Caro Wolverine,
Desculpa a demora na resposta, mas diversos afazeres impediram-me de comentar mais cedo o teu post "Carta a um amigo" de 29.01.06.
Folgo em saber que até estamos de acordo na questão do direito ao casamento dos homosexuais.
Também concordo contigo quando referes que a questão da adopção de crianças por casais homosexuais é um tema [ainda mais] delicado e com muitas áreas cinzentas. Confesso que os teus comentários me ajudaram a reflectir um pouco mais sobre este tema, mas gostaria de esclarecer algo que julgo não ter escrito.
Penso que o casamento entre homosexuais apenas a si lhes diz respeito, e não tenho nada a opor a esta liberdade individual que não afecta a liberdade de terceiros. Na minha perspectiva, no caso da adopção de crianças a situação é diferente porque, como escreve um conhecido opinion-maker no Expresso desta semana, "ninguém tem o direito de presumir a vontade "alternativa" de uma criança".
Penso poder afirmar que é "normal" na nossa sociedade uma criança ter um pai e uma mãe, e que é "anormal" uma criança ter 2 pais ou 2 mães. Sublinhe-se que não está em causa nenhum juízo de valor sobre os méritos e deméritos de cada uma das situações, e que o termo "normal" apenas evidencia (por exemplo) que (1) estatisticamente a esmagadora maioria das crianças tem 1 pai 1 uma mãe; (2) que tradicionalmente a sociedade como um todo associa o termo pais a 1 homem e uma mulher; (3) que na natureza (não sei se existem excepções), os animais são criados por um macho e uma fêmea. O próprio facto da criação/geração de uma criança resultar do contributo de 1 homem e de 1 mulher reforça, de certa forma, a adequação da utilização deste termo.
Portanto, eu entendo que o direito a um casal homosexual adoptar uma criança intervêm na esfera de direitos individuais da criança ao pressupor que esta está disposta a assumir uma "anormalidade", o que me parece um abuso. Adicionalmente, pragmaticamente, entendo que a intolerância/incompreensão na nossa sociedade face à homosexualidade e a este tema em concreto, poderia ter repercussões sobre a vida da criança que ela não tem/deve suportar por não ter influência/escolha na decisão de ser educado por pais homosexuais.
Em resposta à tua resposta, gostaria apenas de esclarecer que em lado nenhum no meu post inicial advogo que "um casal por ser gay vai interferir com a liberdade de uma criança que crie porque a criança vai ser induzida, mesmo que inconscientemente e involuntariamente, a ser também ela gay...", conforme escreveste. (Onde diabo foste buscar essa ideia?)
Adicionalmente, também discordo quando escreves "o facto de tu [JB] achares que um casal hetero garante a liberdade e os direitos da criança e que um casal gay não o pode fazer, constitui um juízo de valor sobre a normalidade de ser heterossexual versus a anormalidade de ser homossexual". Penso não ter colocado a questão nos termos que descreves e nunca no texto ter efectuado qualquer juízo de valor sobre a homosexualidade.
Folgo em saber que até estamos de acordo na questão do direito ao casamento dos homosexuais.
Também concordo contigo quando referes que a questão da adopção de crianças por casais homosexuais é um tema [ainda mais] delicado e com muitas áreas cinzentas. Confesso que os teus comentários me ajudaram a reflectir um pouco mais sobre este tema, mas gostaria de esclarecer algo que julgo não ter escrito.
Penso que o casamento entre homosexuais apenas a si lhes diz respeito, e não tenho nada a opor a esta liberdade individual que não afecta a liberdade de terceiros. Na minha perspectiva, no caso da adopção de crianças a situação é diferente porque, como escreve um conhecido opinion-maker no Expresso desta semana, "ninguém tem o direito de presumir a vontade "alternativa" de uma criança".
Penso poder afirmar que é "normal" na nossa sociedade uma criança ter um pai e uma mãe, e que é "anormal" uma criança ter 2 pais ou 2 mães. Sublinhe-se que não está em causa nenhum juízo de valor sobre os méritos e deméritos de cada uma das situações, e que o termo "normal" apenas evidencia (por exemplo) que (1) estatisticamente a esmagadora maioria das crianças tem 1 pai 1 uma mãe; (2) que tradicionalmente a sociedade como um todo associa o termo pais a 1 homem e uma mulher; (3) que na natureza (não sei se existem excepções), os animais são criados por um macho e uma fêmea. O próprio facto da criação/geração de uma criança resultar do contributo de 1 homem e de 1 mulher reforça, de certa forma, a adequação da utilização deste termo.
Portanto, eu entendo que o direito a um casal homosexual adoptar uma criança intervêm na esfera de direitos individuais da criança ao pressupor que esta está disposta a assumir uma "anormalidade", o que me parece um abuso. Adicionalmente, pragmaticamente, entendo que a intolerância/incompreensão na nossa sociedade face à homosexualidade e a este tema em concreto, poderia ter repercussões sobre a vida da criança que ela não tem/deve suportar por não ter influência/escolha na decisão de ser educado por pais homosexuais.
Em resposta à tua resposta, gostaria apenas de esclarecer que em lado nenhum no meu post inicial advogo que "um casal por ser gay vai interferir com a liberdade de uma criança que crie porque a criança vai ser induzida, mesmo que inconscientemente e involuntariamente, a ser também ela gay...", conforme escreveste. (Onde diabo foste buscar essa ideia?)
Adicionalmente, também discordo quando escreves "o facto de tu [JB] achares que um casal hetero garante a liberdade e os direitos da criança e que um casal gay não o pode fazer, constitui um juízo de valor sobre a normalidade de ser heterossexual versus a anormalidade de ser homossexual". Penso não ter colocado a questão nos termos que descreves e nunca no texto ter efectuado qualquer juízo de valor sobre a homosexualidade.
Tendo dito isto, volto a reafirmar a minha concordância com a delicadeza do tema em discussão. Por exemplo, penso que levantas pontos interessantes quando referes que se concordamos com a possibilidade de uma pessoa solteira adoptar, não deveríamos objectar a que uma pessoa solteira homosexual exercesse o mesmo direito... Noto também que os argumentos que apresento em cima para justificar a recusa do direito à adopção de casais homosexuais poderiam ser utilizados de forma abusiva para justificar, por exemplo, que um casal de negros não pudesse adoptar uma criança branca, que um casal cristão não pudesse adoptar uma criança muçulmana, etc. Por último admito que o argumento da "actual intolerância/incompreensão face à homosexualidade e à adopção por casais homosexuais" implica que uma vez removido esses obstáculos o direito à adopção poderia passar a ser permitido.
1 comentário:
Caro JB
A "sociedade" nunca está verdadeiramente preparada para nenhuma grande alteração de fundo. Nem esteve no passado, como estes exemplos mostram: a abolição da escravatura, o direito de voto das mulheres, a igualdade racial,etc...
Até situaçoes como o direito ao aborto, a eutanásia ou mesmo a liberalização das drogas leves continuam a levantar grande polémica e são objecto de leis e atitudes diferentes consoante os países e as tradições culturais.
Assim sendo, concordo que uma criança poderia sofrer repercussões por ser criada por um casal homossexual, mas se não começarmos a alterar mentalidades isso nunca mudará.
às vezes, como em muitos dos exemplos que acima mencionei, a evolução social é necessariamente brusca e causa invariavelmente convulsões.
Para minorar estes problemas, acho que seria interessante uma abordagem em que se começasse por permitir casamentos homossexuais, e só depois de algum tempo de maturação e habituação da dita "sociedade", se abrisse a porta à adopção por parte desses casais. Seria uma forma ao mesmo tempo justa e pragmática.
P.S.- Só há uma questão prática sobre a qual gostava que opinasses. Tal como eu, achas lícito que uma pessoa homossexual solteira adopte uma criança. Óptimo. Mas o que achas que deve acontecer se essa pessoa decidir, num futuro mais ou menos imediato, juntar os trapinhos com outra?
Nada? Ou deve devolver a criança à procedência? Ou deve assumir à partida, e como condição para a adopção, um compromisso de celibato? Compreendes a dificuldade de diferenciar entre solteiros e casais?
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