os quatro elementos da natureza os quatro pilares da sabedoria os quatro atributos do corpo os quatro cavaleiros do apocalipse

28.2.06

Desabafos em azul e branco

O verdadeiro adepto de futebol possui algumas características e/ou idiossincrasias que o tornam único e insubstituível. A saber:
-1 ou ponto prévio- o verdadeiro adepto não só não sabe o que são idiossincrasias, como se está a cagar para isso.
1º- o verdadeiro adepto não gosta do seu clube. Ele ama-o. Isto apesar de saber que há coisas mais importantes na vida que o futebol e o clube, se bem que esta última premissa só é verdadeira quando o jogo acaba.
2º- o verdadeiro adepto é sócio, não se contenta com a mariquice de ser simpatizante. Sabe o seu número de associado de cor e utiliza-o sempre em qualquer discussão futebolística.
3º- o verdadeiro adepto vai sempre ao jogos em casa e tem um lugar cativo no estádio, que exibe como um troféu de caça.
4º- o verdadeiro adepto não atende o telemóvel e nunca se levanta a meio do jogo, mesmo que tenha vontades corporais difíceis de controlar. Se tem de verter águas ele aguenta firme apertando as pernas como se de uma barragem se tratasse. Se o caso é de tipologia sólida ele pode eventualmente optar por aliviar a pressão largando gases, de preferência com insonorização incorporada, o que garante algum anonimato. Diga-se que foi para estas situações que alguém se lembrou de fazer um intervalo a meio do jogo.
5º- o verdadeiro adepto nunca assobia a sua equipa e jamais festeja golos da equipa adversária, lançando olhares e não raras vezes palavras de repúdio perante outros supostos (obviamente não verdadeiros) adeptos que o façam. Se está realmente irritado com jogadores, treinador ou dirigentes, o verdadeiro adepto limita-se a não aplaudir.
6º- o verdadeiro adepto não utiliza o lenço cheio de ranho como instrumento de abano/descontentamento, pelo exposto no ponto 5 e por razões óbvias de higiene e respeito pelo próximo.
7º- o verdadeiro adepto nunca diz asneiras, excepto quando elas saem com tal velocidade das cordas vocais que se lhe escapam por entre os dentes.
8º- o verdadeiro adepto nunca quer ganhar com a ajuda do árbitro, excepto se tiver mesmo de ser.
9º- o verdadeiro adepto gosta de manifestações de fair-play e nunca encara os adversários como inimigos, excepto se a sua equipa estiver a perder.
10º- o verdadeiro adepto é fanático, mas consciente ao ponto de se recusar a envolver em pancadaria por causa de um simples jogo de futebol. Acima da honra do seu clube ou da honra da mãe do seu jogador preferido, o verdadeiro adepto tem mesmo assim a frieza de espírito de colocar outro valor sagrado: a integridade dos seus dentes.

27.2.06

Viciado!!


Normalmente não gosto do Carnaval. Já estou farto das imagens de brasileiras semi nuas a abanar o muito que têm para abanar em desfiles intermináveis e principalmente estou que nem posso com portuguesas com a mania que são brasileiras a tentar abanar o pouco que têm para abanar. Mas o dia 28 de Fevereiro de 2006 vai ser bom. Eis o programa de festividades:

02:45h- 22º episódio da série 1 de Perdidos.
15:00- 18.00h- 23º, 24º e 25º episódios da série 1 de Perdidos.
23:00h- exibição de Destination: lost, que presumo ser algum tipo de resumo da 1ª série.
23:45h- 1º episódio da 2ª série de Perdidos.

Posto isto resta-me dar os parabéns à tantas vezes justamente criticada RTP 1, por este brilhante exemplo de serviço público. Ainda por cima em overdose. E em reposição, para aqueles que como eu cometeram o pecado de falhar à 1ª oportunidade.


Desabafos em azul e branco

Hoje passei o dia indisposto. É que ontem comi um frango que me fez muito mal.

Uma no cravo, outra na ferradura

No seguimento da polémica dos cartoons (ou cartunes na brilhante adaptação à lingua camoniana) e no seguimento do debate dela decorrente acerca da liberdade de expressão e da conveniência ou não de eventuais limites a este direito, logo houve quem chamasse à liça a proibição vigente em alguns países de manifestações anti-semitas e leis anti-negação do holocausto. Como uma desgraça raramente vem só, quis o destino que fosse por esta altura conhecido o desenlace do julgamento de David Irving, historiador famoso pelas suas rebuscadas (e pelo menos para a esmagadora maioria dos europeus, a raiar a loucura) teorias de negação do holocausto. Um tribunal austríaco condenou-o recentemente a 3 anos de prisão.
Confesso que já tencionava abordar este tema, pela contradição óbvia que encerra numa altura em que por toda a Europa inúmeras vozes se levantam a glorificar a liberdade de expressão como expoente máximo da diferença e superioridade do Ocidente, mas acabo de ler aqui um texto que diz aquilo que eu também sinto e de uma forma que eu não seria capaz:

«It is hard to see what the Austrian court's sentence can add to that. Keeping Mr Irving in jail at most may stop him going to a conference that Mr Ahmadinejad is convening to ?rewrite and revise? the history of the holocaust. But against that small plus are two big minuses. One is that the sentence makes Mr Irving look a martyr. The other is that it makes the West look hypocritical: all too willing to bruise Muslim feelings, while protecting Jewish ones by law.Laws against holocaust denial (which 14 countries have) were never a good idea. The best defence against neo-Nazis is reason and ridicule, not the criminal law. But at a time when the western world is battling to defend free speech against religious zealotry, they look particularly indefensible. It is punishment enough for Mr Irving that he has lost his professional credibility. He should not lose his liberty too.»
(The Economist, 23 Fevereiro de 2006)

25.2.06

Um verdadeiro senhor


6ª feira à noite. Liga-se a televisão e como sempre nada de jeito. Novelas brasileiras de um lado, novelas portuguesas de outro, isto sem esquecer o mais idiota dos concursos que tenho visto nos últimos anos. Sobra a RTP 2. Chamem-me elitista à vontade mas é o único canal suportável entre as 21h e as 24h. Estava a dar um documentário sobre o senhor da foto, Júlio Pomar, que comecei a ver de lado, digamos assim como que em diagonal, mas que rapidamente me cativou a atenção. Superiormente realizado por um tal de António José de Almeida (que nem sequer vou fingir saber quem é...) mostra o trajecto do pintor por ordem mais ou menos cronológica e divide-se em testemunhos do próprio Pomar e de personalidades tão diversas como interessantes: Lobo Antunes, Siza Vieira, Mário Soares (acerca do fabuloso retrato dito informal exposto em Belém), para além de vários críticos de arte que eu naturalmente não poderia conhecer por manifesta ignorância acerca da área. O discurso directo dos intervenientes (fantástico o pormenor de não se ouvir uma vez sequer a voz do realizador) vai sendo enriquecido com imagens dos quadros de Pomar. Com 60 anos de carreira, o que é uma lição para todos aqueles que só pensam em se reformar o mais rápido possível, atravessou diversas fases desde pintura livre e gestual a colagens, de temas eróticos a retratos e ilustrações de obras literárias, até ao campo da escultura.
Ficou-me na memória uma situação contada por António Lobo Antunes, que falando acerca da longevidade e vontade de trabalhar de Júlio Pomar, contou que um dia uma sua empregada se virou para ele e lhe perguntou "porque é que o Sr.Pomar, já com os filhos criados, trabalha tanto?". O documentário dá a resposta nas palavras do próprio: "faço o que me apetece".
Num país que dá constantemente valor ao acessório e aos famosos instantâneos do boato fácil e das revistas cor-de-rosa, é bom descobrir gente assim.

23.2.06

!!!!

Numa atitude que prova que até um cego pode voltar a ver, um paralítico voltar a andar, um mudo falar, um surdo ouvir e um porco andar de bicicleta, Scolari chamou Ricardo Quaresma para o particular da selecção com a Arábia Saudita.

Fabuloso


Lionel Messi.
Lembro-me de o ver jogar ao vivo na inauguração do Estádio do Dragão. Entrou só uns minutinhos na 2ª parte, e mesmo com aquele relvado versão batatal deu para perceber que o miúdo, e atenção que não lhe chamo miúdo para armar aos cágados mas porque o tipo tinha então 16 (!!!) anos, poderia vir a justificar aquilo que dele diziam desde os seus 10 ou 11 anos: aqui estava o novo Maradona.
Àparte os dotes teatrais que também mostrou ontem contra o Chelsea, é forçoso dizer mesmo só tendo visto o resumo, que Messi é de facto genial.
E por mais que custe a Mourinho, qualquer adepto de bom futebol com um par de olhos na testa e um mínimo de vergonha na cara dirá que são equipas como este Barcelona e jogadores como Ronaldinho, Deco (ai que saudades...), Etoo e Messi, que fazem da arte do pontapé na bola o maior espectáculo do mundo. Digo eu, que até torço pelo Chelsea.

E achava eu que já tinha ouvido de tudo...

Hoje li noutro blog que Timothy Garton Ash, que podemos ler com alguma frequência no Público a discorrer sobre política internacional e nomeadamente sobre o Médio Oriente, terá dito à SIC Notícias que José Manuel Barroso é o "grande estadista do momento na Europa".
Perante esta afirmação vinda de um analista experiente e ainda para mais credível, só há duas conclusões possíveis:
- ou o gajo se enganou, o que a mim me parece óbvio, e pronto ok tudo porreiro ficamos só com aquele orgulho tipicamente tuga de falarem bem dos nossos lá fora,
- ou o gajo tem razão, e nesse caso meus amigos, temo que a crise que a Europa vive seja bem pior do que seria imaginável.

P.S.- sem querer elevá-los ao estatuto de grandes estadistas, o que claramente não são, será que um Tony Blair ou uma Angela Merkel não têm mais conteúdo, mais visão, enfim mais quase tudo que o nosso Durão?

21.2.06

O NORTE



"Primeiro, as verdades. O Norte é mais Português que Portugal. As minhotassão as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província maisestragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Vianasecreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo àvista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde- rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, quese vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se brancoao olhar. Até o granito das casas. Mais verdades. No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Nãoé difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar umaninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal. Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas dePortugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existemsozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizernortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falammais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro. Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Nãohaja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norteapenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte éonde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, acorrer por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro.Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte,Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade.Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especialmas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso àparte.Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. Asilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam,qual hipermercado de mil misturadas, Continente.No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem nãoquer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não éasséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem essedefeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de(algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios econservadores (menos portugueses) nessas coisas.O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelhapequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis,daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas.Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas nãodão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas,erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade.Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo oude uma panela, quando se lhes falta ao respeito.Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas,de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto dasburguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todasmedo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o queestão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidemsilenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dãoimportância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos. O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessemtanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório.Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira queeu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério ecompete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascemescolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ouAmarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como osPortugueses haviam de defender Portugal no mundo.Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. EmViana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima.Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Nortenão tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ouTrás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é.Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, paraos muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com aterra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar. O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nóstodos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm dedizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fossesó um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelosoutros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?"
por Miguel Esteves Cardoso

Notícia de última hora

*****- avisa-se os mais incautos do conteúdo herético daquilo que se segue.

Estou em condições de garantir através de um telex recebido via Agência Noticiosa Belzebú que há mudanças em Fátima. De facto, e depois daquela poderosa manifestação popular com milhares de pessoas a agitar o famoso lençinho branco à passagem quer do caixão da Irmã Lúcia quer da imagem de Nossa Senhora, o Presidente da SAD do Fátima Santuário Clube não teve alternativa e para aplacar a ira dos outrora crentes adeptos viu-se forçado a cancelar a recente transferência de Lúcia, cujos restos mortais já terão sido devolvidos via encomenda expresso para o seu anterior clube das Carmelitas, e a despedir litigiosamente a imagem de nossa Senhora apesar dos bons resultados a que ela levou o emblema do Santuário nos últimos anos, nomeadamente a nível do aumento de receitas na caixa de esmolas. Chegou também ao meu conhecimento através do espírito santo de orelha que já terá sido contactada para ocupar o lugar de mister do Fátima, a Nossa Senhora de Jacarandá de Itapaiguaçú do Rio Grande do Nordeste do Sul, famosa por ter levado recentemente de vencida o rival IURD FC na final do último inter estadual religioso.
À saída das instalações do clube que ajudou a construir, a imagem de Nossa Senhora de Fátima disse aos repórteres que apesar deste calvário presente a vida continua e que está naturalmente disponível para aceitar convites que possam surgir. Circulam já à boca pequena rumores do possível interesse do Lourdes Club de Futbol e do Santíssimo de Roma. Declarou ainda não estar nada surpreendida com estes recentes desenvolvimentos porque a Irmã Lúcia, que como todos sabemos tinha olho para estas coisas, já tinha visto nas cartas que isto iria acontecer.

17.2.06

Chover no molhado

Domingo de manhã, em todas as televisões do país, a Irmã Lúcia ou melhor dizendo o seu caixão. Mesmo cometendo o pecado de ser relapso e contumaz e porque a carne é de facto fraca não resisto a voltar ao tema. Ouço que perto de 250 mil pessoas estarão em Fátima para assistir em directo a este momento. Já imagino a poderosa imagem televisiva que 250 mil mãos a abanar o seu lençinho branco à passagem do cortejo transladatório (?) nos irão proporcionar. Já imagino até a possibilidade de rever aquele desaparecido, aquele ícone de todos os portugueses bem formados o artista anteriormente conhecido como Paulinho das feiras a reaparecer com o seu ar tão compungido quanto humanamente possível e talvez de lágrima não caída mas adivinhada ao canto do olho. Já se posicionam as barraquinhas para venda de medalhas e imagens comemorativas do evento, talvez até t-shirts a dizer eu estive lá.
Já passou 1 ano. Já foi chorada, lembrada e enterrada uma vez. Ninguém morre duas vezes. Se a irmã Lúcia escolheu, honra lhe seja feita, viver sempre de forma recatada, será necessário este exagero/histerismo mediático? Quanto dinheiro não ganhará com isto o santo Santuário? Mistérios da fé...

O melhor conselho

É verdade que há momentos na vida em que nos falta algo, mas se há coisa sempre presente e normalmente em abundância é gente pronta a dar conselhos.
Começando logo na altura em que cambaleantes nos atrevemos a tentar os primeiros passos e cuidado não caias cuidado olha o degrau, passando pelas primeiras refeições do come a sopa para ficares com os olhos bonitos e pela escola com o estuda se queres ser alguém na vida, a realidade nua e crua é que passamos a vida a ser bombardeados com conselhos. O percurso em si é fácil, a dificuldade é decidir quais os que devemos seguir.
À medida que os anos avançam e nós naturalmente crescemos os conselhos naturalmente crescem connosco e tal como as pessoas que os dão são de todas as formas e feitios. Olha para a esquerda e para a direita antes de atravessares de preferência nas passadeiras evita as más companhias não fumes não bebas não conduzas se beberes usa sempre preservativo. Faz como te digo se fosse a ti tu é que sabes mas olha que eu... tanto podem representar genuína preocupação com o nosso estar bem como simplesmente um lavar de mãos um bom agora se fizeres asneira a culpa é só tua que eu já disse o que tinha a dizer.
Para mim, que agora só recebo conselhos olha que o bébé isto olha que o bébé aquilo, o melhor que já recebi foi me dado acabado de cumprir 18 invernos só para não dizer sempre primaveras por um tipo cujo nome já não recordo mas que exercia aquela função essencial na vida de qualquer aspirante a adulto, a nobre se bem que muitas vezes pouco valorizada posição de instrutor de condução. Disse-me ele que só parava de falar para respirar Sr. André sim porque apesar de ele ter mais de 60 anos e eu só 18 sempre me chamou Sr.André mas dizia eu ou melhor dizia ele Sr.André e prometo que é desta vez que conto o que ele dizia o Sr. nunca se esqueça disto que lhe vou dizer, o maior perigo na estrada e na condução não são os velhos nem as mulheres, o maior perigo são os condutores de chapéu ou de boina, opinião que 12 anos e muitos milhares de quilómetros depois eu partilho subscrevo e transmito agradecido.

16.2.06

Nascimento

Falar alemão sem esforço: Curso de 5 anos

European Commission has just announced an agreement whereby English will be the official language of the European Union rather than German, which was the other possibility.

As part of the negotiations, the British Government conceded that English spelling had some room for improvement and has accepted a 5- year phase-in plan that would become known as "Euro-English".

In the first year, "s" will replace the soft "c". Sertainly, this will make the sivil servants jump with joy.

The hard "c" will be dropped in favour of "k". This should klear up konfusion, and keyboards kan have one less letter.

There will be growing publik enthusiasm in the sekond year when the troublesome "ph" will be replaced with "f". This will make words like fotograf 20% shorter.

In the 3rd year, publik akseptanse of the new spelling kan be expekted to reach the stage where more komplikated changes are possible.

Governments will enkourage the removal of double letters which have always ben a deterent to akurate speling.

Also, al wil agre that the horibl mes of the silent "e" in the languag is disgrasful and it should go away.

By the 4th yer people wil be reseptiv to steps such as replasing "th" with "z" and "w" with "v".

During ze fifz yer, ze unesesary "o" kan be dropd from vords kontaining "ou" and after ziz fifz yer, ve vil hav a reil sensibl riten styl.

Zer vil be no mor trubl or difikultis and evrivun vil find it ezi tu understand ech oza. Ze drem of a united urop vil finali kum tru.

Und efter ze fifz yer, ve vil al be speking German like zey vunted in ze forst plas.

15.2.06

Vergonhoso




"os agressores somos nós..." ?

"jogo de futebol..." ?

Bem escolhido

Ontem, dia 14 de Fevereiro, foi dia dos Namorados.
Ontem, dia 14 de Fevereiro, foi dia Europeu da Disfunção Eréctil.
???Quem terá sido o visionário responsável por esta estranha coincidência?

????

Transcrição textual e integral das 2 mensagens que recebi no dia 14 de Fevereiro, dia dos namorados.

mensagem 1- recebida às 11:50
"Amo-te! Sera esta a palavra + dita no dia14.Envia esta sms a 14 pesoas s n enviars ninguém t dira. Kem t devolver n s emportav k lh diseses: "Amo-te"!

mensagem 2- recebida às 11:53
"Dscp engameime no numero. peço dscp pelo enkomodo

12.2.06

O país real

Há poucos dias o futuro ex-Presidente da República Jorge Sampaio fez a sua última tournée ou presidência aberta, como se convencionou chamar àquelas passeatas. Não vou entrar na discussão que ouvi em alguns programas radiofónicos sobre a utilidade ou não das ditas, mas à laia de resumo posso adiantar que o único exemplo de utilidade prática que os participantes foram capazes de apontar ad nauseum em 10 anos de vá para fora cá dentro do PR, foi o caso das duas miúdas transmontanas que iam abandonar a escola por falta de transporte e agora, aleluia milagre digno da virgem, ei-las a cursar o ensino superior, que aliás de superior só tem o nome mas isso serão contas de outro rosário.
Aquilo que verdadeiramente me espicaçou a verve, tantas vezes fácil e inconsequente, foram as referências àquela difusa entidade, o "país real".
Sim, porque não há político que se preze que tendo oportunidade de se apanhar na rua, ao ar livre, na inauguração de mais uma rotunda, fontanário ou estatueta de ídolo local, não apregoe aos 4 ventos e preferencialmente aos microfones que lhe puserem à frente, o seu amor ao país real, normalmente acompanhado por um estudado desdém aos corredores e gabinetes de "lisboa". Ah, eles amam o contacto com o p-o-v-o, distribuem bacalhaus pelos homens e beijos repenicados e sonoros nas bochechas rosadas das velhinhas que se lhes penduram nos pescoços, sem esquecer as crianças que invariavelmente aparecem à mão de semear para a foto da praxe no colo do sempre sorridente político. Eles são como nós, de carne e de osso feitos, e esperam que esta evidência lhes garanta mais um voto, já que grão a grão...
Bom, mas voltando à vaca fria (?) o que eu tencionava mesmo era discorrer sobre o "país real" e assim sendo cá vai um exercício que é uma óbvia generalização com todos os defeitos daí decorrentes e que aviso desde já será constituído por partes iguais de pragmatismo, pedantismo, snobismo e talvez outros ismos que agora não me ocorrem.
Definir o país real? O país real gosta de se deitar tarde, de se levantar ainda mais tarde e depois gosta de ir para os cafés discutir porque é que o País não vai p'rá frente (palmilha dentada dixit). O país real vive à procura de um emprego mas recusa um trabalho. Adora criticar os funcionários públicos "essa cambada de privilegiados" mas está sempre em busca da cunha que lhe permita tornar-se um deles. O país real conduz mal, não paga impostos e reclama subsídios. Está sempre pronto a sacar do coldre da inveja o dedo acusador. Bloqueia estradas, fecha escolas a cadeado, boicota eleições. Vai para a porta dos tribunais para insultar os réus, trepando uns em cima dos outros para conseguir uma mísera espreitadela dos "assassinos, ladrões, filhos desta e daquela". Diz mal dos políticos que vê na TV mas defende, até a porrada se preciso for, os caciques locais "que roubam mas têm obra feita". O país real tira moncos do nariz quando está parado nos semáforos e não lava as mãos depois de ir à casa de banho. O país real não escova os dentes excepto se for dia de ir "ao doutor dentista" e acha que fio dental é só uma cueca sexy. O país real usa palito, toma antibióticos para tratar uma constipação e tem sempre "um vizinho" ou "um amigo" que tem sempre opinião sobre tudo e no qual confia cegamente. O país real vê o Goucha e a Fátima de manhã, os moranguitos ao fim da tarde, e as sacrossantas novelas à noite. O país real vai de dia a Fátima rezar Pai Nossos, e à noite recita qual ovelhinha a oração da bunda do "fiel ou infiel".O país real ouve tony carreira e os d'zrt e só tem em casa os livros que saíram de graça no jornal de domingo. O país real não tem dinheiro para mandar cantar um cego (?) mas aposta balúrdios no euromilhões. O país real dá traques nos autocarros lotados e espera sempre que seja o gajo do lado a levantar-se para dar o lugar à velhinha que acabou de entrar. O país real passa o tempo a dizer mal do país real.
O país real...sou eu, somos todos nós. Uns mais outros menos, mas todos. E não me venham com a cantiga de que gosto de dizer mal de Portugal, porque o país real é cá dentro, é lá fora, é em todo o lado.
E sim, sem dúvida que o país real também tem coisas boas, mas a mim estão-me sempre a dizer "os teus posts são grandes demais", por isso essa parte do país real fica a vosso cargo. Ou não.

11.2.06

Demência? Sem dúvida...

O parlamento madeirense aprovou, através do voto da maioria absoluta do PSD, um requerimento no sentido de proceder "à avaliação das faculdades mentais" de um deputado do PS que denunciou publicamente a existência de um clima de corrupção e compadrio, responsabilizando os homens que estão à frente dos destinos da ilha há mais de 30 anos.
O chefe da bancada social-democrata, Jaime Ramos, um dos delfins de Alberto João, defendeu este requerimento dizendo que "quando há demência mental, tem de ser tratada".
Compreendo que graças à enorme lista de dislates e boçalidades de AJ Jardim e restante séquito, tudo o que politicamente falando vem da Madeira já não surpreende. Já todos vimos este filme vezes sem conta: líderes partidários assobiam para o lado, comentadores evitam gastar cartuchos e tempo de antena sempre a martelar na mesma tecla, até Presidentes da República encolhem os ombros e não comentam. Mas tem que haver limites. Não podemos pura e simplesmente ter chegado a um tal estado de indiferença e inércia que deixemos passar o que quer que seja, escudados no argumento de que não vale a pena lutar contra tais bovinidades.
Seria bom que não só a imprensa em geral, mas também Marques Mendes, Sócrates, Cavaco e principalmente Sampaio (em vez de se entreter a visitar os concelhos que lhe faltavam para dizer que esteve em todo o lado e a distribuir comendas a torto e a direito) se preocupassem com este ataque por delito de opinião, digno de um qualquer regime fascizóide.
Ou será que agora só nos preocupamos com a liberdade de expressão dos cartoonistas dinamarqueses?

10.2.06

E agora, algo completamente diferente

Pfffff...depois de escrever dois posts seguidos sobre o Scolari sentia que precisava de algo que exorcizasse a sua imagem da minha cabeça.
Tentei rezas e esconjuros, tentei crucifixos e alhos (como o mítico Oliveirinha...), mas nada parecia resultar.
Até que encontrei as imagens que se seguem, que tomo a liberdade de compartilhar convosco para que a catarse seja colectiva.










com a devida vénia ao local de onde as roubei.

7.2.06

Este gajo é mesmo um senhor...

Não tencionava voltar tão cedo ao lugar do crime, ou melhor dizendo, ao mesmo tema. Sim, é verdade, vou falar novamente daquele curioso personagem (não, não é o Jeremias, o fora-da-lei) mas sim o gigantone mal articulado que dá pelo nome de Scolari.
Porra, ouço-vos murmurar entre dentes, outra vez!! Mas este gajo não falará de mais nada?
Antes de mais, e à laia de pífia justificação, digo em minha defesa que só ontem tomei conhecimento dos factos sobre os quais doravante vou discorrer, nomeadamente a entrevista que o dito deu a uma rádio, ou usando aquele dialecto que o gajo usou e que há quem jure que era Inglês, a intreviú.
Vou retroceder no tempo até ao ano da graça de 2004, e eis que aterro no exacto momento em que numa conferência de imprensa, e perante uma plateia que por definição devia ser de jornalistas mas que na altura se comportou como adeptos (até palmas e vivas se ouviram...), o Felipão pôs um anel no dedo simbolizando o casamento entre o próprio e a Federação por mais 2 anos, até ao mundial.
No entanto, o facto de ser casado não impediu o seleccionador de ter uma atitude que só se pode classificar como adúltera, levantando a saia e fazendo de forma descarada olhinhos a outro parceiro/patrão. A reacção da parte encornada, aquele invertebrado bexigoso chamado Madaíl, foi tipicamente mansa, limitando-se a chamar a atenção à esposa de que deve ser fiel...isto em vez de se comportar como um macho, e depois de a insultar com todos os nomes de puta prá baixo e o marcar com a flor de lis, lhe dar um pontapé nas partes traseiras que para mais são abundantes à custa de tanta farofa e arroz com feijão.

Eu cá, que gosto tanto dele como de pimenta no cú, digo-lhe daqui, no dialecto dele e silabado para que se perceba:
gude baí ande donte lete da dore ite iú one dauei oute.

6.2.06

Co Adriaanse

Um comentário muito rápido ( e atrasado) à questão do ataque sofrido pelo Mister Adriaanse. Penso acima de tudo que o comportamento da claque reflecte actos passados irresponsáveis da administração da SAD. O sucedido na semana passada foi uma tempestade semeada pela SAD, quando no ano passado ( e no ano anterior) pensaram que poderiam controlar a "indisciplina" dos jogadores e pô-los na ordem caucionando, sem qualquer reparo, actos indignos e lamentáveis dos SD. A invasão do treino para obter esclarecimentos junto do treinador e jogadores, as ameaças de agressão no aeroporto do Funchal, as ameaças ao Derlei, as ameaças ao Mourinho, etc., constituem exemplos de situações em que a administração da SAD nunca mostrou o mínimo de incomodo pela actuação dos SD, bem pelo contrário. Os resultados estão à vista...

Não tenho grande simpatia pelo Adriaanse, visto discordar de várias das suas opções e dado o FCP estar a jogar tão mal. No entanto, penso que a época passada e os nossos rivais directos proporcionaram vários exemplos como a opção de substituir um treinador a meio da época pode ser contraproducente. Por esta razão, e pelo facto de estarmos em primeiro no campeonato, penso não fazer sentido discutir o despedimento do treinador.

5.2.06

Breve resposta à carta de um amigo

Caro Wolverine,
Desculpa a demora na resposta, mas diversos afazeres impediram-me de comentar mais cedo o teu post "Carta a um amigo" de 29.01.06.

Folgo em saber que até estamos de acordo na questão do direito ao casamento dos homosexuais.

Também concordo contigo quando referes que a questão da adopção de crianças por casais homosexuais é um tema [ainda mais] delicado e com muitas áreas cinzentas. Confesso que os teus comentários me ajudaram a reflectir um pouco mais sobre este tema, mas gostaria de esclarecer algo que julgo não ter escrito.

Penso que o casamento entre homosexuais apenas a si lhes diz respeito, e não tenho nada a opor a esta liberdade individual que não afecta a liberdade de terceiros. Na minha perspectiva, no caso da adopção de crianças a situação é diferente porque, como escreve um conhecido opinion-maker no Expresso desta semana, "ninguém tem o direito de presumir a vontade "alternativa" de uma criança".

Penso poder afirmar que é "normal" na nossa sociedade uma criança ter um pai e uma mãe, e que é "anormal" uma criança ter 2 pais ou 2 mães. Sublinhe-se que não está em causa nenhum juízo de valor sobre os méritos e deméritos de cada uma das situações, e que o termo "normal" apenas evidencia (por exemplo) que (1) estatisticamente a esmagadora maioria das crianças tem 1 pai 1 uma mãe; (2) que tradicionalmente a sociedade como um todo associa o termo pais a 1 homem e uma mulher; (3) que na natureza (não sei se existem excepções), os animais são criados por um macho e uma fêmea. O próprio facto da criação/geração de uma criança resultar do contributo de 1 homem e de 1 mulher reforça, de certa forma, a adequação da utilização deste termo.

Portanto, eu entendo que o direito a um casal homosexual adoptar uma criança intervêm na esfera de direitos individuais da criança ao pressupor que esta está disposta a assumir uma "anormalidade", o que me parece um abuso. Adicionalmente, pragmaticamente, entendo que a intolerância/incompreensão na nossa sociedade face à homosexualidade e a este tema em concreto, poderia ter repercussões sobre a vida da criança que ela não tem/deve suportar por não ter influência/escolha na decisão de ser educado por pais homosexuais.

Em resposta à tua resposta, gostaria apenas de esclarecer que em lado nenhum no meu post inicial advogo que "um casal por ser gay vai interferir com a liberdade de uma criança que crie porque a criança vai ser induzida, mesmo que inconscientemente e involuntariamente, a ser também ela gay...", conforme escreveste. (Onde diabo foste buscar essa ideia?)

Adicionalmente, também discordo quando escreves "o facto de tu [JB] achares que um casal hetero garante a liberdade e os direitos da criança e que um casal gay não o pode fazer, constitui um juízo de valor sobre a normalidade de ser heterossexual versus a anormalidade de ser homossexual". Penso não ter colocado a questão nos termos que descreves e nunca no texto ter efectuado qualquer juízo de valor sobre a homosexualidade.
Tendo dito isto, volto a reafirmar a minha concordância com a delicadeza do tema em discussão. Por exemplo, penso que levantas pontos interessantes quando referes que se concordamos com a possibilidade de uma pessoa solteira adoptar, não deveríamos objectar a que uma pessoa solteira homosexual exercesse o mesmo direito... Noto também que os argumentos que apresento em cima para justificar a recusa do direito à adopção de casais homosexuais poderiam ser utilizados de forma abusiva para justificar, por exemplo, que um casal de negros não pudesse adoptar uma criança branca, que um casal cristão não pudesse adoptar uma criança muçulmana, etc. Por último admito que o argumento da "actual intolerância/incompreensão face à homosexualidade e à adopção por casais homosexuais" implica que uma vez removido esses obstáculos o direito à adopção poderia passar a ser permitido.

Jogo psicológico?


Só há um seleccionador de futebol no mundo inteiro que é capaz de dizer, sem se rir, que "Portugal não é mais forte que Angola".
Por incrível que pareça à primeira vista, esse seleccionador é o nosso. Aquele sargentão brasileiro que achou desde início, mesmo antes das polémicas todas, que os 300 km que separam Lisboa do Porto justificavam não pensar sequer em ver um único jogo do FCP ao vivo, mas a quem os milhares de km até ao Egipto não impediram (e bem) de ir ver jogar Angola.
Sim, sim, já sei que a frase é provavelmente uma tentativa de evitar desconcentrações e aquela atitude do "já está ganho" tão típica do tuga (com os resultados que se viram no último mundial), mas não haverá outra forma de motivar os jogadores? É que assim é descaramento a mais...

3.2.06

Liberdades, direitos e deveres


Como uma verdadeira Maria vai com as outras, não podia deixar de abordar a polémica da moda, sem sombra de dúvida, os cartoons representando o profeta Maomé, que escancararam a caixa de Pandora que é a eterna discussão da liberdade de expressão e se ela se compadece com a existência de limites.
Como o tema é melindroso optei por alterar o modus operandi que às vezes sigo e desta vez decidi informar-me/ler o mais possível sobre o assunto antes de emitir uma opinião.
Concordo com o conceito de que a liberdade de expressão é um valor fundamental e que é precisamente nos momentos em que alguém emite uma opinião ou tem uma atitude que levanta grande polémica ou é até criticada pela "maioria", que se torna mais importante a defesa deste direito e desta conquista civilizacional.
No entanto, e como em tudo na vida, lado a lado com a possibilidade de exercer um direito vive o conceito de dever e de responsabilidade. No tema em apreço, há factores que me parece essencial considerar. O jornal dinamarquês que originalmente publicou os cartoons acompanhou-os de um editorial em que se dizia que os muçulmanos se tinham que habituar a que numa sociedade laica, livre expressão implica conviver com tudo, até com acções que podem "desafiar, blasfemar e humilhar o islão".
Os cartoons fariam assim parte de uma campanha aparentemente destinada a educar os muçulmanos, ensinando-os a viver numa sociedade plural e a respeitar o direito à opinião, por mais errada ou ofensiva que ela possa parecer.
Como a religião muçulmana, ou pelo menos a maioria dos seus líderes e praticantes, nunca demonstrou a mínima capacidade de encaixe perante actos que considerem contrários ou ofensivos aos seus preceitos (aliás tal como o judaísmo...) ninguém pode invocar surpresa pela dimensão e magnitude das reacções. No contexto actual, em que vivemos praticamente num clima de choque de civilizações/religiões, acho a publicação dos cartoons um acto irresponsável e contra-producente. Legítimo, sim, mas ainda assim revelador de evidente falta de bom senso, agravada por não ser facilmente perceptível aquilo que se pretenderia atingir.

Escusado será dizer que as ameaças prontamente levantadas pela "rua" muçulmana são, aos olhos de um ocidental, inaceitáveis e não devem passar sem condenação.
Se qualquer um dos governos dos países em que um ou mais jornais publicaram os cartoons, vier a pedir desculpa por um acto em que não teve nem responsabilidade nem direito de inerência, estará a criar um precedente muito perigoso.


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