de ser um gajo exagerado. Fui também repetidamente acusado de ser um gajo que lida mal com a mudança, uma criatura de hábitos, e pior ainda, um gajo com tendência para a acomodação. Com o sentido de auto-crítica que tenho, que diga-se foi nascendo pela calada com o passar dos anos, venho por este meio afirmar que era tudo verdade e disponho-me até a corroborar esta afirmação com alguns exemplos.
Exagerava sempre que dizia, ao comer mais uma francesinha acompanhada pelo indispensável fininho, que no mundo e arredores não havia nada melhor e que era capaz de comer aquilo todos os dias, durante toda a vida.
Quando o Público mudou de grafismo, na fase em que o lia diariamente sem falta, amuei e chamei-lhe nomes como um reles amante traído, até ter conseguido pouco a pouco superar o trauma.
Quando entrava no café onde fiz o curso, pelo menos nos 4 primeiros anos até aquilo virar churrasqueira, dava-me um gozo supremo, uma fútil sensação de superioridade sobre os clientes de ocasião, virar-me para o Sr. António (um porreiraço como poucos conheci na vida) e dizer "o costume" do alto das minhas tamanquinhas. Ainda hoje aliás, tenho uma pouco saudável dificuldade em estar num café e não pedir "uma torrada e uma meia de leite directa".
No dia em que comuniquei aos meus melhores amigos que ia dar o nó passados 2 ou 3 meses , saiu-me um "em princípio vou-me casar", lapsus linguae que me irá ser merecidamente atirado à cara para o resto da vida.

"Todo o mundo é composto de mudança" e eu, não fugindo à regra, também mudei. Analisando todas as cambiantes, acho que nos últimos 15 anos mudei mais que os ideais do Partido Comunista Português e menos que o Michael Jackson. Continuo a ver futebol com uma paixão irracional, mas diminuí francamente o número de asneiras que digo. Continuo a ter orgulho em ser tripeiro, mas já não moro no Porto, já não sou bairrista e acho que já não troco os b's pelos v's (ou seriam os v's pelos b's?). Continuo a detestar acordar de manhã e ter que num estado de meia vigília passar uma lâmina afiada junto às carótidas, mas já não me dou ao luxo burguês de andar com aspecto de arrumador. Continuo a não gostar de farinha de pau, mas devoro com um prazer quase pecaminoso bróculos, cebola e grelos (tudo coisas que antes me suscitavam apenas um ar levemente enjoado).
Continuo, como se pode comprovar, a gostar de me ouvir e de me ler, continuo com a convicção que tenho coisas válidas a dizer, a acrescentar ao ruído geral. E continuo a ter uma estranha tendência para me desviar dum objectivo inicial, que no caso deste post era tão somente dar-vos conta que me rendi totalmente aos encantos da cozinha japonesa (empurrado pela A, pelo cM e pela S.).
Para um gajo que há 4 anos, e após a 1ª experiência com sushi, acabou a noite a cear 3 bifes em casa da mãe, isto é uma grande mudança.
Fica a sugestão, fica o nome do restaurante (Terra, na Foz) que a S. e o cM descobriram e fica também um conselho de amigo: provem de tudo, porque é tudo óptimo. Bom, tudo menos aquela mistela verde com propriedades explosivas e o gengibre que, com um pedido de perdão ao requintado paladar do cM, sabe a pétalas de rosa.
Ah, e continuo ainda e sempre a falar de mais.

18.7.06

My name is Baby, Sónia Baby.


Atenção aos incautos: segue-se um post de conteúdo pornográfico e de gosto discutível…

Já vai com uns dias de atraso devido a alguma falta de tempo, mas não podia deixar passar sem uma referência este invulgar acontecimento.
A menina da foto, uma espanhola com o sugestivo nome de guerra de Sónia Baby, foi uma das estrelas da recente 2ª edição do Salão Internacional Erótico de Lisboa. Ora isto por si só não é grande feito e não lhe garantiria o duvidoso privilégio de figurar como tema de post neste blog de machos lusitanos, que como se sabe são por tendência exigentes quanto à qualidade da comida que a esposa prepara, impiedosos quanto às exibições da sua equipa de futebol e dedicados servidores das suas amantes, que normalmente preferem alouradas, burras e com peitos volumosos.
Mas voltando então à Baby, que me cativou a atenção numa pequena notícia de telejornal, ela é nem mais nem menos que a mais recente coqueluche do cinema porno espanhol (diga-se de passagem que o castelhano é talvez a língua no mundo que melhor se presta à pornografia…), e destaca-se das demais companheiras por ser uma auto-intitulada acrobata vaginal. Numa altura em que a globalização e os gurus do neo-liberalismo insistem na importância da especialização como uma mais-valia, é de convir que ser doutorada num campo tão difícil e tão pouco explorado como o das acrobacias vaginais é claramente um ponto positivo para se ter num curriculum vitae. Sem mais delongas, diga-se que Sónia Baby tentou (no dia 14 do corrente mês) colocar uma corrente metálica com 20 metros dentro da sua vagina (o que caso tenha sido bem sucedido veio suplantar o seu anterior máximo de 15 metros). Se isto ainda vos parece coisa de somenos importância, saibam que iria também escrever com a vagina, retirar bandeiras e bolas de pingue-pongue. Para finalizar, e honestamente não posso garantir totalmente se de facto ouvi isto ou se já sou eu a delirar, ia jurar que Baby ia incluir no seu show (termo que raramente terá sido tão bem empregue) o arremesso ao ar de bananas. Segundo palavras da própria, num momento de rara inspiração, ”vai ser um pouco de tudo”.
Saibam ainda os mais curiosos que quando inquirida acerca da sua posição sexual favorita a actriz terá respondido, rápida e entusiasticamente, “Em cima dele, dominando. Pum! Pum! Pum!”. Abstenho-me de tentativas infantis de fazer graçolas fáceis, confesso que desconheço o desenlace do show e deixo o meu protesto por o espectáculo só decorrer em Lisboa, privando o resto do país da oportunidade de ver ao vivo esta atleta, versão moderna da mulher barbuda e do homem elefante e património da masculinidade.

P.S.- é algo envergonhado que me vejo literalmente obrigado, pela A., a deixar como adenda o seguinte esclarecimento: a parte em que se fala dos machos lusitanos é pura ficção e não tem nenhuma semelhança com a realidade deste que por ora vos fala. Ouvi tudo aqui num café perto de casa, numa cavaqueira entre 2 gajos gordos, carecas, de bigodes farfalhudos e com notória falta de dentes (essas sim, características típicas dos verdadeiros machos lusitanos…) juntamente com um aguçado sentido de auto-preservação e obediência à mulher.

14.7.06

Uma lição

Em todos os rankings internacionais relativos aos fenómenos da corrupção e morosidade/qualidade da justiça o nosso país está mal colocado (isto num contexto europeu).
A Itália, país da moda, das pizzas e das pastas, de Roma e Florença, do Vaticano, da comorra, de Leonardo e Michelangelo, de Cicciolina e Berlusconi, etc e tal..., também neste campo se tem destacado pelos piores motivos.
No entanto, e enquanto por cá vivemos o folhetim apito dourado há mais de 2 anos, sem um final lógico à vista e com um enredo ao nível das telenovelas mexicanas, e agora nos entretemos com a verdadeira palhaçada que é o caso Mateus, essa mesma Itália acaba de dar ao mundo uma demonstração (sem paralelo?) de rapidez e eficiência na aplicação da justiça. Ainda mais impressionante se tomarmos em conta que os envolvidos são apenas e só os mais poderosos e prestigiados clubes de futebol.
Dá vontade de rir pensar no que sucederia cá pelo luso burgo se, por exemplo, o Porto e o Benfica fossem condenados a descer de divisão ou a começar campeonatos com menos 10 ou 20 pontos que os restantes rivais. Atrevo-me a dizer que bem mais que todas as medidas de combate ao défice, bem mais que os ataques aos direitos adquiridos (supostamente para toda a eternidade, na mente de alguns...), uma situação dessas daria origem a um levantamento popular, ao estilo de um novo 25 de Abril.

10.7.06

Contra a corrente

Deixo desde já a ressalva de que não sou daqueles portistas que torceu contra Portugal! Sofri a bom sofrer sem, no entanto, igualar o que sinto quando é o meu FCP... Acho que o homem ao leme justifica...

Continuo na minha... Este senhor scolari ainda tem muita coisa a provar-me. Nem os resultados nem ninguém me conseguiu até hoje mudar a ideia de que este homem tem tido muita sorte em Portugal. Pode ser um motivador nato, mas é preciso ser mais que isso e é preciso saber escolher e saber decidir na altura certa. Portugal não tinha quase banco nenhum graças à sua teimosia em apostar em eternas promessas...

No Euro2004 foi o trabalho de um outro treinador (esse sim um sabedor), que o salvou depois de jogos de preparação humilhantes e uma estreia deprimente. No Mundial2006, um grupo "de caras", depois uma eliminatória de sorte contra a Holanda que criou oportunidades suficientes para ganhar e uma eliminação da Inglaterra (reduzida a 10 jogadores desde bem cedo) por penaltis...

Idolatram-no, choram se ele for embora... Oh meus amigos... Parece que estou mesmo no país errado!...

Tudo bem, 4ºlugar num Mundial é muito bom, não desminto, mas não consigo olhar para este 4º lugar e dizer que o merecemos inteiramente ou que até merecíamos ser campeões...

Scolari, vai com a Santa que tantas vezes te protegeu...

9.7.06

O Mundial.


Acabou. Parabéns à Itália, à bela Itália, pelo mais
que merecido tetracampeonato. Porque tem Cannavaro
e Pirlo (a quem alguns portugueses, idiotas iletrados com o pomposo título de especialistas da bola, insistem em chamar Pilro!!!).
Porque nos proporcionou o melhor momento do mundial
(o prolongamento contra a Alemanha). E porque a França não merecia ganhar, depois daquela demonstração de cinismo e catennacio na 2ª parte contra Portugal.


Acabou. De forma pouco coerente com a brilhante carreira que teve, o melhor jogador do mundo da última década despediu-se com uma cabeçada (aliás bem dada e também ela merecida), à moda do Cais de Sodré.





Quanto ao nosso mundial, cá ficam ao correr da pena algumas notas:
-Scolari mostrou que é de facto um motivador por excelência e um bom treinador de selecções. A boa performance merece ainda mais relevo porque foi conseguida com erros tão óbvios como a titularidade absoluta de Pauleta (quase sempre um jogador a menos tal como no Euro 04), a insistência jumenta em Postiga (um desastre) e em Costinha (a anos luz do que já foi capaz) em detrimento de Nuno Gomes e Petit, a opção de recurso em usar Ronaldo no meio literalmente apagando-o do jogo, a convocatória de Boa Morte (que terá sido seleccionado por saber boas
anedotas, tocar viola e cantar de cor as músicas do Roberto Leal, isto tendo em conta o tempo de jogo que teve e a falta de jeito que tem). Acho que Scolari deve continuar porque os resultados assim o exigem e porque seria difícil neste momento alguém que não ele pegar com sucesso na selecção. Continuar seria uma prova de alguma coragem tendo em conta a inevitável renovação de valores que está aí ao virar da esquina.
-Ricardo, que no dia do Portugal-Inglaterra me pareceu o melhor jogador do mundo apesar da voz de miúdo a quem os huevos ainda não desceram e da mania de falar de si próprio na 3ª pessoa, Figo, que mesmo sem pernas para 90 minutos lutou o que pôde, Costinha, Pauleta e outros, que sugeriram várias vezes que criticar a selecção era igual a não quer que Portugal ganhásse, deviam lembrar-se que são apenas jogadores de futebol numa competição desportiva.
Tal como todos os demais numa sociedade democrática (incluindo até o Presidente da República) também eles não têm um especial direito divino a pairar acima da crítica num
qualquer limbo de unanimismo bacoco. Eu por mim dispenso bem pseudo-lições de patriotismo, que diga-se de passagem não se mede pelo número de bandeiras que se põem nas janelas ou pelo número de camisolas da selecção nacional de futebol que se compram no continente.

5.7.06

Como é bela a esquizofrenia...


Esta 2ª feira, na Casa das Artes de Famalicão, vivi um dos melhores concertos da minha vida graças a estas 2 mulheres, Sierra e Bianca Casidy, aka Coco Rosie.
Antes do início do espectáculo corria célere pela assistência o boato 3 em 1 de que: "elas são irmãs, elas são lésbicas, elas são um casal".
A 1ª parte é verdade, a 2ª só elas sabem e só a elas interessa, a 3ª será naturalmente falsa.
Quanto ao concerto? peguem em 2 vozes completamente diferentes e ambas capazes de registos aparentemente impossíveis, misturem com sons de bonecos de crianças, pássaros (?), panelas (?) e outras merdas tais e polvilhem tudo com uma batida a meias entre a electrónica e os sons produzidos por um francês vestido à sítio do pica-pau amarelo e com uma performance 1/3 Ben Harper, 1/3 Bob Marley, 1/3 caixa de percussão. Para a noite ser perfeita só faltou aparecer o amigo Antony...
Caso não achem esta minha explicação convincente saibam que os entendidos classificam a música delas como indie-folk-tronic (!!!).
Mas a melhor análise ao concerto foi da autoria da A. que já perto do final e perante a alucinação que tomou conta das 2 maninhas, disse quem me dera tomar o que elas tomaram.

P.S.- a parte onde se lê "corria célere pela assistência" está francamente exagerada. Era mais entre eu, a A. e outro amigo. É que eu às vezes precipito-me.

4.7.06

A 1ª escolha - parte II. Onde o autor discorre, com alguma dose de pedantismo, sobre livros.

Por outro lado e em nítido contraste com os cd's, confesso que não sou capaz de nomear o 1º livro que comprei sozinho, mas não tenho nenhuma dificuldade em lembrar os últimos. Desde que com 7 ou 8 anos descobri a felicidade agarrado como um viciado aos Cinco da Enid Blyton, o livro nunca deixou de ser para mim um objecto de culto. E não falo só dos conteúdos, das histórias mais ou menos interessantes ou mesmo das diferentes formas de escrever de cada autor. Falo de uma atracção física pelo objecto em si, pelas suas formas, pelas suas texturas. Gosto da sensação táctil do virar das páginas, gosto do cheiro que delas emana. Gosto da solidão e daquela paz tranquila que só consigo atingir quando estou a ler. Gosto de dar largas à imaginação, de abandonar nem que seja por breves instantes o local em que estou e o corpo que a minha alma habita para pairar livremente sobre outros locais e sobre outros corpos. Admito que possa soar elitista e a armar ao pingarelho, mas a verdade é que poderíamos perfeitamente generalizar um conhecido dito filosófico e propor algo do estilo diz-me que livros leste e dir-te-ei quem és.
Já fiz há tempos, noutro espaço e com o meu alter-ego real, um top 5 de cd’s e de filmes, mas acabei por nunca conseguir organizar, dessa forma necessariamente simplista e redutora, o meu gosto pelos livros. É que tal como para as pessoas que connosco se cruzam na vida, também para determinados livros há um tempo certo, uma altura ideal para com eles entrar em contacto. Não sei dizer se neste momento teria algum prazer em ler por exemplo Os Capitães da Areia, de Jorge Amado, mas sei que quando tinha 13 ou 14 anos o devorei completamente naquilo que foram 2 longas noites, com lágrimas constantes e algo salgadas a caírem dos olhos para os cantos da boca, e com o meu irmão a dormir tranquilo na cama ao lado e a cidade e os seus poucos habitantes nocturnos de então, as putas, os clientes e os taxistas, do lado de fora. Lembro-me do gozo que me deu descobrir Eça de Queirós e os seus Maias, Carlos e Eduarda, o seu Padre Amaro e aquele seu fabuloso Raposão com a inenarrável relíquia para a titi. Nunca me esquecerei do frenesim quase infantil em que vivi mergulhado durante a leitura do Senhor dos Anéis ou da emoção contente que tirei do Velho que lia Romances de Amor e do seu fantástico episódio do dentista itinerante e do tipo que tirou todos os seus dentes sem anestesia por causa duma aposta com os amigos. Lembro-me também da descoberta de Mário Vargas Llosa na sua Festa do Chibo e do fabuloso Pantaleão com as suas visitadoras, o melhor chulo jamais contado. Não quero também deixar de mencionar, apesar do post já ir longo, quiçá até demasiado, Paul Auster, outro dos meus habituais escritores de mesinha de cabeceira e já agora Umberto Eco com quem aprendi o verdadeiro significado de Dominicanos.
Numa altura em que qualquer roto escreve um livro (não sei se é real mas parece-me que tudo começou quando a Caras Lindas, esse génio da literatura, lançou o Sandálias de Prata...) mas em que paradoxalmente as novas gerações cada vez lêem menos (não, os jornais desportivos e os sms's com língua de trapos não contam) eu, que de anos só conto 30, vejo-me compelido a fazer ainda e sempre esta figura de velho do restelo.

1.7.06

A 1ª escolha, ou pelo menos uma das...

Um dos momentos mais marcantes na minha transição entre miúdo e adolescente, fase tantas vezes penosa e tão repleta de mini-dramas, foi a 1ª vez que tive oportunidade de comprar algo para mim, a possibilidade de escolher aquilo que verdadeiramente queria sem ter os meus pais ou outro adulto qualquer a olhar por cima do ombro (outra coisa que também marcou essa fase, com viscosos tons de amarelo purulento, foi a presença mais ou menos constante daquele fenómeno conhecido pelo terrífico nome de acne juvenil, entidade castradora da auto-estima e do sucesso com o sexo oposto).
Mas voltando ao início, que como se sabe é normalmente o lugar ideal para se começar, dizia eu que me marcou essa 1ª escolha, essa agradável sensação de estar sozinho numa loja repleta de gente, só eu e os 3 ou 4 contos que trazia nos bolsos das calças (que eram obviamente de ganga como está bom de ver depois de anos e anos em que só andava de calças de fato de treino). Era, a tal loja, cujo nome não recordo (Tubitek?) mas que morava na Praça D.Manuel I em pleno coração da baixa portuense, uma discoteca, saudosa recordação daquele longínquo passado em que as lojas só vendiam um tipo de artigo. A minha escolha na altura, na única oportunidade que tive, que qualquer um de nós tem para fazer a primeira escolha, recaiu sobre um fabuloso cd chamado "Morrison Hotel" daquela mítica banda the Doors. Quase 20 anos depois não deixa de ter algum significado que me lembre tão bem desse momento mas que não seja honestamente capaz de dizer qual foi o último cd que comprei, nem já agora quando isso aconteceu.
Entre amigos que sacam (belíssimo eufemismo) músicas da net e cd’s copiados directamente de originais que alguma avis rara tenha comprado, a minha motivação para gastar dinheiro nestes produtos é praticamente residual. É de facto difícil encarar a pirataria de cd’s, e já agora de DVD’s, como um crime a evitar, pela simplicidade do processo e porque toda a gente faz o mesmo (um pouco como acelerar quando o semáforo está amarelo).

continua...
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