os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

24.7.06

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Fiel a mim próprio (o que diga-se de passagem e agora que penso nisso é uma frase um bocado ridícula, ou não fosse utilizada com frequência por jogadores da bola) eis que chega novamente a altura de voltar a abordar um dos meus ódios de estimação. Como não vou falar de Scolari (sob pena de ser logo classificado de anti-patriota), torna-se fácil concluir para os que me conhecem que o visado será Rui Rio (em consonância com um recente desafio de um ilustre comentador deste blog):

- Quando lhe caiu no colo a Câmara do Porto, devido ao furacão anti-Guterres que assolou o país e porque Fernando Gomes a perdeu (sim, porque nós os portuenses somos orgulhosos e não admitimos que nos tomem por garantidos), Rui Rio não tinha nem equipa nem programa para a cidade.

- A equipa que acabou por escolher à pressa revelou-se desastrosa e de todo o seu 1º mandato ficaram apenas e só 3 notas de maior registo, as únicas que qualquer pessoa mesmo que atenta à cidade pode ainda hoje identificar : 1- a não construção na orla do parque da cidade (ainda falta ver a que custo); 2- a polémica do plano de pormenor das Antas (que só serviu para arrancar 5 milhões de euros ao Grupo Amorim e dá-los à D.Laura) e a “guerra” com o FCP/futebol (que merecerá análise mais detalhada lá para a frente); 3- o grande prémio de automobilismo na Boavista (ideia absolutamente peregrina, típica de um “beto” saudosista de se passear nos paddocks, mas que pelos vistos até dá lucro…).
De resto, não houve nem há uma ideia condutora, um grande projecto que motive a cidade e a faça crescer. Confesso que para meu grande espanto isto foi suficiente para lhe valer a reeleição com maioria absoluta.

- Em tudo o resto, leia-se política cultural, requalificação urbana, afirmação do Porto como pólo aglutinador do Noroeste Peninsular (como os políticos tanto gostam de dizer), combate ao desemprego, promoção de uma cidade com melhor qualidade de vida, etc… Rui Rio falhou. Não há agente cultural da cidade que lhe reconheça algum mérito e, por exemplo, a forma como lidou com a Casa da Música (usada apenas e só para ajustar contas com Burmester) foi vergonhosa. O Rivoli foi primeiro abandonado para agora ser mais facilmente privatizado (o que pode até significar o fim do FANTAS na cidade) e quanto à tão propalada recuperação da Baixa, depois de 5 anos de RR temos como único resultado a ameaça velada que paira no ar de que a UNESCO poderá decidir retirar a classificação de Património da Humanidade, por evidente degradação do estado do parque habitacional. Já estava mal, ficou ainda pior.
Investimentos como o Corte Inglês, que poderiam devolver alguma vitalidade a uma zona tão abandonada, foram quase que empurrados para o outro lado do rio.

- Falando da pessoa em si, ou melhor do comportamento pessoal de RR enquanto Presidente da CMP, o que salta à vista é uma visão paranóica do mundo que o rodeia. Ele vê-se como o único detentor da verdade e junta na cabala para o atingir empresas como o JN, o DN e o Público. Até a Polícia Judiciária já mereceu idêntica apreciação. As recentes notícias vindas a lume acerca da utilização e do site da CMP (que anda a ser usado como veículo de propaganda a RR e de ataque aos seus críticos) são só a última demonstração duma evidente falta de espírito democrático e da flagrante incapacidade de lidar com opiniões divergentes da sua. Querem apoios camarários? Não se atrevam a criticar. Querem falar com os vereadores? Só por escrito e com prévia autorização do manda-chuva. Querem enquanto munícipes assistir às reuniões e colocar os vossos problemas? Mandem postais.
Isto já para não falar do raciocínio, à lá caudilho, que RR faz ligando o ter sido eleito com um qualquer direito de saltar por cima das leis existentes (veja-se o inacreditável caso do túnel de Ceuta e as declarações do Presidente da CMP a seu respeito).

Como justificar então o sucesso eleitoral de RR? Em grande parte porque, e contrariamente à ideia que circula na opinião pública, RR usa e abusa do futebol e conseguiu através deste conflito assegurar uma imagem de seriedade e de luta contra lobbys (ainda para mais sendo o Pinto da Costa uma figura tão amada no País…). Diga-se no entanto que a sua já longa associação política com Valentim Loureiro é estranhamente ignorada pela comunicação social dominante.
Esta sua guerra contra o futebol assegura-lhe outra coisa: garante que os verdadeiros problemas da cidade e da sua (não) gestão não serão discutidos. Fica este exemplo: um dia, num casamento de uma amiga da A., envolvi-me numa conversa sobre RR com um tipo com o qual aliás nunca me entendi muito bem. Falei de tudo, não só do que já leram acima, mas de outras situações que me abstenho de citar para não alargar mais este já extenso lençol. No final, ele virou-se para mim, encolheu os ombros e disse apenas: Oh pá, só dizes isso porque és portista.

A vox populi diz que Rui Rio é sério, o que sendo positivo não deixa de ser o mínimo exigível. O que faz falta é ser-se competente no que se faz e a sensação que tenho ao ver a forma como RR se relaciona com a cidade e os seus agentes (e não, já disse que não estou a falar de futebol) é a de algum incómodo, como se encarasse o cargo na CMP como uma etapa necessária mas algo chata na sua carreira política.
É uma apreciação naturalmente subjectiva, mas atrevo-me a dizer que Rio não morre de amores pelo Porto, ou fraseando a coisa de outra forma, gosta muito pouco de ser o seu presidente.

6 comentários:

joana disse...

Eu por acaso gosto do RR. Exactamente porque é sério e porque acho que é competente do ponto de vista técnico. Também, pela guerra que faz ao futebol que não é tudo na vida - eu sou portista! E Wolverine, acho que ele gosta do Porto!
O problema do RR é que ele é obstinado quase fundamentalista em relação àquilo que ele acredita ser ou não adequado à cidade. Como tu, demasiado fiel a ele próprio. Só que, no caso dele, dá asneira porque ele não é um homem de visão, não tem horizontes alargados, perspectiva de futuro. Vai gerindo o dia a dia da cidade. Falta-lhe o rasgo de um Vieira de Carvalho (que não conheci mas) que fez da Maia uma cidade. É esse rasgo, que também faltou ao Salazar em relação às nossas ex-colonias, que faz a diferença entre o governante que deixa história e, neste caso, mais um presidente da camara.

corto maltese disse...

wolve,

sabes que em geral estou de acordo contigo, e infelizmente as colagens futebolísticas para desculpabilizar as críticas a esse senhor, têm sido quanto a mim, o seu balão de oxigénio.

Para além de tudo o resto, e como já referi num post que falava deste mesmo assunto, há quase meio ano, ele conseguiu parar, aos mais diversos níveis, a câmara do Porto.

A questão do Corte Inglês, é que não foi bem como tu dizes. De facto, o R.R. quis levar o corte ingles para a baixa, mais concretamente para o antigo edifício dos correios, actual edifício administrativo da câmara; e com isto dinamizar aquela área. Foi o corte ingles que não o quis, preferindo instalar-se na boavista, defendendo que essa zona tinha melhores acessos viários.

Koba disse...

Aqui não posso contrariar nenhum dos teus argumentos: não vivo no Porto e, com grande pena minha, não visito o Porto há mais de um ano.

Diria, apenas, o seguinte:

1. Seja por uma questão de imagem ou por convicção, a verdade é que para o resto do país passou a ideia de um tipo que defendia os interesses da cidade acima dos interesses dos lobies mais fortes da cidade, entre eles o do fcp. Isso agradou.

2. Não acredito que um Presidente de CM que se recandidata não goste da cidade. Basta ver os exemplos de Santana Lopes (que não gosta de nada a não ser dele próprio) na Figueira e em Lisboa para perceber a diferença.

3. Nós em Lisboa também não gostamos que nos tomem por garantidos e, graças a isso, conseguimos correr com um razoável Presidente da CML que, notoriamente, gostava de Lisboa. No seu lugar, pusemos um palerma que arruínou o trânsito na cidade para construir um túnel, ao invés de fazer uma extensão da linha de metro (sim, na cidade das sete colinas não há uma linha de metro que chegue a uma única dessas colinas, o que é notável...). Ou seja, vocês trocaram um tripeiro de gema por outro, nós trocámos um lisboeta por um aventureiro. Bem sei que me dirão que com o nosso mal podem bem, mas é só para verem o contraste...

wolverine disse...

Como já disse no post eu de facto não gosto nada de RR. Nem daquilo que mostra como pessoa nem do seu trabalho na CMP.
Mas pensando mais friamente no assunto, e no seguimento da discussão da nova lei das finanças locais, chego à triste conclusão que posso generalizar a coisa e dizer que cada vez mais olho para os autarcas com desencanto. Se temos cidades de crescimento descontrolado de betão, repletas de rotundas, de pisicnas municipais e pavilhões multiusos sem uso nenhum, grande parte da responsabilidade é deles (e já agora nossa que os vamos escolhendo mal, como diz o Koba). É impossível visitar cidades como p.e. Barcelona, ver a forma bem estruturada como cresceu e mudou, e sentir que por cá tal não poderia acontecer.
Penso por exemplo na Expo (que reabilitou a zona oriental de Lisboa, mas com prejuízos inimagináveis), penso na mão cheia de nada em que se transformou o Porto 2001 (orgulhosa capital europeia da cultura), penso na forma como vão deixar mutilar a imagem da casa da música com o edifício ginestal...É deprimente, e é significativo que os autarcas (e já agora os presidentes das regiões autónomas) vão passando mais ou menos incólumes a tudo, sempre escudados na inépcia (também ela evidente) dos governos centrais e contando com o apoio tantas vezes acéfalo das populações locais, sempre prontas a cuspir nos políticos "lá de Lisboa" e a defender os "de cá da terra", por mais incompetentes, burgessos ou até corruptos que sejam.

corto,
tens toda a razão.

cas,
o que lhe falta em rasgo sobra em paranóia e prepotência.

Koba disse...

Aí está, caro Wolverine, um ponto em que estamos em desacordo: a Expo, na verdade, não deu prejuízo nenhum. Ou melhor, pode ter dado prejuízo financeiro, mas deu, certamente, um enorme lucro social.

Aos sábados e domingos, as famílias daquelas zonas (de Lisboa e dos arredores) enchem a Expo. É certo que não trazem qualquer benefício financeiro para o país, porque pouco pagam ou consomem.

Mas é um dos tais sítios em que o cidadão sente "ah! então foi isto que fizeram com o dinheiro dos meus impostos".

Pessoalmente, não gosto da zona da Expo. Mas que fazia falta, fazia. O mesmo se passou com o CCB: hoje ninguém fala do custo, fala-se do benefício social e cultural para a cidade.

Já a Casa da Música, dizem-me que é um fracasso. Não sei, não tenho acompanhado. Mas se os portuenses encherem a Casa da Música, não se pode dizer que tenha sido um negócio ruinoso. Pode-se dizer, outrossim, que foi uma boa iniciativa para o Porto.

wolverine disse...

Caro Koba,
eu não critico o que se fez na zona da Expo. Mesmo não conhecendo Lisboa em profundidade (confesso que com muita pena minha) concordo que é uma situação em que houve um ganho objectivo, tendo-se passado de uma zona degradada e sem uso para um espaço agradável e do qual as pessoas usufruem. (tal como em Barcelona, na zona do porto olímpico e mais recentemente na zona do fórum no fim da av.diagonal). Do mesmo modo,acho que a Casa da Música é um projecto fabuloso,um caso claro de um investimento positivo.
O que me parece incrível é por um lado, a ruinosa e pouco transparente gestão financeira da Expo e a derrapagem na construção da CM, e por outro lado a estupidez em estado puro que é permitir a construção de um edifício de 7 andares a 50 metros da CM.

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